Eu nunca tinha comido bolo de cenoura, mas este ano tudo mudou. A proprietária da casa que alugo em Floripa fez um bolo e insistiu que eu ficasse com um pedaço. Eu aceitei, mais por educação. Afinal, esse negócio de profanar chocolate não é comigo. Mas não é que provei e gostei? Pra começar, não havia o menor vestígio cenourífico. Gostei tanto que pedi a receita pra tentar fazer o bolo em Joinville.
O maridão e minha mãe me olharam estranho. Agüentei comentários como “Bolo de cenoura? Você?!”. Mandei o maridão comprar todos os ingredientes e limpar quatro cenouras grandes. Não sei, é descascar cenoura que se fala? Você pode perguntar por que eu mesma não fiz esse trabalho escravo. Bom, digamos que eu era o cérebro por trás da receita. Mas não pense que não tive participação no trabalho braçal. Por exemplo, quem ligou o liquidificador? Euzinha. Quem ficou xingando quando o liqui se recusou a se mexer? A própria. Pus a massa numa forma untada (eu que untei!), e provei a colher. Meu primeiro erro. Quando você seguir uma receita, não se deixe levar pelo otimismo exacerbado. Se você provar a massa crua e ela estiver detestável, não prossiga. Imaginei que, depois de assado, o bolo melhoraria. Ledo engano. Pior ainda: se você provar o bolo pronto, só faltando a cobertura de chocolate, e não conseguir encarar nem umas migalhas, por que desperdiçar o chocolate? Na vã tentativa de salvar o bolo, joguei um monte de cobertura nele e levei um pedacinho pro maridão. Sabe quando a pessoa fica mastigando, mastigando, e não se atreve a engolir? Foi assim. O maridão jurou que depois vai tentar de novo, misturando o troço com sorvete e shoyu, pra ver se desce. Eu pedi, pelo amor de Deus, pra que ele dissesse algo que levantasse minha auto-estima, e ele: “Sua habilidade com utensílios domésticos é impressionante”. Experiência culinária semelhante só quando eu, ainda adolescente, fiz uma torta de café que meus amigos gostaram muito. Tanto que jogaram futebol com ela, chuif.
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