Violência no Chile não é manchete no Brasil
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Violência no Chile não é manchete no Brasil


Por Victor Farinelli, no sítio Opera Mundi:

O conflito entre o governo chileno e os estudantes por mudanças no modelo educacional do país viveu seu episódio mais violento no mesmo dia em que o principal instituto de pesquisas do Chile apontou que a popularidade do presidente Sebastián chegou a 26%, a menor já registrada desde o fim da ditadura, e ao mesmo tempo, que a população apoia as reivindicações estudantis.



A jornada começaria às 10h com uma marcha de estudantes secundaristas, mas vários incidentes foram registrados bem antes. A Intendência Metropolitana, órgão que controla as forças policiais na capital chilena, havia proibido a passeata, e a Praça Itália, local onde tradicionalmente se concentram as manifestações na cidade, já observava forte presença policial desde antes das 9h.

Durante quase toda a manhã, grupos de centenas de jovens que se dirigiam ao local eram atacados por tropas de Carabineros (polícia militar do Chile) nas ruas de acesso à praça. Os estudantes se dispersavam a cada investida, para logo se reagruparem em busca de vias alternativas, onde novamente encontravam tropas policiais, com as quais se chocavam novamente. Os enfrentamentos só perderam força a partir das 14h, com a dispersão definitiva dos estudantes. As forças de segurança informaram que 133 pessoas foram detidas.

A ação policial contou com procedimentos tradicionais como jatos d’água e as bombas de gás lacrimogênio. Alguns desses aparatos foram encontrados dentro das estações de metrô Baquedano e Universidad Católica, e nos pelos corredores do Hospital do Trabalhador, deixando centenas de pessoas intoxicadas.

Segundo Laura Ortiz, porta-voz da Aces (Assembleia Coordenadora dos Estudantes Secundaristas), a ação policial foi a pior já vista desde o começo do conflito entre estudantes e o governo. "A violência era para que não pudéssemos sequer estar nas ruas, não houve nenhuma provocação. Eles nos atacaram simplesmente porque estávamos ali". A dirigente afirmou que alguns companheiros disseram ter escutado disparos de bala durante o confronto, mas que, até agora, só soube de feridos por golpes de cassetete.

Com o centro da cidade totalmente sitiado por tropas especiais, muitas lojas localizadas nas avenidas mais movimentadas de Santiago sequer abriram suas portas. Os que se atreveram tiveram que fechar às pressas. Alguns comerciantes acabaram feridos ou afetados por gases tóxicos.

As denúncias de abuso policial foram recolhidas por parlamentares da oposição, que anunciaram ter apresentado uma acusação constitucional formal contra o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter. O deputado socialista Sergio Aguiló afirmou que "há denúncias gravíssimas de danos à integridade física, não só contra estudantes. Hinzpeter terá que explicar a necessidade de se atirar bombas de gás em um hospital e em estações de metrô, e porque sua polícia usou tanta força contra os estudantes".

Liderança contra-ataca

A marcha dos secundaristas não era a única convocada pelos estudantes para este 4 de agosto. Os universitários e o Sindicato dos Professores marcaram sua manifestação para 18h, quando pretendem se reunir na mesma Praça Itália.

Camila Vallejo, presidente da Confech (Confederação dos Estudantes do Chile), declarou em coletiva que a segunda marcha está confirmada, apesar de também não contar com a autorização policial. Horas depois, o porta-voz do governo, Andrés Chadwick, convocou a imprensa e fez um apelo aos estudantes para que desistam da segunda marcha.

A líder dos estudantes também foi vítima de um incidente no twitter, após ter seu endereço e telefone fixo divulgados através das redes sociais por uma conta ligada a partidos de direita chilenos. O pai da estudante, Reinaldo Vallejo, declarou à revista chilena The Clinic que “se algo acontecer à minha filha, será responsabilidade deste governo”. A conta responsável pela divulgação dos dados de Camila já não existe mais.

Também via twitter, a própria Camila Vallejo reagiu ao ataque da polícia contra os estudantes secundaristas na manhã de hoje, convocando um panelaço para às 21h, em repúdio à repressão policial contra o movimento estudantil.

Rejeição recorde a Piñera

Perto das 14h, quando a situação começava a se normalizar em alguns pontos do centro de Santiago, a CEP (Centro de Estudos Públicos), considerado o principal instituto de pesquisa no país trouxe notícias ruins para o oficialismo.

Segundo o levantamento, a popularidade do presidente Sebastián Piñera baixou para 26%, enquanto sua rejeição subiu para 53%, o pior índice de todos os tempos registrado desde a redemocratização. A pesquisa também mediu o respaldo da população às demandas dos estudantes, e 80% dos entrevistados disse apoiar o movimento.




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