Ai, ai, parece que a transmissão do Oscar teve sua pior audiência da história! Pelo menos aqui nos EUA, apenas 32 milhões de pessoas (num universo de 300 milhões) ligaram a TV pra ver a Tilda Swinton fantasiada de bruxa ganhar atriz coadjuvante. Isso é muito pouca gente. Claro, existe um pessoal pra quem o Oscar tem tanta importância como o Superbowl tem pra mim. Mas eu fiquei surpresa quando, na semana passada, falei com uma americana que adora filmes, que vai ao cinema quase toda semana, e ela me disse não ter respeito algum pelo Oscar. É verdade que ela também contou que não ligava a TV durante o semestre acadêmico, o que me fez automaticamente pensar “Minha ídola!”. Mas se uma mulher que adora cinema não assiste à entrega do Oscar, certamente não é o adolescente que vê “Cloverfield” que vai ficar quatro horas em frente à TV vendo um desfile de alta costura.Como o Oscar é, obviamente, parte da indústria pra promover filmes e render lucros vendendo espaço caríssimo pra comerciais durante a transmissão, essa queda contínua no Ibope preocupa. Parece que a última vez que a cerimônia teve um bom público foi em 2004, quando “Senhor dos Anéis 3” varreu os Oscars. Antes disso, só em 1998, com aquela vitória arrasadora de “Titanic”. Ou seja, o Oscar só chamou mesmo a atenção e virou um fenômeno cultural quando premiou os arrasa-quarteirões mais queridos da platéia. Por isso, muita gente defende que a Academia indique apenas filmes rentáveis. Se fosse esse o critério, entre os cinco nomeados, só “Juno” entraria. Não importa que “Onde os Fracos Não Têm Vez”, “Sangue Negro” e “Desejo e Reparação” sejam muito superiores a “Juno”. Só a comédia com a adolescente grávida arrecadou mais de 100 milhões nas telonas dos EUA. Os outros foram bem entre os críticos, mas qual a importância da crítica hoje em dia? Passou o tempo em que a Pauline Kael elogiava uma obra e isso bastava pra que o público comparecesse ao cinema, como ela fez com “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, por exemplo. Naquela época, um filme ficava meses, às vezes anos, em cartaz. Dava tempo do crítico recomendar o filme, amigos comentarem, e uma produção encontrar seu público. Hoje o filme precisa se pagar no seu final de semana de estréia.
como “Norbit” e “Transformers” (só pra citar dois filmes que foram indicados!) durante doze meses ininterruptos. E o “teríamos” inclui o resto do mundo. 90% das salas de cinema no planeta são ocupadas por filmes americanos. Hollywood conseguiu sua dominação internacional, e em seguida se encarregou de matar o cinema. Com tanta predominância, pode passar o lixo que quiser. Só o Oscar ainda segura as pontas. Bem ou mal, o Oscar é a última consciência do cinema americano.