Vale a pena voltar ao passado?
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Vale a pena voltar ao passado?


Por João Sicsú, na revista CartaCapital:

O governo Dilma começou mal. Tirou a economia da trajetória vigorosa do período 2007-2010. Em 2011, elevou o superávit primário, subiu a taxa de juros básica (Selic) e deixou o câmbio apreciar. Lembrou a administração dos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Lembrou o tal tripé que faz qualquer economia tropeçar e cair. Os resultados foram modestos. O Brasil cresceu 2,7% em 2011. Foi um tranco em uma economia que havia crescido 7,5% em 2010.

Em 2012, ainda sob os efeitos de uma política econômica contaminada pelo tripé de FHC, o país se deparou com a crise internacional e apenas suspirou, cresceu 0,9%. Passados os efeitos malignos daquela política, ao final de 2012 teve início uma recuperação, ainda modesta. Um novo cenário tem se conformado em 2013. O investimento tem mostrado sinais de recuperação. A inflação está moderada. E a política fiscal não tem sido contracionista. Destoa a política monetária do Banco Central, que tem elevado a taxa de juros. Mas isto não é decisivo – afinal, durante o governo Lula, Henrique Meirelles sempre manteve a taxa de juros em patamares elevados e ainda assim a economia crescia. O Banco Central parece estar desinformado.

Os resultados apurados em outubro referentes a agosto e setembro têm mostrado que a tendência de recuperação está se consolidando. A inflação está desacelerando e tende a fechar 2013 em 5,8% - a menor inflação dos últimos três anos. O volume de vendas do comércio varejista cresceu mais que 6% em agosto. O número de novas vagas para trabalhadores com carteira assinada que decepcionou em agosto, fez uma forte recuperação em setembro (211 mil novas vagas). As contas públicas estão consolidadas. Em agosto, a dívida líquida do governo foi de 33,8% do PIB. As taxas de desemprego são baixas: em agosto foi 5,3% e setembro, 5,4%.

É diante deste cenário positivo que está se conformando, que ouvimos vozes pedindo a volta do tripé da época de FHC. O tal tripé é o seguinte: altas taxas de juros (para controlar a inflação e para satisfazer os bancos), elevados superávits primários (para acalmar o mercado financeiro credor do governo) e câmbio volátil e depreciado (que dificulta a comercialização da produção industrial doméstica). Não tivemos a volta do tripé no início do governo Dilma, apenas uma pequena amostra. Durante o Governo FHC, o tripé conformou um modelo de semi-estagnação econômica.

Vale a pena voltar ao passado? As taxas de desemprego eram superiores a 12%. A dívida líquida do setor público era maior que 60% do PIB. A taxa de juros Selic rondava 25% ao ano. A inflação estourava a meta, tal como ocorreu em 2001, 2002 e 2003. Eram criados, em média, apenas 52 mil empregos formais por mês. E o investimento desceu ao piso de 15,3% do PIB (hoje está em 18,6%).

Duas conclusões: (1) o Banco Central precisa ser mais bem informado pela presidente Dilma. Em seus tweets ela tem reconhecido o momento favorável de recuperação da economia brasileira e (2) aqueles que pedem a volta do tripé de FHC deveriam mostrar quais os resultados produzidos pelo instrumental que desejam e, além disso, poderiam, ainda que de forma tímida, revelar que interesses buscam atender com o seu saudosismo. Não será tarefa fácil: pedir a volta do velho modelo em nome do novo e da mudança.




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