Trabalho, inflação e investimentos - JOSÉ PASTORE
Geral

Trabalho, inflação e investimentos - JOSÉ PASTORE


O Estado de S. Paulo - 04/06

Apesar da recente desaceleraçao do processo de geração de emprego, o Brasil ainda enfrenta o problema da falta de mão de obra decorrente do atual modelo de consumo e da nova dinâmica demográfica.

O modelo de consumo se baseou até aqui no aumento do poder de compra de classes de renda mais baixas, que passaram a consumir bens duráveis, inclusive casas populares, e variados serviços, o que aumentou a necessidade de trabalhadores para construção civil, comércio em geral, educação e saúde, alimentação fora de casa, serviços pessoais, entretenimento e até turismo.

Para atender à nova demanda, foram recrutados muitos empregados, a maioria de baixa qualificação. Mas, por serem escassos, seus salários e benefícios cresceram acima da produtividade, elevando substancialmente o custo unitário do trabalho. Como comércio e serviços, na sua maior parte, estão livres da concorrência de importados - o contrário do que ocorre na indústria -, os aumentos de custo unitário do trabalho foram repassados aos preços, o que explica em grande parte a disparada da inflação dos serviços, que ficou bem acima da inflação geral.

A escassez de mão de obra decorreu também da forte queda da taxa de fecundidade das últimas décadas. Apesar das inegáveis oportunidades proporcionadas pelo bônus demográfico, o Brasil já enfrenta o problema da falta de jovens para trabalhar. Na outra ponta da pirâmide etária há também uma redução dos que têm mais de 60 anos que pararam de trabalhar mais cedo. No conjunto, diminuiu a oferta de pessoas para o trabalho.

No pressionamento da inflação há ainda o papel de outros fatores de natureza trabalhista. A nova regra que exige que os caminhoneiros dirijam quatro horas e descansem 30 minutos, por exemplo, elevou o custo do frete de produtos agrícolas, rebatendo no preço dos alimentos. Pesaram também aumentos de salários e de benefícios negociados nos supermercados bem acima da inflação e da produtividade.

A inflação dos serviços atingiu também a indústria, pois as fábricas compram inúmeros serviços que tiveram seus preços elevados, como as atividades de conservação e limpeza, manutenção, transporte, contabilidade, recursos humanos e outros. A indústria foi igualmente pressionada por salários e benefícios mais altos, resultantes da mesma falta de mão de obra e do efeito demonstração dos demais setores. Ali, também o custo do fator trabalho subiu muito mais do que a produtividade, com forte impacto no custo unitário.

Ocorre que os bens industriais enfrentam a concorrência dos estrangeiros - tanto aqui como no exterior -, o que impediu as empresas de repassarem para os preços a elevação do custo unitário do trabalho. Sua única saída foi bancar a elevação do custo do trabalho com o lucro, o que explica em grande parte a redução das margens e a dminuíção dos investimentos. De 2010 para 2011, o Brasil caiu do 38.° para o 51.° posto entre 60 países no campo da competitividade.

Vê-se que por trás da disparada da inflação e dos minguados investimentos esteve presente até aqui o fator trabalho, que se tomou escasso, caro e de baixa produtividade. Bem diferente é o quadro nos países avançados. É verdade que todos eles passam por grave crise. Mas, tanto nos Estados Unidos como na Europa e no Japão, a produtividade do trabalho tem se elevado de maneira expressiva e bem além dos aumentos de salários e benefícios. Na China, os salários aumentaram muito, mas a produtividade é crescente.

Como será difícil contar com uma redução expressiva de salários e benefícíos no curto prazo, para o Brasil resta aumentar a produtividade, o que depende da remoção dos conhecidos constrangimentos estruturais e de uma melhoria da qualidade da educação. Só assim podemos aspirar a chegar a uma economia realmente competitiva.




- Decisões Erradas - Affonso Celso Pastore
O ESTADÃO - 24/08 Embora o governo insista que "tudo vai bem", há uma forte desaceleração do crescimento brasileiro. Ela não deriva apenas de uma queda na demanda agregada. É predominantemente uma consequência da queda abrupta do crescimento da...

- Uma Trilogia Maldita JosÉ MÁrcio Camargo
O ESTADO DE S.PAULO - 09/08 Os indicadores da economia brasileira continuam dando sinais muito ruins. A produção industrial caiu 6,9% ao ano e todos os dados disponíveis até o momento apontam para uma queda do PIB no segundo trimestre de 2014. Ainda...

- A Armadilha Do Salário Mínimo - JosÉ Pastore
O Estado de S.Paulo - 22/04 É inegável que grande parte da redução da desigualdade social no Brasil deve ser creditada à forte valorização do salário mínimo. A fórmula de reajuste do salário mínimo leva em conta a inflação do ano anterior...

- O Trabalho No Natal... E Depois - JosÉ Pastore
O Estado de S.Paulo - 17/12 Durante as festas de fim de ano, o comércio sempre contrata um grande número de pessoas para trabalhar temporariamente. Neste ano, porém, a contratação está mais difícil. Há mais vagas do que candidatos. O que pode...

- Desenvolvimentismo Sem Consistência - JosÉ Luiz Oreiro
Valor Econômico - 18/06 A performance macroeconômica durante os dois primeiros anos da presidente Dilma tem sido decepcionante. O crescimento econômico foi medíocre, ficando abaixo de 1,5% ao ano na média 2011-2012. A inflação permanece elevada...



Geral








.