Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:Os principais jornais do país publicam nas edições de quarta-feira (23/7) a mais recente pesquisa Ibope de intenções de voto para presidente da República. Segundo as análises disponíveis na imprensa, os números indicam que a Copa do Mundo não alterou o quadro eleitoral: a situação é de relativa estabilidade, com a presidente Dilma Rousseff (PT) mantendo suas chances de reeleição, com 38% dos votos contra 22% de Aécio Neves (PSDB) e 8% de Eduardo Campos (PSB).
Num eventual segundo turno, a presidente seria reeleita com uma vantagem de pelo menos 8 pontos porcentuais sobre o adversário mais bem colocado.
O quadro pintado pelos analistas representa exatamente o oposto do cenário ideal imaginado pelos coordenadores de campanha de Neves e Campos: a atual presidente se aproxima do início da propaganda oficial, quando terá o dobro do tempo de televisão e rádio de seu principal oponente, em situação de estabilidade e com claras possibilidades de consolidar sua base de votos.
Por outro lado, o senador tucano se atrapalha ao se defender da acusação de que teria mandado construir com dinheiro público, quando era governador de Minas Gerais, um aeroporto que serve apenas à sua família.
Já o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que vinha navegando em águas serenas com seu discurso da mudança de hábitos na política, se vê obrigado e enfrentar a primeira turbulência: a manchete da Folha de S.Paulo de quarta-feira (23) traz a acusação de que seu partido ofereceu propina para obter o apoio do Pros no Estado.
Enquanto Eduardo Campos se mobiliza para desfazer a crise nascida em Pernambuco, Aécio Neves escorrega ao se negar a admitir que o aeroporto construído com verbas públicas funciona irregularmente para uso privado. O colunista Elio Gaspari afirma, na Folha, que “A explicação de Aécio não decola”.
Nesse cenário, as análises sobre os números das pesquisas eleitorais mais recentes ganham outra dimensão, pois, como se sabe, a candidatura que conta com mais tempo de propaganda nos meios massivos de comunicação tem potencialmente mais probabilidade de ampliar a coleta de votos. Serão quase dois meses de intenso bombardeio até serem ligadas as urnas eletrônicas para o primeiro turno.
Os títulos trigêmeosVoltemos, então, às pesquisas eleitorais e ao protagonismo partidário da mídia tradicional. No dia 18 de julho, uma sexta-feira, a Folha de S. Paulo anunciava o resultado da primeira pesquisa Datafolha feita após a Copa do Mundo. A manchete do jornal paulista dizia o seguinte: “Dilma mantém liderança, mas empata com Aécio no 2º turno”.
Curiosamente, na mesma data, o Estado de S. Paulo publicava também na primeira página o seguinte título: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º turno”. Já o Globo, para não ser diferente, também publicou, no alto de sua primeira página, ao lado da manchete: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º turno”.
O fenômeno dos títulos trigêmeos demonstra o funcionamento da mídia tradicional como um cartel e, mais do que isso, escancara a manipulação de informações que marca a rotina dos três diários de circulação nacional.
Na semana passada, os jornais apostavam numa virada das expectativas eleitorais e embarcavam alegremente na versão do instituto Datafolha, que forçou a margem de erros em nada menos do que 4 pontos porcentuais, puxando para cima as chances de Aécio Neves e empurrando para baixo o potencial de votos de Dilma Rousseff – para afirmar que eles estariam “tecnicamente empatados”.
Na quarta-feira (23), quando o Ibope desmente frontalmente o Datafolha, o Globo e o Estado de S. Paulo, que encomendaram a pesquisa, dão detalhes do resultado, porque, afinal, são os patrocinadores. Mas só o Estado publica os dados em manchete.
Desprezando a solidariedade demonstrada pelos outros dois jornais na semana anterior, a Folha ignora a pesquisa Ibope na primeira página e publica apenas um texto curto no interior do caderno, sem explicar a enorme defasagem entre os dois levantamentos.
Jornalistas sabem, ou deviam saber, que pesquisas de intenção de voto são afetadas pelo contexto social e econômico – que pode ser influenciado pela mídia. As escolhas dos editores têm sido orientadas, incessantemente, para criar um clima pessimista em torno do governo federal. Ainda assim, o Ibope revela que nada menos do que 54% dos eleitores acreditam que Dilma Rousseff será reeleita.
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