Ele tinha feito um mergulho anterior e decidiu voltar a uma área menos turva do mar para tentar ver mais peixes -- a profundidade da água não ultrapassava dois metros no local segundo Márcio. Quando percebeu o tubarão, ele já estava a aproximadamente 40 a 70 cm de distância. "Claro que eu gostaria de ver um peixe grande. Não recebi orientação para não tocar o animal, mas também nunca tive vontade de fazer isso", contou. "Fiz um giro de 360º, meio agachado, e, quando me posicionei novamente de frente para o oceano, o tubarão estava na minha frente. No segundo chacoalhão ele já arrancou o braço. Bati nele pra tentar me soltar, mas já tava sem o braço. Naturalmente eu afundei um pouquinho e comecei a nadar", lembra ele, sereno.
Ao fugir do animal, tentando voltar para a areia, ele avisou à esposa que saísse da água e levantou o braço para evitar sangramento. "Pensei que ele podia me atacar novamente mas em nenhum momento pensei em desistir", afirma. Pessoas que estavam na praia ajudaram a socorrer Márcio depois do ataque. Um rapaz que estava na praia ajudou a fazer um torniquete. Além disso, médicos que estavam de férias na ilha atuaram no atendimento ao rapaz. "Esses primeiros socorros foram fundamentais para que eu sobrevivesse", conta.Márcio contou que é destro e demonstrou consciência e otimismo. "Fico pensando que não vai resolver ficar triste e abatido. São desafios novos que vou enfrentar, principalmente na minha profissão, mas acho que vou conseguir. Vou sofrer um pouco mais porque não vou ter a mão direita. Vou ter que fazer cirurgia para ajeitar o osso, depois outra para tampar melhor e depois vou procurar ver se consigo usar prótese", planeja.
Mesmo depois do acidente, Márcio diz que não só recomendaria Noronha como voltaria à ilha. Quando chegou à ilha, conta que ouviu instruções sobre tubarões, que "as espécies lá não atacavam, não eram 'carnívoras'. No máximo iam morder o braço dele achando que era um peixe... E foi bem isso que aconteceu", disse, rindo.
André Ackel, diretor adjunto da unidade hospitalar, prevê que Márcio passe mais 7 a 10 dias sendo tratado com antibióticos para poder fazer mais um procedimento cirúrgico. Vai cortar um pouco do osso e fechar com a pele de modo que não fique nenhuma parte muscular exposta. "A gente tem que melhorar o quadro antes de fazer esse procedimento definitivo", afirma. De acordo com Akel, Márcio ainda corre risco de apresentar infecção.
Praia interditada
A Baía do Sueste, em Fernando de Noronha, local em que houve o ataque, permaneceráfechada por pelo menos 48 horas, segundo a fiscalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Representantes do órgão devem avaliar o caso, juntamente com profissionais do Ibama, do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e com pesquisadores que conhecem a ilha para entender como o ataque aconteceu e, assim, liberar o acesso da área à população.
Segundo informações coletadas pelos representantes do Cemit, havia, no momento do ataque, condições propícias para a interação entre o turista paranaense e o tubarão. ?Suspeitamos que a espécie que atacou o turista é migratória, não é típica da ilha, porque a probabilidade de ataque das espécies naturais de lá é baixa. Outras condições como a maré alta e a água turva também podem ter aumentado a probabilidade de o turista ter se deparado com o tubarão?, explica o Coronel Ramalho.
Baía do Sueste é uma das praias mais frequentadas por turistas em Fernando de Noronha
(Foto: Ana Clara Marinho/TV Globo)Entenda o caso
Na última segunda (21), o paranaense de 32 anos foi atacado por um tubarão na Baía do Sueste, em Fernando de Noronha. A vítima recebeu os primeiros socorros no próprio arquipélago e viajou para o Recife na manhã da terça (22) para atendimento no Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, área central do Recife. Durante o ataque do animal, a vítima teve a mão direita e parte do antebraço amputados. Após cirurgia no HR, o paciente teve quadro classificado como estável e foi transferido para um hospital particular na Ilha do Leite, no Recife.
Estudos
Na terça (22), o engenheiro de pesca Leonardo Veras e a bióloga e fotógrafa Zaira Mateus fizeram um mergulho na Baía do Sueste, onde tudo aconteceu, autorizados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gerencia o parque nacional marinho, para tentar entender o ocorrido. De acordo com o pesquisador, foi um tubarão tigre.
O engenheiro de pesca, morador da ilha e curador do Museu do Tubarão, também em Noronha, explicou como foi feito o estudo. ?O depoimento dele [o turista] deixou bem claro que era um tubarão tigre?, atesta Veras. Segundo ele, essa espécie migra longas distâncias, frequenta regiões oceânicas, costeiras e até estuários. ?Temos animal marcado aqui em Noronha que já foi encontrado na costa da África; marcado aqui e que já foi bater na Paraíba. Ele tem uma distribuição geográfica muito grande e errante?, analisa.
Este foi o primeiro ataque registrado na ilha nos últimos 23 anos, desde que começou o monitoramento. Em Pernambuco, entre o Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul, e Paulista, no Litoral Norte, foram 61 ataques, nos quais 24 pessoas morreram.
fonte:http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/12/bati-nele-para-soltar-mas-ja-estava-sem-braco-diz-vitima-de-tubarao.html
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