“MEU CASO VIROU MINHA CAUSA”, DIZ RHANNA
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“MEU CASO VIROU MINHA CAUSA”, DIZ RHANNA



Muito boa a reportagem do Fantástico sobre o caso de Rhanna, a estudante de Direito que teve o braço quebrado numa boate em Natal. A matéria, que você pode ver aqui, diz claramente: a abordagem masculina tem se tornado cada vez mais violenta. É banal um rapaz chegar pra uma moça numa balada e pegar no seu cabelo, no seu braço, na sua cintura, e tentar beijá-la à força. Quem lhes deu esse direito?

Ontem à noite recebi por e-mail um texto que vem percorrendo o Facebook. Tentei entrar em contato com Dani, a moça que o escreveu, para pedir autorização para publicar seu relato aqui no blog, mas, como não obtive resposta, vou só descrever o que ela conta e colocar um trecho (o resto, pra quem tem Facebook, pode ser lido aqui). Ela foi a uma boate em Belo Horizonte ver o cover de uma banda. Um rapaz bombado tentou beijá-la à força, ela recusou, ele então apertou sua bunda, ela disse que iria chamar o segurança, ele a chamou de lésbica, apertou seu braço, pôs a mão por baixo de seu vestido e a tocou, jogou energético em cima dela. Enquanto ela foi atrás do segurança, ele sumiu. E reapareceu, dizendo que mulheres tatuadas são lésbicas ou p*tas (tá parecendo mascus, que em geral são misóginos, violentos, covardes, marombados, e chamam tatuagem de “carimbo de p*ta”). O segurança falou com os dois e decidiu não fazer nada. Apareceu outro que igualmente liberou o agressor. Ela foi falar com o dono da boate, que a aconselhou a se divertir, e ainda lhe desafiou: “pode chamar a polícia”.

Dani, revoltada, pergunta: “Até quando vai ser assim? Até quando as mulheres serão obrigadas a conviver com a violência? Até quando a nossa palavra não terá validade? O que sofri foi uma violência que me lesou em todos os aspectos! Fui desrespeitada por todos os homens que procurei para pedir ajuda. Sinal que todos são capazes da mesma atrocidade. Para eles, não foi nada de mais!” Dani diz que vai processar o estabelecimento.

E ela repete o que tantas moças, assustadas com essa violência, esse sentimento masculino de entitlement (merecimento), dizem: que é melhor ir a boates gays, porque lá são respeitadas. Lá os homens não dão em cima agarrando, ou “partindo pro abate”, no linguajar dos mascus.

Uma das leitoras que me mandou o e-mail disse que seu pai veio lhe perguntar o que era isso “da moça que teve o braço quebrado”. Ela contou, e o pai não conseguiu acreditar que um sujeito deu um golpe que quebrou o braço de uma menina só porque ela lhe disse não. Pra esse pai, devia ter mais coisa aí (assim como para o estudante de Direito e amigo da Hellen, que escreveu o guest post de ontem). Acho que a reação do pai da leitora é comum. Os homens parecem não fazer a menor ideia do mundo em que vivem as mulheres. Um mundo em que qualquer mulher sozinha é considerada à disposição e, portanto, não têm o privilégio de escolher, ou de negar, companhia. Um mundo em que uma mulher passa de objeto de desejo à p*ta (que merece ser agredida) em questão de segundos. Um mundo em que existe toda uma estrutura pra passar a mão na cabeça desses machinhos, que só estão agindo assim por instinto, e porque têm certeza que, no fundo, mulher gosta mesmo é de “pegada”.

Rhanna, a moça de Natal que será advogada, disse uma frase linda: “Meu caso virou minha causa”. Em outra ótima entrevista, esta à Tribuna do Norte, ela diz que não tem medo e que vai fazer a sua parte para combater a violência contra a mulher. Parabéns a ela e a Dani, que optaram por não se calar e a lutar contra seus agressores. O caso delas, e de tantas outras, reflete a velha história de sempre: homens lembrando mulheres que lugares públicos não são pra elas. Só pra eles.





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