UM DESABAFO, COM LICENÇA
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UM DESABAFO, COM LICENÇA


Hoje foi o primeiro dia desde que comecei o blog, há quase oito anos, em que chorei por causa de alguma coisa relacionada a ele (tirando os relatos terríveis que recebo e que me fazem chorar). Talvez eu esteja ultra-sensível, talvez esteja com TPM, sei lá.
Não chorei por causa de qualquer coisa que a corja dos mascus disse ou fez. Afinal, eu venho sendo ameaçada de morte, estupro e desmembramento por eles há mais de quatro anos. E continuo sem medo. 
Mas eu me senti -- e estou me sentindo -- muito sozinha. E fiquei pensando como seria ótimo pra minha carreira, pra minha felicidade, pro meu tempo livre, se eu saísse da internet. Se eu desistisse mesmo do blog e me recolhesse a minha insignificância, ou a minha significância bem restrita. 
Não é a primeira vez que penso em largar o blog, óbvio. E todo mundo que tem um blog pensa nisso.
 

Mas é triste. Você se dedica a um blog há quase oito anos (que em termos de internet é uma eternidade), faz atualizações diárias, gasta um tempão, tenta ajudar um monte de gente, se esforça pra ser o mais inclusiva e honesta possível. E pra quê? Pra reaças sem o menor comprometimento com a verdade espalharem um site falso em seu nome. Um site criado para me difamar por misóginos que me ameaçam e me atacam há anos.

Eu percebi que meu blog, o único que tenho, que é este aqui, nunca vai alcançar este nível de divulgação. Duvido que algum blog feminista viralize desse jeito. Mas pra viralizar site fake difamando feminista, é um instantinho. Basta um ou dois reaças com tuítes e páginas no FB mais movimentadas e pronto, um site falso defendendo ideias que não têm nada a ver com as suas (mas que leva o seu nome) fica mais popular que o seu blog, aquele a qual você se dedica há 8 anos.

E até entendo pessoas que não te conhecem ou que nunca ouviram falar do seu blog acharem que o site de ódio é seu. Vai saber a ideia pré-concebida do que elas acham das feministas. Vai que alguém olhe o print ao lado (tirado do site de ódio no meu nome; eu acrescentei os rabiscos) e pense: "Claro que é coisa de feminista!". Mas gente que já leu o meu blog uma vez na vida perguntar "É seu?" dói.
 

Vou contar o que aconteceu entre ontem e hoje. Nem sei se alguém vai ler, se alguém ainda lê posts tão longos, se alguém se importa. 
Ontem à noite, depois de publicar meu post sobre esse imbróglio todo, recebi um telefonema de um completo estranho. Na minha casa. 
Porque, lógico, os mesmos que espalham mentiras sobre mim também espalham verdades -- como meu endereço residencial, meu telefone, fotos da frente da minha casa. O telefonema era de um senhor que queria entender o meu blog. Não o meu blog de verdade -- quem vai querer entender um blog feminista de verdade? --, mas o meu blog falso que não é meu. Expliquei a ele, do jeito mais paciente, que aquilo não era meu e que tinha sido feito para me difamar. E recomendei o meu blog, o de verdade. Ele não pareceu se interessar muito.
Um dos posts de hj
do site fake no
meu nome

Hoje à tarde ligou outro cara, também pra minha casa, pedindo explicações sobre o blog. Repeti o mesmo que pro outro senhor. Disse que era só ele procurar Escreva Lola Escreva que o Google o levaria ao meu blog de verdade, e aí ele poderia começar a entender o que aconteceu. Não é que o cara me liga dois minutos depois, dizendo que encontrou o meu blog, e começa a ler um texto odioso do site fake? Eu interrompo e pergunto: "Este é o Escreva Lola Escreva?" E ele: "Não, é o Lola Escreva Lola" (um dos nomes do site fake).
 

Uma jornalista também me ligou pra falar sobre feminismo na internet, mas não relacionado ao mais recente ataque sofrido. Eu disse que o dia em que eu estou pensando em largar o blog não é o melhor dia pra me entrevistar sobre o blog. Ela ficou de ligar amanhã. Como diz Scarlett, "Tomorrow is another day!"
Hoje de manhã já havia ameaças do Marcelo nos comentários daqui e também no chan dele.
"Todo mundo que apoiar a Jabba terá o nome envolvidos, todos", promete o criminoso
A promessa era arrasar não só a minha vida, mas a de qualquer um que me apoiasse.
E havia também comentários do tipo "Você merece tudo isso por não ser uma boa feminista!", aparentemente escrito por... outra feminista.

E os reaças típicos dizendo o de sempre: que eu criei o próprio site falso para me vitimizar e atrair atenção para o meu blog (o de verdade, imagino, se bem que o de mentira é muito mais competente nessas coisas de atrair atenção).
 

