Por José Coutinho Júnior, no jornal Brasil de Fato:“A porra da luta continua, caralho”. Essa frase sempre era dita por Vito Giannotti quando algo desfavorável aos trabalhadores acontecia. Conhecido por falar 11 palavrões a cada 10 palavras, o italiano chegou em 1964 ao Brasil, onde trabalhou como operário.
Tinha talento para a escrita e, por acreditar que a classe trabalhadora precisava desenvolver seus veículos, Vito se tornou jornalista. Fundou diversos jornais enquanto era operário e membro da oposição sindical metalúrgica de São Paulo. Foi também um dos fundadores e membros do conselho editorial do Brasil de Fato e do Brasil de Fato RJ.
Se mudou para o Rio de Janeiro, onde fundou o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que realiza cursos de formação de comunicadores para as entidades sindicais, movimentos populares e periferia.
Vito Giannotti faleceu no dia 24 de julho deste ano, mas plantou diversas sementes em entidades e pessoas que hoje seguem o caminho da comunicação popular.
“O Vito foi operário, se organizou, participou de mobilizações, foi preso e seguiu adiante sem perder seu rumo classista e a combatividade. Ele tinha esse talento jornalístico e aprofundou isso na imprensa operária, trabalhando a comunicação numa linguagem que o trabalhador entende”, afirma Salvador Pires, membro do Projeto Memória.
MemóriaVito foi homenageado no último sábado (8), em um ato no Sindicato dos Químicos, em São Paulo. Mais de 200 pessoas estavam presentes para honrar a memória do companheiro, discutir suas ideias e conquistas, e contar um pouco de sua história.
“Hoje estamos homenageando um grande operário, comunicador, lutador. No nosso modo de entender quando a gente se reúne para homenagear um camarada operário é para não deixar que nossos ícones morram. Eles podem morrer em corpo, mas continuam vivos na história. Todos merecem continuar na história. Temos que passar essas histórias para frente cada vez mais, porque as histórias de gente como o Vito, que sempre lutaram para defender o interesse dos camaradas, são as histórias da classe operária”, diz Jorge Luiz dos Santos Oliveira, o Jorge Preto, membro dos movimentos operários da região Sul.
“Devo minha formação profissional ao Vito e à Claudia, sua companheira. Cheguei em 2008 como estagiária no NPC e continuo até hoje. Aprendi muitas coisas, não só no ramo profissional, mas também no humano, e acho que o Vito é um grande exemplo disso. Ele era muito carinhoso, mas também muito rigoroso na hora de trabalhar. Ele acreditava que os trabalhadores só conseguiriam melhorar suas condições de vida se tivessem seus instrumentos próprios de comunicação, e ele dedicou a vida inteira dele pra isso”, diz Sheila Jacob, jornalista no NPC e professora.
Em meio a muitas falas homenageando o jornalista, um dos fundadores do Núcleo de Educação Popular 13 de maio, Luis Carlos Scapi, roubou o microfone e fez, com muitos palavrões, sua impressão de Vito Giannotti.
“Todo mundo aqui está falando bem do Vito. Mas para mim ele era, antes de tudo, um constrangedor. Se ele estivesse aqui agora, ele diria para todos vocês, da esquerda aí sentados: 'o que vocês estão fazendo aqui? Cade a revolução, porra?'”.
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