Geral
Uma reconstrução inacabada - RUBENS RICUPERO
FOLHA DE SP - 18/08
A diplomacia brasileira pôs abaixo parte do velho edifício sem edificar em seu lugar uma casa nova
A diplomacia de Dilma deixa a impressão de reconstrução que retificou alguns erros da anterior, sem conseguir construir obra própria.
Era claro o que exigia correção: excesso de protagonismo, iniciativas temerárias em áreas distantes das prioridades do país, silêncio em relação a regimes violadores de direitos humanos, inspiração ideológica e sectária da política externa.
Certas mudanças vieram de fatos. A saída de um presidente carismático pôs fim ao protagonismo, enquanto a ruína da imagem internacional da economia brasileira impôs estilo diplomático mais sóbrio.
É mérito da presidente o retorno à defesa dos direitos humanos em situações como a do Irã. Também se deve a ela o esforço de redefinir a relação com os EUA em termos inovadores como o do programa Ciência sem Fronteiras.
Essa aproximação, que deveria culminar com a visita de Estado da presidente a Washington, foi vítima da espionagem da NSA. Não se pode censurar a decisão de suspender a iniciativa até que se restabeleçam condições políticas propícias.
A frustração de elemento importante como esse da reconstrução diplomática cria a sensação de um projeto em que se pôs abaixo parte do velho edifício sem edificar no lugar uma casa nova.
Da obra de demolição, resta intacta a ideologização da política sul-americana. A ela se acrescentaram monstrengos inéditos: a suspensão arbitrária do Paraguai do Mercosul como pretexto para precipitar o ingresso da Venezuela; o lamentável episódio do falso "asilo" ao senador boliviano Roger Pinto.
O que faltou edificar, porém, supera em muito o que ficou sem demolir. Esperava-se que uma tecnocrata objetiva como a presidente imprimisse à diplomacia a busca pragmática de resultados tangíveis.
A colheita é magra: nada se fez para renovar o Mercosul, abalado por crise de credibilidade terminal. O relacionamento comercial com o principal parceiro no bloco, a Argentina, tampouco teve melhora.
A diplomacia perdeu a capacidade até de formular proposta para superar a crise do Mercosul. Não tem outro horizonte além de se agarrar a uma união aduaneira que naufraga sem que o Brasil proponha ao menos um plano para salvá-la.
A mesma falta de imaginação criativa se nota na ausência de um gesto decisivo em direção a países como o México e seus companheiros da Aliança do Pacífico --Colômbia, Chile e Peru.
Somente no apagar das luzes do governo se decidiu retomar negociações iniciadas há mais de dez anos para um acordo de livre-comércio com a União Europeia.
Apesar de anunciada várias vezes, não se conseguiu definir até agora posição negociadora comum nem dar início efetivo às tratativas.
O que salvou a política externa de balanço constrangedor foi a reunião dos Brics em Fortaleza. A criação do banco de infraestrutura e do fundo de reservas veio da capacidade de construir consenso da diplomacia brasileira, ao custo inclusive da renúncia a ambições legítimas.
O resultado exemplifica o que teria sido possível obter se a mesma competência, despida de distorção ideológica, tivesse sido aplicada aos demais problemas.
-
O Fiasco Do Mercosul E A Diplomacia De Banquinho - Rolf Kuntz
O ESTADO DE S.PAULO - 26/07 Foi uma semana dura para a diplomacia brasileira e revoltante para os anões. Na quinta-feira, o governo de Israel ofendeu os baixinhos de todo o mundo ao descrever o Brasil como um anão diplomático. Três dias antes o presidente...
-
De Mãos Vazias - Editorial O EstadÃo
O ESTADO DE S.PAULO - 26/07 Estando ainda de mãos vazias, já que não alcançou nenhum relevante acordo de comércio exterior até o momento, o Palácio do Planalto busca algo que possa ser apresentado na campanha eleitoral. A sua última bala será...
-
Posições Discutíveis - Editorial O Globo
O GLOBO - 06/01 A política externa brasileira ganhou novos tons com o lulopetismo. Logo de início, Lula desconectou o Brasil da negociação em torno da Associação de Livre Comércio das Américas (Alca), denunciada como uma iniciativa americana para...
-
Brasil E União Europeia - Editorial O EstadÃo
O Estado de S.Paulo - 13/08 Empacadas há quase dez anos, as negociações de um acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia devem ser retomadas em breve, mas dificilmente chegarão a bom resultado, por falta de entendimento entre os parceiros...
-
Uma Fiesp Bolivariana? - Editorial O EstadÃo
O ESTADO DE S. PAULO - 20/06Ou o Brasil busca novos acordos comerciais ou ficará isolado, alertaram recentemente duas das mais importantes entidades empresariais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto de Estudos do Desenvolvimento...
Geral