UM ET NA MINHA VIDA
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UM ET NA MINHA VIDA


Choque de gerações: a gente que viu ET no cinema chegou à lua antes.

Sabe aquele velho ditado dos anos 60, “Don't trust anyone over 30” (não confie em ninguém com mais de 30 anos)? Eu tava pensando e vi que não posso confiar em ninguém com menos de, hmm, deixa eu fazer as contas, tá difícil, o quequié, nunca viu, eu faço Letras?, hmm, tá, talvez seja isso, 28 anos?! Ok, meus leitores(as) jovens, não é que não possamos ser amiguinhos e nos dar muito bem, é só que vocês não estavam vivos quando estreou ET. Isso foi em 82. Por isso nessa minha conta incluí gente que já estava viva, pero no mucho. Sei lá, vai ver que nem deixavam você entrar no cinema ainda.
Claro que só estou falando por mim, mas ET foi um marco pra minha geração. Tanto que muitas das senhas bancárias minhas e do maridão são 1982, e o nosso modo de lembrar é “ano do ET”. (Não se preocupem que eu já troquei as senhas. Algumas eram 1984 também, por causa do Orwell e do Grande Irmão. Somos muito criativos). Eu devia ter 14 ou 15 quando ET estreou, e o filme foi um estouro. Só se falava nisso. Tinha bonequinho à venda, ET com coração que acendia, de pescoço que aumentava, o escambau. Todo mundo, mesmo quem não falava uma palavra de inglês, imitava o ET phone home, com aquela voz de extraterrestre e tudo. Tinha tanta, tanta coisa na mídia que eu fiquei sabendo tudo sobre a anã que fez o ET (a mesma de Poltergeist, se não me engano. Isso foi antes dos efeitos especiais computadorizados) e caí na ladainha (imagino) que a Suécia (!) tinha proibido ET pra menores de 12 anos porque o filme gerava desconfiança contra os pais (tem a maior cara de lenda urbana, mas repeti isso durante anos). Lembro que fui ao cinema Gemini, em SP, ver ET várias vezes com meus pais e meus irmãos. Cinemas completamente lotados. Filas de Titanic, sabe? Mas não era cool uma adolescente se sentar com os pais, então eu me sentava longe. Lembro até hoje de um grandalhão do meu lado que chorou o filme inteiro. Quer dizer, eu também causei um dilúvio. Era uma comoção coletiva. Por isso, se você não viveu isso, você perdeu algo muito importante.
Ok, você pode dizer, mas esses filmes-eventos tem um por semana agora. Tem. AGORA. E como é um depois do outro, a gente nem lembra do filme-sensação da semana passada. Mas em 82 era diferente. Não existia internet. Pô, não existia nem computador. Só a NASA tinha computador. Outro dia o meu orientador foi lembrar como era digitar uma tese de doutorado com máquina de escrever manual. Tinha página 187A, 187B, 187C... E a revolução que foi a máquina de escrever elétrica?! Mas saí da rota. O que eu quero dizer é que, antes da invenção da internet, pra todo mundo estar falando da mesma coisa é porque o sucesso era estrondoso mesmo.
Uma vez, muitos anos atrás, fui apresentada por uma amiga a um jogador de xadrez austríaco com tiques nervosos. Foi a única pessoa que conheci na vida que havia nascido exatamente na mesma data que eu, 6/6/67 (três seis, número do demo). Ele não era muito simpático. Mas sei lá por que motivo a gente foi falar de ET e ele, muito sério, disse: “ET? O que é isso?”. E a gente falava: “ET, ué, o filme do Spielberg”. E ele continuava com a cara confusa e dizia, muito sério, “Não conheço”. Eu não aceitei aquilo. Declamei todas as falas mais famosas do filme pra ele. Cantei a musiquinha. Acho que até fiz um desenho do extraterrestre (tá, isso eu inventei). E ele: “Não, nunca ouvi falar”. Até hoje tenho certeza que ele estava tirando uma da minha cara, porque é impossível que alguém que era adolescente em 82, num país que tinha cinema e TV, não conheça ET. Tente fazer isso da próxima vez que alguém falar de, por exemplo, Cavaleiro das Trevas. Faça uma cara de perplexidade, pergunte “O que é isso?”, e conclua com um “Nunca ouvi falar”, e você vai ver se a pessoa não vai chamar os homens de branco pra te internar no ato.
Francamente, assim como o marco de uma geração foi “onde você estava quando o Kennedy foi assassinado?” (e a piada do ótimo Harry e Sally mostra uma jovem querendo saber “Ted Kennedy foi assassinado?!”), e o do pessoal nascido mais recentemente seja “Onde você estava quando Nova York foi atacada?” e, talvez, se o Obama fizer um governo marcante, “Onde você estava quando Obama foi eleito?”, pra minha geração o marco foi mesmo o ET. Tá, parece total alienação, mas também não dá a impressão de um mundo menos conturbado, em que meninos voando de bicicleta eram o assunto do momento? Pior é que era só impressão.Já falei que cheguei antes à lua que os jovenzitos aí?




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