Mais educação é mais salário? - SAMUEL PESSÔA
Geral

Mais educação é mais salário? - SAMUEL PESSÔA


FOLHA DE SP - 01/12

Apesar de pesquisa empírica e de 50 anos de teoria, ainda há ceticismo sobre isso, com mais verbo do que números


A hipótese de causalidade entre educação, produtividade e desenvolvimento econômico foi formulada na virada dos anos 1950 para os 1960 por três pesquisadores: Theodore Schultz, Gary Becker e Jacob Mincer.

Mais de 50 anos depois da publicação dos trabalhos dos pioneiros, e uma extensa pesquisa empírica, ainda persiste em alguns rincões, com mais verbo do que números, certo ceticismo.

A pesquisa sobre o tema decorreu de uma observação praticamente universal: a forte correlação positiva entre o nível de escolaridade e a renda do trabalho.

Os pesquisadores mencionados no primeiro parágrafo formularam a seguinte hipótese, conhecida como teoria do capital humano: a educação dota as pessoas de conhecimentos e técnicas, tornando-as trabalhadoras mais produtivas. A correlação positiva entre salário e educação refletiria uma relação de causalidade: maiores níveis de educação elevam os salários porque o mercado de trabalho remunera os trabalhadores de acordo com sua produtividade.

Nos anos 1970, o pesquisador Michael Spence apresentou uma instigante hipótese contrária à teoria do capital humano. Conjecturou que os maiores níveis de renda associados às maiores escolaridades resultavam de causalidade reversa. Pessoas que nasceram mais inteligentes e habilidosas são mais produtivas. O mercado de trabalho, porém, não tem como inferir as habilidades inatas de cada trabalhador. Por essa razão, a qualificação acadêmica funcionaria como uma sinalização da produtividade individual.

O estudo é mais fácil para as pessoas mais inteligentes e habilidosas. Assim, elas estudam mais para sinalizar ao mercado de trabalho sua maior produtividade.

Segundo a teoria da sinalização de Spence, a correlação positiva entre renda e educação decorre de um problema de variável omitida. A não observada inteligência inata induz maior nível de escolaridade, mecanismo de sinalização do maior talento. Não haveria relação causal direta de escolaridade para renda, mas sim de habilidade para renda, sendo a escolaridade um mero farol, uma sinalização da qualidade inata do indivíduo, esta sim a responsável pela sua maior produtividade.

Esse tema tem dominado a academia por muitas décadas. Não há dúvida de que maiores salários estão associados a maiores escolaridades e maiores níveis de inteligência. Será que há uma parcela do ganho de renda que esteja associado à educação independentemente das habilidades cognitivas inatas?

Para responder à questão formulada no parágrafo anterior, pode-se construir um experimento, de forma similar à pesquisa médica sobre a eficiência de uma droga.

De uma população homogênea,metade seria sorteada para ser o grupo de tratamento, e metade, o grupo de controle. O primeiro receberia incentivos para investir em educação, ao contrário do grupo de controle. No mais em tudo semelhantes, um eventual ganho de renda futuro no grupo de tratamento deveria ser atribuído ao maior esforço educacional.

As dificuldades óbvias em construir experimentos ideais, como o mencionado acima, direciona- ram boa parte da pesquisa para outros caminhos. Por exemplo, é pos- sível trabalhar com gêmeos idênticos que adquiriram diferentes níveis de educação.

Outra possibilidade é considerar os impactos das leis de idade mínima para sair da escola nos EUA. Dependendo do mês do ano em que a pessoa nasceu, se no primeiro ou no segundo semestre, ela é obrigada a estudar um ano a mais (ou não) na escola antes de abandoná-la. No universo das pessoas que não desejam continuar a estudar, esse ano a mais de estudo melhora de forma significativa a renda futura.

Testes empíricos foram realizados para o papel da educação apenas como sinalização de habilidades inatas, e os resultados foram desapontadores. Melhor educação parece ser a causa dos maiores salários: cada ano de escolaridade eleva o salário de um trabalhador em 10%.

Numa próxima coluna (provavelmente em duas semanas, pois a seguinte versará sobre o PIB do terceiro trimestre, a ser divulgado no dia 3 pelo IBGE), abordarei o segundo capítulo da saga --ainda em andamento-- sobre o impacto agregado da educação. Um esforço coletivo por maiores níveis de escolaridade levará a maior crescimento econômico?




- Educação Não é Tudo - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 12/01 Além da educação, marco regulatório e infraestrutura explicam a renda melhor dos países desenvolvidos O leitor já deve ter notado a minha obsessão com o tema da educação. Desde que ocupo este espaço, há pouco mais de um...

- Educação E Produtividade - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 05/01 Saber bem as 4 operações e ler com rapidez, por exemplo, torna mais produtivo o trabalhador Nesta primeira coluna do ano, volto ao tema recorrente das últimas semanas. Trata-se da centralidade da educação na melhora da produtividade...

- Qualidade Da Educação Traz Crescimento - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 22/12 Subestimar a importância da educação para o crescimento é uma constante no Brasil, principalmente na esquerda Esta é a terceira coluna que trata do tema da educação e crescimento. A importância do assunto, para mim, está no...

- Ensinando A Ser Rico - Henrique Meirelles
FOLHA DE SP - 17/11 O Brasil hoje é um país caro, que perde capacidade exportadora e eleva importações, uma conjuntura insustentável ao equilíbrio econômico do país. Por isso, é fundamental aprofundar a discussão e as medidas para elevar nossa...

- Papel Da Educação - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 09/06 Experiências históricas mostram a importância da educação no processo de desenvolvimento dos países Meu colega Marcelo Miterhof, que ocupa este espaço às quintas-feiras, abordou o importante tema da relação entre crescimento...



Geral








.