Por Bepe Damasco, em seu blog: Não faz muito tempo o ex-ministro Delfim Neto se referiu às agências de classificação de risco como "agências 171". Imaginem o que leva Delfim, um homem que está a anos luz de ser considerado de esquerda, a fazer uma avaliação tão negativa de agências de rating como Standard & Poor's, Moody's e Fitch?
Exatamente o papel delas na economia globalizada, que é o de avaliar a capacidade dos países e empresas de saldarem suas dívidas, e o consequente nível de solvência das nações, sempre a partir do ponto de vista dos interesses do mercado financeiro e do rentismo.
Por isso, gozam de grande prestígio na mídia ocidental e, como são tidas como referência por toda sorte de endinheirados e especuladores ao redor do planeta, se acham no direito de decidir quem é bom ou mau pagador.
Por trás do biombo tecnocrático das notas atribuías aos países, mero artifício para dar conotação científica a bobagens como BBB- e BB+, as agências escondem sua única finalidade : proteger o dinheiro de quem se nega a investir na produção e aposta na espiral especulativa global.
Emprego, renda, produção, salário, desenvolvimento são palavrões para os espertos representantes dos sanguessugas que inventaram essas agências. Não é à toa que economistas ligados a bancos, corretoras e fundos de investimento, ou seja, os adoradores das agências, só enxergam um único problema na economia brasileira : a "gastança" do governo.
Leia-se gastos com programas sociais. Gastos com quem precisa de fato do Estado, que são os mais pobres. No mundo ideal e dourado da elite brasileira, nenhum tostão seria "desperdiçado" para saciar a fome alheia, oferecer um teto a quem não tem e estudo para os menos favorecidos virarem a página da pobreza um dia.
No entanto, como o cinismo é a marca registrada dos conservadores brasileiros, é comum assistirmos gente que odeia os pobres e a pobreza derramar lágrimas de crocodilo diante das imagens chocantes da tragédia dos refugiados que tentam desesperadamente chegar aos países europeus.
O carnaval da mídia em torno do rebaixamento da nota do Brasil, e de várias outras empresas públicas e privadas, inclusive a Globo, já era esperado. O monopólio midiático não mede esforços para criar um clima de fim de mundo e jogar lenha na fogueira da campanha golpista contra a presidenta Dilma.
A julgar pelo cenário de terra arrasada causado pelo rebaixamento, o Brasil não existiria até 2008, quando em pleno segundo mandato do presidente Lula o país conquistou o tal grau de investimento, o selo de bom pagador. Se fosse assim, FHC não teria sequer governado, pois em seus dois mandatos prevaleceu sempre a nota baixa de mau pagador.
Se essas agências fossem sérias e voltadas para o estimular o desenvolvimento humano, os países seriam avaliados pelos empregos gerados, pelo aumento da renda, pelo investimento em programas sociais, pelas inovações tecnológicas, pelo combate à pobreza e pelo desenvolvimento sustentável.
Pensando bem, e os que frequentam jogos de futebol sabem do que estou falando, as arquibancadas dos estádios brasileiros, com seus coros e palavras de ordem politicamente incorretos, seriam os espaços adequados para mandar as agências 171 para o lugar que merecem. Escrevendo fica difícil.
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