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Times com mais de uma cara - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 08/09
O Cruzeiro, além de não ter um único artilheiro, faz gols pelo centro, pelos lados, pelo chão e pelo alto
O futebol pode ser visto e analisado de várias maneiras, como um jogo de habilidade, inventividade, técnica, estratégia, acasos, capacidade física, emocional, e de variados comportamentos humanos.
Sentimentos de medo, ambição, orgulho, alegria, tristeza, generosidade e tantos outros estão presentes. As equipes costumam ser contraditórias, intuitivas e científicas, surpreendentes e planejadas, reprimidas e audaciosas.
Tento ver um jogo com vários olhares. Muitas vezes, não consigo. Eles não se entendem. Um olhar se acha mais importante que o outro. São todos relevantes.
Um profissional do futebol e de qualquer área não pode ser tão arrogante, utópico e incrédulo, para desprezar a enorme importância da ciência esportiva e da estatística, nem tão pragmático e operatório, para ignorar a grande importância das experiências individuais, das particularidades, do subjetivo e do que não pode ser medido.
No futebol, há milhares de verdades, dogmas, frases feitas e chavões que não correspondem à realidade.
Ouço muito que um time tem a cara do treinador. Precisa ter a cara também dos jogadores. O Bayern, dirigido por Guardiola, amante das curtas trocas de passes e da infiltração de alguém para receber a bola livre e dentro da área, tem jogado como no ano passado, quando era dirigido pelo alemão Jupp Heynckes. O Bayern trocava também muitos passes, como hoje, porém, com mais velocidade, além de fazer muitos gols em jogadas aéreas.
Isso não significa que o Bayern despreze os conhecimentos e as orientações de Guardiola. O time usa várias armas ofensivas. Se quisesse jogar como o Barcelona, o Bayern teria de contratar um Messi, um Xavi. Os grandes times têm a cara dos técnicos e, principalmente, de seus principais jogadores.
O Cruzeiro, como o Bayern, respeitando as grandes diferenças técnicas, também faz muitos gols pelo chão, trocando passes, e pelo alto, em bolas cruzadas.
O Barcelona, com Neymar, terá também mais de uma cara. Já deu sinais de que vai usar mais os dribles e as jogadas em velocidade, nos contra-ataques.
Na final da Copa das Confederações, o Brasil parecia o Bayern do ano passado, que goleou e eliminou o Barcelona, base da seleção espanhola. Será que o Brasil vai repetir essa grande atuação no Mundial, já que devem estar presentes os mesmos favoráveis fatores extracampo?
Contra a fraquíssima Austrália, foi mais uma ótima atuação do Brasil. Os gols e a maioria das chances nasceram na recuperação da bola, com frequência, no campo do adversário. É a marcação por pressão, a grande arma estratégica do time. As excelentes atuações de Jô, Bernard, Ramires e Maicon reforçam minha opinião de que o Brasil só tem três titulares que fazem muita falta, Neymar, Thiago Silva e Marcelo.
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