Um voto pela reconciliação nacional - EDITORIAL O ESTADÃO
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Um voto pela reconciliação nacional - EDITORIAL O ESTADÃO




O ESTADO DE S.PAULO - 26/10

A responsabilidade que a eleição presidencial de hoje coloca sobre os ombros dos cidadãos brasileiros se estende para muito além dos quatro anos do novo mandato do chefe de governo. Ao cabo de 12 anos do PT no poder e de uma campanha eleitoral em que predominou o mais inescrupuloso marketing em prejuízo do embate de ideias, o Brasil se acha dividido. Por enquanto, apenas em termos eleitorais.

Mas o terreno está ameaçadoramente preparado para fazer germinar a cizânia social. Mais quatro anos de PT podem significar a transformação da cada vez mais aguda hostilidade da polarização "nós" versus "eles" num conflito social escancarado cuja primeira vítima será a democracia.

Essa perspectiva assustadora será a consequência natural da política de deliberada divisão da Nação sobre a qual o lulopetismo tenta consolidar seu projeto de poder. O PT, criado há 35 anos com a generosa ideia de promover o fim das injustiças sociais, perdeu-se ao longo da jornada. Seus melhores quadros, plenos de idealismo político, abandonaram a legenda ou foram dela descartados ao sabor das conveniências dos donos do partido.

O PT transformou-se numa enorme máquina que, para permanecer no poder, se aliou àqueles que antes combatia ferozmente como inimigos do povo. E, nessa linha, não tem o menor escrúpulo de focar sua ação, tanto na vida partidária como no exercício do poder, tão somente naquilo que rende votos. O discurso petista, do qual Lula é o principal mentor e melhor exemplo, tem três matrizes: dizer exclusivamente o que as pessoas desejam ouvir; quando na defensiva, assumir o papel de vítima; e, na ofensiva, tratar os adversários como inimigos a serem destruídos.

Em sua defesa, o PT não pode nem mais alegar que a mudança de rota em relação ao curso originalmente traçado ocorreu por imposição das circunstâncias e da necessidade de garantir com pragmatismo a governabilidade em benefício dos despossuídos. A tal história dos fins que justificam os meios.

Esse argumento desmorona quando todos os indicadores sociais e econômicos revelam que os últimos quatro anos de governo petista, sob o comando de Dilma Rousseff, significaram retrocesso. O Brasil está hoje muito pior do que quando a atual candidata à reeleição assumiu o poder.

Nessas circunstâncias, manipular importantes realizações petistas dos últimos 12 anos - pois é claro que existem, principalmente na área social - como se fossem obras do incompetente governo Dilma é um dos embustes a que o marketing eleitoral companheiro recorreu durante a atual campanha. Mas a peça de resistência da campanha eleitoral petista é aquela estocada no departamento dos recursos escusos. Primeiro, a tentativa - que contra Marina Silva deu certo no primeiro turno - de destruir a imagem do adversário com ataques infames e mentirosos. A tática foi insistentemente repetida agora contra Aécio Neves.

O mais infame da campanha lulopetista, no entanto, é o discurso em que os dirigentes do partido, imitando Lula, se especializaram: a instigação do conflito social, colocando "nós" contra "eles", e situando o PT como o último bastião de resistência do povo oprimido contra a ambição desmedida e a insensibilidade das "elites".

Qual o sentido de Lula declarar, desnudando sua natureza, que ao "agredir as mulheres" nos debates eleitorais Aécio Neves demonstrou que é capaz também de "pisar nos pobres"? Ou ao classificar o candidato tucano de "filhinho de papai"? E de equiparar seus adversários eleitorais a nazistas? É assim que se dissemina o ódio entre pessoas que deveriam, civilizadamente, apenas expor firmemente suas divergências programáticas com adversários políticos.

Quando a divergência se transforma em ódio, o caminho está aberto para o agravamento de tensões sociais e elas podem se tornar explosivas.

Hoje, cada brasileiro tem a oportunidade de conter essa ameaça, votando no candidato que se propõe - e está credenciado para a tarefa - a reconciliar o Brasil consigo mesmo: Aécio Neves.




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