Que mais? Numa aula na parte da manhã, constatei que nenhuma aluna ou aluno acompanhava o meu blog. Mas uma ou duas haviam visto o blog fake. Achavam que era falso. 
Andando, no caminho de volta à casa, um rapaz (bonitinho!) pergunta na rua: "Você é a Lola?" Eu digo que sim, e ele diz que ele e a namorada haviam lido um texto horrível no meu nome mas achavam que não era meu. Ou era?

Chego em casa e encontro minha mãe aguando plantas. Ela me pergunta "Tudo bem?" e eu respondo: "Não muito". E ela não tem a menor ideia do que está acontecendo, porque, né, imagina se minha mãe vai ler meu blog (melhor não ler mesmo, pra não ficar sabendo das ameaças de morte feitas também a ela, uma senhora de 80 anos).

Boletim de ocorrência feito
contra site falso em 8/10
O maridão tampouco é de grande valia no quesito "apoio contra os ataques". Ele prefere nem ouvir falar de mascus, e mal sabe quem é Olavo de Carvalho. Mas ele não é de luta. Sua luta é no xadrez. E pensar que no feriado, na praia, antes de eu saber do mais recente ataque, eu fantasiei com ele sobre minha aposentadoria, daqui a sete ou oito anos, se tudo der certo. Eu disse que não tinha vocação pra ser mártir, e que quando eu me aposentasse, eu iria me aposentar mesmo, de tudo (aulas, palestras, blog). Porque eu já teria dado a minha minúscula contribuição na tentativa de fazer deste um mundo um tiquinho melhor.

Mas voltando a hoje. Chego do trabalho, no almoço, e vejo que há um email da Ouvidoria da UFC para mim, pedindo esclarecimentos porque recebeu cinco denúncias contra mim. Tipo esta, de uma moça que realmente acredita que eu realizei um aborto em uma aluna no campus!

Ou esta, de alguém que parece ser terminantemente contra o aborto, exceto em alguns casos:

Respondi à Ouvidoria que o site não é meu, enviei cópia do boletim de ocorrência que fiz contra o site fake em 8 de outubro, e ainda encaminhei um email de maio. Porque os mascus já haviam me denunciado à Ouvidoria em maio (acho que era por eu rasgar bíblias ou fumar em sala, não tenho certeza -- as "denúncias" mascus já foram mais divertidas).

Ah, ontem também recebi um email de um outro mascu, Robson Otto Aguiar, que vive me mandando emails de ódio como este. Ele já está sendo processado por uma deputada estadual em seu estado, Mato Grosso, e eu fiz BO contra ele e vou processá-lo por vários vídeos que ele fez a meu respeito, me acusando de crimes como desviar verba superfaturada pros livros da biblioteca da UFC para que eu comprasse carrões e apartamentos (mascus realmente sabem como universidades funcionam).

Hoje este ser desprezível gravou outro vídeo (que vou divulgar, porque o pior pra essa gente é que outras pessoas saibam como eles são).

O Humaniza Redes entrou em contato comigo hoje, e eu enviei a eles, por email, as informações que tinha sobre o site falso. E, à noite, a Revista Fórum publicou uma matéria bem legal sobre a nova armação contra mim. Além disso, recebi um pouco mais de orientação de uma advogada, e uma ativista que também já foi ameaçada de morte me mandou alguns contatos de delegadas em Fortaleza. Vamos ver.


Um tuíte que escrevi, pedindo divulgação da minha resposta, foi bem retuitado. E, no Facebook, algumas páginas também se encarregaram de combater a mentira. 
Recebi alguns apoios importantes, mas foram de pessoas individuais. De praticamente todos os coletivos feministas, o mais completo silêncio, provando, mais uma vez, que o ditado "mexeu com uma, mexeu com todas" é lindo na teoria, mas na prática só funciona nas panelinhas. E eu não pertenço à nenhuma.
Página do Mamatraca no FB

Pessoalmente, acho um erro as pessoas (principalmente os coletivos feministas) não se envolverem. Parecem não compreender que esses ataques e ameaças que sofro não são por eu ser Lola, mas por eu ser feminista. A maior parte das pessoas que me ataca odeia o feminismo, todas as feministas, vocês também, e vocês também podem ser atacadas (muitas já são). Parafraseando um velho grito de guerra: "Você aí parada, também é odiada". 
Mas, enfim, este foi meu dia. Não dá vontade de estar na minha pele, né? Lógico que não vou sair da internet agora, porque isso seria deixar o terreno livre para ainda mais calúnias e difamações, sem chance de defesa. Mas cedo ou tarde eu saio (escreverei um textão antes; sou contra abandonar o barco sem explicar ou dizer adeus). E quando este dia chegar, mascus, reaças e anti-feministas em geral cantarão vitória. Inimigos, afinal, são sempre fiéis no seu ódio.




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