VAMOS RECHAÇAR OS REAÇAS
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VAMOS RECHAÇAR OS REAÇAS


É algo tão surreal que nem dá pra acreditar. No final de dezembro, quando a maior parte das pessoas está se preparando pras festas do final de ano, a Câmara Municipal de Fortaleza aprovou, à surdina, sem debate, um dia oficial no calendário da cidade para uma marcha contra o aborto.
Sabe o aborto, que já é proibido no Brasil, país que tem uma das legislações mais ultrapassadas do mundo em relação à interrupção da gravidez? Sabe aquele negócio de que o Estado deveria ser laico, que governo não deve interferir na igreja e vice-versa? Pois é, tudo isso continua sendo jogado no lixo.
No dia 11 de novembro aconteceu aqui uma dessas marchas contra o aborto. Elba Ramalho, que por sinal já fez um aborto, esteve presente. A julgar pelas imagens, ela foi uma das poucas mulheres que se manifestaram. As fotos da marcha são muito interessantes, porque deixam claro quem está por trás desses protestos reacionários.
A bandeira tem o símbolo integralista, movimento de extrema direita. São esses grupos fascistas que vêm fazendo marchas contra a legalização do aborto, da maconha, do casamento gay. Não que eles sejam os únicos reaças no Brasil, longe disso. Mas os reaças que vemos na internet não saem às ruas. Protesto, pra eles, é coisa de esquerdista, de vagabundo. Eles nem sabem que estão sendo representados pela extrema direita.
Numa nota, feministas de Fortaleza explicaram porque a aprovação da lei que fixa um dia para uma marcha conservadora em Fortaleza é um tremendo retrocesso:
“Retrocesso porque a aprovação de uma data no calendário oficial da cidade associando à defesa da vida a criminalização das mulheres que praticam aborto se constitui, a nosso ver, na negação da vida das mulheres como legítima a ser defendida pelo Estado, e reduzindo-nos ao papel biológico que socialmente nos foi imposto. Reiterando ainda que a criminalização do aborto gera a debilidade da saúde física e mental das mulheres que cotidianamente, em uma postura responsável, optam pela interrupção da gravidez, e são obrigadas pelo Estado hipócrita a fazê-lo de forma clandestina.”
Getúlio, aluno de Filosofia da UFC (e, digo com orgulho, ex-aluno meu), gay assumido e ativista, escreveu para o coletivo feminista de que faz parte: “O fato de o deputado [do PMDB] que logrou aprovada tal lei ser um homem, revela outra faceta interessante do fenômeno mundial de discussão da questão do aborto: os maiores opositores à legalização e regulamentação do aborto e mesmo ao seu debate são homens, ou melhor, são machos.
"São cromossomos XY debatendo e regulando a vida de cromossomos XX. E por quê? Enquanto isso, um número não aferível de mulheres apelam a meios escusos para praticar o que nada mais é do que um direito. Não importa se nosso Estado considera o aborto ilegal. O aborto é legítima propriedade do corpo da mulher. Ilegal ou não, ele acontece e continuará acontecendo a despeito de nossas crenças pessoais.”
Qualquer pessoa de Fortaleza que entende que o século 21 não pode ser cenário de mentalidades medievais deve lutar para que o dia oficial contra o aborto deixe o calendário oficial da cidade. Mas, se não der, vamos usar o mesmo dia para fazer um mega-evento pela legalização do aborto. Vamos fazer uma contra-marcha. Tem tempo ainda pra organizar, mas vamos ficar atentxs.
Esta semana ocorreu algo do gênero em Jaraguá do Sul, graciosa cidade de 150 mil habitantes, vizinha de Joinville. Integrantes do Instituto Plínio Correia de Oliveira, um grupo integralista, invadiram o calçadão da praça central da cidade para espalhar seu ódio contra homossexuais, úteros livres e ambientalistas. Pelas roupas, dá pra ver que são homens (só dá homem nessas marchas) adeptos da Tradição, Família e Propriedade, gente da pior espécie. É até divertido ver esses fascistas reclamarem de ditadura gay!
 
E aí uma coisa linda aconteceu. A presença do grupo de ódio fez com que pessoas comuns se mobilizassem, usando a internet. No mesmo dia, à tarde, mais de cinquenta jovens tomaram as ruas de Jaraguá com cartazes e caras pintadas para protestar pela liberdade. Coloco aqui algumas fotos da marcha.
Como me disse a Nicolle, que me enviou o email contando essa aventura, a marcha contra os fascistas foi improvisada e emocionante, até porque as próprias pessoas que a organizaram não sabiam que tinham essa força. Afinal, Jaraguá é uma cidade de média pra pequena, com um padrão sócio-econômico acima da média, e uma mentalidade bem conservadora.
Segundo Nicolle, Jaraguá é “conhecida por muito nacionalismo e mais cenas de ódio, mas nesse dia [17 de janeiro] juntou feministas, homossexuais, transeuntes, e todos com um pouco de vontade de mudança” para marchar.
Também na semana passada, Curitiba mandou pra longe um grupo da TFP.
Fortaleza tem 2,5 milhões de pessoas. Pode apostar que boa parte de nós não quer o atraso reacionário. Não vamos entregar nossa cidade assim, de mão beijada, pra ser palco de fascistas.




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