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Vento contrário - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 12/06
ÁLVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIEIRO - INTERINOS
Ontem, o Ibovespa caiu abaixo de 50 mil pontos, o Banco Central fez mais duas intervenções para segurar o dólar, o risco-país subiu. Mas não é só o Brasil que tem enfrentado o vento contrário nos últimos dias. A moeda sul-africana atingiu a menor cotação em quatro anos; o dólar australiano cai quase 10% desde maio, assim como a rupia indiana. Os emergentes sentem a ameaça de redução dos estímulos nos EUA.
O dia ontem começou com uma forte valorização dos títulos americanos de 10 anos. Atingiram a maior cotação desde o início dos estímulos monetários e depois caíram. Mas foi o suficiente para puxar o dólar para cima no mundo inteiro e derrubar as bolsas. Os juros futuros no Brasil também subiram, e o real perdeu valor. O BC foi obrigado a vender reservas para segurar a moeda brasileira.
O site do "Financial Times" destacava em manchete a fuga de investidores dos emergentes. Em relatório, o banco HSBC explicou que há fatores externos em comum, mas também problemas localizados em cada país. Do lado externo, como já afirmamos aqui, há a ameaça de redução dos estímulos nos EUA, e a China está decepcionando. As duas coisas afetam o preço das commodities e o ingresso de dólares nesses países pela via comercial.
Pelo lado interno, no caso do Brasil, há PIB baixo, inflação alta, queda do saldo comercial e uma agência de classificação de risco já cogita rebaixar a nota do país. O economista Alvaro Bandeira, da Órama Investimentos, enxerga perda de confiança na política econômica.
- O país tem US$ 300 bi de reservas, mas falta um choque de credibilidade por parte do governo, medidas mais fortes para atrair o investimento estrangeiro. Não é o caso de uma minicrise no país, mas pode vir a ser se o governo ficar parado - afirma.
O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, avalia que a política monetária começou a recuperar a confiança, com a alta maior dos juros, e que a queda de popularidade da presidente, por causa da inflação alta, fortalece a atuação mais agressiva do BC.
- O que está faltando é a sinalização de mudança de rumo da política fiscal - disse.
Do dólar para a inflação I
Depois de passarem um longo tempo ajudando no combate à inflação, os bens duráveis estão agora jogando contra. São itens como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, que estavam caindo de preço, mas passaram a subir. Um dos problemas é justamente a desvalorização do real que, nos últimos 12 meses, perdeu 24%, saindo de R$ 1,63 para R$ 2,15. Antes, os importados desembarcavam aqui mais baratos, agora, chegam a um preço mais alto. Outra causa é o aumento do IPI, que estava reduzido e voltou a subir para alguns produtos.
Segundo dados do Banco Central, a inflação mensal dos bens duráveis está em alta desde outubro do ano passado. E o pior é que a taxa acumulada em 12 meses deve voltar a ficar positiva a partir de junho. Segundo o analista Cosmo de Donato Júnior, da gestora M. Safra, a última vez que isso aconteceu foi em março de 2011. Ou seja, os bens duráveis vão começar a empurrar a inflação como um todo para cima e isso ajuda a explicar por que o Banco Central está tão preocupado com a cotação do real e fazendo tantas intervenções no mercado de câmbio.
Do dólar para a inflação II
No último dado de inflação divulgado pelo IBGE, já é possível ver alguns preços de bens duráveis subindo na taxa acumulada em 12 meses. Os aparelhos eletroeletrônicos, por exemplo, subiram 1,98% até maio. Os eletrodomésticos, 4,25%, e os computadores, 3,8%. Os automóveis, no entanto, ainda mantêm deflação: de 0,6%, no caso do veículo próprio; e de 2,4%, no novo. No geral, os bens duráveis estão com deflação de 0,22% até maio. Acontece que em junho de 2012 o indicador teve uma queda forte de preço, de 2,59%, como efeito da redução do IPI para alguns produtos. Quando o IBGE divulgar o dado de junho deste ano, sairá da conta essa forte redução para entrar um número positivo.
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