#MinhaAmigaSecreta e os atos machistas
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#MinhaAmigaSecreta e os atos machistas


Ilustração extraída do site: Geledés
Por Lia Bianchini, no blog O Cafezinho:

Desde terça-feira (24), as redes sociais têm sido inundadas de textos e mensagens da campanha #MeuAmigoSecreto, uma onda criada por mulheres para denunciar atos machistas cotidianos que são cobertos com o véu da normalidade.

A campanha surgiu na véspera do Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher e vem dando voz, principalmente, a um aspecto quase esquecido da realidade feminina: a violência psicológica. Grande parte dos depoimentos denunciam relacionamentos abusivos, gaslighting, silenciamento em espaços políticos, racismo e lesbofobia.

Sabe-se que o Brasil está longe de ser seguro para mulheres. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o país ocupa a quinta posição no ranking mundial de violência contra a mulher. Aqui, a taxa de homicídios de mulheres é de 4,8 a cada 100 mil. Aqui, uma mulher é estuprada a cada dez minutos.

Porém, é sintomático que, no dia de enfrentamento à violência contra a mulher, as denúncias atenham-se majoritariamente ao que fere psicologicamente e não fisicamente. Esse é o cerne da mudança que precisa a sociedade machista em que vivemos. A violência psicológica é o ponto de partida para a violência física.

Um homem só chega à agressão física, ao estupro, ao assassinato porque tem a certeza de sua superioridade em relação às mulheres. Porque o machismo e o patriarcado estão tão enraizados, que fazem com que uma mulher seja vista apenas como mais um objeto de desejo e posse masculino.

O aspecto mais interessante da campanha é a complexidade dos depoimentos: ao mesmo tempo em que há uma generalidade muito grande, cada relato é incisivo e parece se adequar a um único homem. Fato que, também, só demonstra a abrangência do machismo na sociedade.

Os homens que violentam psicologicamente as mulheres são pais de família, namorados, maridos, amigos de uma mesa de bar, colegas de trabalho, são ideologicamente de esquerda ou de direita, tanto faz. Quando o assunto é o tratamento às mulheres, todos tornam-se o mesmo machista.

A exemplo da recente campanha #MeuPrimeiroAssedio, a #MeuAmigoSecreto é um passo à frente na luta que as mulheres têm empenhado por direitos e autonomia. A luta feminista no Brasil nunca esteve tão próxima de um ponto de cisão das engrenagens tradicionais e retrógradas da sociedade.

Nas redes e nas ruas, a primavera feminista brasileira vem mostrando que o tempo de abaixar a cabeça e ser subserviente às vontades masculinas passou. As mulheres brasileiras têm deixado nítido e indubitável que não mais toleram caladas as violências diárias que sofrem.

O machismo e o patriarcado dificilmente acabarão amanhã ou em um futuro muito próximo. Mas uma coisa é certa: eles não passarão impunes. Porque #MinhaAmigaSecreta não é uma, mas sim as mais de 100 milhões de mulheres brasileiras que estão dando um basta na violência machista. Vai ser impossível calá-las.




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