Um leitor, o Caio P, que não é um comentarista frequente aqui no bloguinho, revoltou-se com a crítica q
ue escrevi sobre Foi Apenas um Sonho, achando que a análise foi feminista demais:
Acho uma visão dessas extremamente elitista, porque isso reduziria o feminismo à meia dúzia de gatas pingadas, e também porque a vivência de cada um(a) conta muito. Além disso, numa época como a nossa, em que muitas pessoas fazem o sinal da cruz ao ouvir a palavra feminismo, e diz que não, de jeito nenhum, não sou feminista!, não é uma estratégia sensata excluir quem se considera feminista sem nunca ter lido teoria (aliás, qual teoria? Da primeira, segunda ou terceira onda do feminismo? De todas? Das pós-feministas também? Tem que passar num teste? É com consulta?). Acho que pra ser feminista basta ser a favor dos direitos iguais pras mulheres, e lutar por isso. Se vo
cê acha injusto que os homens continuem recebendo um salário maior que o das mulheres pelo mesmo trabalho, se você acha que mulheres merecem tanta voz quanto os homens, se você se revolta com os diferentes padrões sexuais que existem pra cada um dos sexos, se você acha o fim que mulheres sejam avaliadas pela aparência o tempo todo, se você acha hediondo que mulheres sejam estupradas e tenham sua liberdade cerceada por causa dessa ameaça, se você acha que mulheres podem ter escolhas e autonomia sobre como querem levar a vida, bom, bem-vinda(o) ao clube. Você é feminista, mesmo que não assuma o rótulo (mas é pra se pensar por que não, né?). Nunca fiz parte de nenhum
movimento feminista organizado, assim como tampouco faço parte de um partido político, e ainda assim me considero de esquerda. Tem mais um monte de coisas que eu sou: pró-direitos dos animais, pró-minorias, anti-preconceitos, viciada em chocolate, gorda, ecologista, casada com o mesmo cara há séculos, fiel, irônica, atéia, humanista, amante de jogos, fã de literatura, cinema, teatro, Chico e Beatles, prolixa, anti-consumista, pão-dura, ou melhor, “economicamente responsável”, e devo estar esquecendo uma pá de coisas. Mas tudo isso faz parte da minha identidade. É assim que eu sou. Quando escrevo e falo, estou me expressando, e nisso
não sou diferente de ninguém. Minha opinião sobre um filme, um livro, uma receita culinária, um cafuné, vai expressar a minha vivência e o meu jeito de ver o mundo. Isso não quer dizer que vou falar de chocolate em todo post, a menos que eu esteja com um nível muito baixo de chocolate no sangue naquele momento e esteja entrando em delirium tremens. Agora, como que um filme como Foi Apenas um Sonho não tem relação nenhuma com o feminismo? Quem disse? Muitos críticos homens vão ignorar esse aspecto e talvez nem reparem nele. Assim como eu não vou reparar em pontos que pra eles pareçam cruciais. Porque somos pessoas diferentes, temos o
rigens diferentes, interesses diferentes, e tudo isso produz uma análise diferente. Mas pô, eu acho isso ótimo! Eu canso de ver a mesma crítica, igualzinha, apenas ass(ass)inada com nomes diferentes. Quanto mais diversidade, melhor.
o “jornalístico”, fingindo que não existo, talvez conseguisse enganar um ou outro que acredita em neutralidade. Mas acho que a maior parte das pessoas se dá conta que por trás de um estilo dito “imparcial” e “impessoal” existe uma pessoa. Que um texto não cai do céu. Que não existe verdade absoluta. Ainda que eu escrevesse certo por linhas muito tortas, seria a minha palavra, o meu olhar.
reguiça - eu não escreveria. Não sei nem se quero influenciar alguém. Não é que eu vá me candidatar a alguma coisa ou fundar um movimento (mas pensei em um, de brincadeira: Hedonismo sem Consumismo. Não diga que já existe). Mas sim, se não for pedir demais, eu gostaria de fazer minhas leitoras(es) pensarem, refletirem, questionarem tudo, começando pelo que lêem aqui. Eu gosto de textos que me fazem pensar, que me dão algo novo. Adoro o sentimento de “Putz, não tinha pensado nisso!”. Talvez esse sentimento te incomode, Caio. Por quê? Não sei. Não sou você. Só posso dar minha interpretação extremamente pessoal sobre o assunto.