O rapaz lembrou do doutor Jéferson explicando as regras, lembra-se de que ele chegou a questionar tal atitude.
- Sabe rapaz, - o velho médico parecia bastante cansado, vulnerável até. - Madalena é um caso muito especial. Uma paciente muito antiga. Inteligente e extremamente violenta. Você teve sorte de escapar vivo. O último que quebrou as regras, não sobreviveu para contar. Não quero mais acidentes neste hospital.
- Ela parecia tão frágil. Não imaginei que tivesse tanta força... - disse alisando a atadura. Quase perdera os dedos. A mulher crescerá sobre ele e o atacará com unhas e dentes. Fora tão de repente. Ele só conseguiu escapar utilizando a bandeja que trazia consigo.
- Ela não é uma mulher comum. - o doutor pensou no enfermeiro anterior, fora encontrado completamente mutilado dentro do quarto, morrera antes de chegar ao hospital. Madalena batera com a cabeça dele diversas vezes no chão. Quando conseguiram tirá-la de cima dele, ela havia arrancado os olhos e o nariz dele... - o que exatamente aconteceu?
- Eu estava levando comida para os pacientes. Iria levar a dela por último, estava esperando o Augusto chegar. Então quando passei pelo quarto dela, ouvi uma voz me chamando. Aproximei-me e ela sorriu para mim. Disse que estava com fome. Eu... eu não sei por que, mas ela parecia tão inofensiva, eu.. eu abri a porta. Eu sabia que não devia, mas eu não consegui evitar... - o rapaz choraminga. Não consegue explicar, era como uma força... uma coisa que obrigou a abrir a porta e entrar naquele quarto... ele não queria, mas não controlava mais braços ou pernas... sabe que se disser isso para o médico, corre o risco de acabar dentro de um daqueles quartos, como paciente. Por isso se cala.
- Aí entrei. A porta fechou, acho que foi o vento - não ele sabia que não fora o vento, alguma coisa fechara a porta, algo. - e ela começou a gritar. Fiquei nervoso e não consegui abrir a porta. - ela estava trancada, mas ele não trancara... - gritei por alguém, mas ninguém veio... então ela pulou em cima de mim. Eu a empurrei com a bandeja, mas ela era tão forte... lutei com ela, enquanto tentava abrir a porta, que parecia emperrada... até que consegui abrir e sai, mas ela segurou meu braço e começou a me morder... - o rapaz se cala por alguns instantes. - Doutor, quando ela me atacou, ela não podia ser tão forte assim... não tem como... e eu sei que é estranho, mas eu senti como se houvesse outra pessoa ali. Havia mais alguém naquele quarto.
- Esqueça isso, meu jovem... - o velho médico sentia-se cansado. Muito cansado. Era visível seu abatimento. Os cabelos brancos já se escasseando sobre a cabeça. Olheiras profundas sob os olhos. Olhou para as mãos, já não podia movê-las como antes. No frio sentia imensas dores nas juntas. Era hora de se aposentar. Definitivamente, era hora de sair daquele lugar.
- Acho que por hoje chega. Vá para casa, meu rapaz. Descanse. E lembre-se, nunca mais se aproxime sozinho daquele quarto.