Uma triste euforia na Zona do Euro
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Uma triste euforia na Zona do Euro


Por Flávio Aguiar, de Berlim, no sítio Carta Maior:

Uma volta por matérias publicadas na mídia germânica (“Hope in the Euro-Zone: Crisis-Hit Countries May Have Turned the Corner”, Spiegel International, 29/08/2012 e “Schuldenkrise: Europa kommt Zurück”, Benjamin Dierks, Mark Schrörs, Mathis Ohanian, Financial Times Deutschland, 28/08/2012) dá conta de que alguns setores e comentaristas já estão olhando com”discreta euforia” para uma possível “recuperação da Europa” a partir de 2013.

Essa recuperação beneficiaria ainda mais o setor de exportação da Alemanha, impulsionando mais ainda essa “locomotiva” da economia européia (como São Paulo se via frente ao Brasil, antes da Segunda Guerra).

Quais são os indicadores que promovem essa relativa alegria? Basicamente dois.

1) Para alegria dos experts desse tipo de pensamento, o custo da mão de obra despencou nos países do sul da Europa, na Grécia, Espanha e Irlanda. O caso mais “promissor” é o da Grécia, cujo custo da mão de obra caiu em 15% desde 2010.

2) O déficit da balança comercial desses países também caiu verticalmente: 54% só na Grécia, entre 2008 e 2011. Na Espanha, a queda foi de 50% e em Portugal, 40%. O da Itália, apontam os eufóricos, foi zerado. No dizer de Folker Hellmeyer, do Bremer Landesbank, a maioria dos países da região já teria feito ou estaria fazendo a lição de casa.

Tudo isso é baseado num estudo feito pela Deutsche Industrie- und Handelskammertag (DIHK), uma Câmara-Guarda-Chuva que congrega mais de 80 Câmaras regionais do setor, a pedido do Financial Times Deutschland (FTD).

A alegria é tamanha que a matéria do FTD veio ilustrada por uma ilustração de um “Capitão Europa”, paródia do “Capitão América” dos quadrinhos norte-americanos.

Bom, há alguns senões nesse percurso para um futuro róseo. Alguns, o próprio estudo aponta. Em todos esses países, o crédito foi brutalmente contraído. Naquele período de 2008 a 2011 a economia grega encolheu em 27%.

Mas há um pouco mais. Devagar, o desemprego alemão deu arrancos para cima: 6,8%, enquanto o crescimento germânico vem passando de um andante allegro para um ralentando adagio.

As exportações européias vêm dependendo cada vez menos da Europa, onde as importações de produtos germânicos pelos demais países vem caindo, despencando, na verdade, nos países do agora chamado “sul” da Europa, o que ajuda a explicar a diminuição daqueles déficits das balanças comerciais. A maior queda foi em Portugal: 14,3%. 9,3% na Espanha, 9,2% na Grécia e 8,2% na Itália.

Em compensação, as vendas para os BRICS, países que não estão seguindo a receita “austero-autoritária” da hegemonia da U. E., vem ganhando cada vez mais corpo na economia alemã: aumentos de 10%, em média, 14,8% para a Rússia, 11,7% para o Brasil, 8,4% para a China, e ainda mais 20% para o Japão e 18% para os Estados Unidos.

Mas é claro que nada disso altera a “alegria” por se ver que o amargo remédio para a crise está triturando salários e massacrando populações vistas como “perdulárias”. Durma-se com uma euforia dessas.




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