Um dos assuntos do momento nos EUA diz respeito à prisão de um professor universitário. Henry Louis Gates Jr, um negro de meia idade e professor de nada mais nada menos que Harvard, voltava ao seu lar após uma semana pesquisando na China. Encontrou a porta da sua casa emperrada,
e tentou, com a ajuda de seu motorista, também negro, forçá-la um pouco para poder entrar. Nem preciso continuar contando o que aconteceu, né? O nosso conhecimento prévio já se encarrega de terminar. Aqui no Brasil é igual: quando alguém numa vizinhança predominantemente branca e de classe média vê dois negros forçando a porta de uma casa, chama a polícia. Se isso não é racismo, eu não sei o que é. Mesmo assim, um monte de gente insiste que não, não somos racistas. E que, nos EUA, o racismo morreu e foi enterrado com a eleição do Obama. Pelo jeito crer nessas fantasias aplaca a nossa culpa. É meio como criança acreditar em Papai Noel e coelhinho da páscoa.
ro, e seu motorista havia ido embora. Henry, supreso, apresentou documentação ao policial branco para provar que aquela era a sua casa. Mas, indignado, disse: “É isso que acontece com homens negros na América”. O policial não gostou, eles discutiram, e o tira da pesada o prendeu por desacato à autoridade. Henry foi levado de sua casa algemado. Depois da divulgação do caso, a polícia retirou as queixas. Henry segue revoltado. Por que será?
do é que tem um monte de americano branco analisando a notícia e chegando à brilhante conclusão que a polícia estava certa e Henry, errado. Pior: as análises são todas do tipo “se fosse comigo, eu...”. Meu amigo, não é com você. Você é branco. Por mais que você acredite piamente que o racismo não existe, a realidade te desmente. A maior parte dos negros, tanto nos EUA quanto aqui, já sofreu discriminação. A justiça não é cega coisa nenhuma. A polícia certamente não trata brancos e negros da mesma forma. A própria avó do Obama, branca, declarou certa vez que, por medo, mudava de calçada ao ver um negro se aproximar. Deve ser ótimo ser negro e ver todo mundo desconfiar da sua honestidade.
entaristas não permite que eles deem um pulinho e façam essa simples pergunta: por que tantos negros são pobres? Pra responder essa pergunta inconveniente, das duas uma: ou você culpa um sistema de profunda desigualdade, ou assume seu racismo. Se você crê que as oportunidades são iguais pra todos, vai ter que explicar por que os negros não aproveitam esse mar de oportunidades. Será incompetência? Negros são burros? Alguma desvantagem genética que os faça menos capazes? Hoje só a extrema direita tem coragem de mentir em público e confirmar essas asneiras. Mas e o resto, que não acredita em racismo e tem certeza que não é racista? Como explica essa desig
ualdade, que é inegável?
eremos perder nossos privilégios. Isso sim é justiça! Ah, justiça - só se for divina. Quem é contra as cotas já vem com um discurso de “o que precisa ser melhorado é a qualidade das escolas públicas”. Bom, todo mundo concorda com isso. Mas geralmente esse discurso vem atrelado a um posicionamento contra o governo Lula, como se a má qualidade de ensino tivesse começado há exatos seis anos. Os quinhentos anos de governantes da mesma ideologia do DEM que vieram antes não tiveram nenhuma responsabilidade, e muito se empenharam em criar e manter boas escolas.
posição do professor de Harvard e virarem, eles também, professores universitários. E com uma discussão franca sobre racismo, talvez professores universitários negros, os poucos que existem, deixem de ser vistos como criminosos pelos vizinhos e de ser presos pela polícia. Talvez.