"NÃO GOSTO DE CRIANÇAS E VOU SER TIA"
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"NÃO GOSTO DE CRIANÇAS E VOU SER TIA"


A C. me enviou essas dúvidas.

Sou leitora do seu blog há bons anos, gosto muito, abriu meus olhos pra muitas coisas. Obrigada! De coração.
Lola, é apenas um pequeno desabafo, já que não há ninguém com quem eu possa comentar isso sem passar por um verdadeiro tribunal do meu caráter. 
Tenho 30 anos, meu irmão 40. Vou ser tia, em breve. E não estou nem um pouco feliz, pelo contrário, estou achando que o mundo precisa é de menos gente. Eu não quero ter filhos desde os 14 anos, por opção política, ambiental, filosofia de vida... Também não gosto de crianças, bebês e afins.
Minha cunhada, irmão, mãe, sabem disso. Todos. Quando vieram dar a "feliz notícia" ela, a cunhada, trouxe um presente, que deu pro meu irmão: aquelas coisas de casal, que acho que deveria ter ficado entre eles, mas me fez abrir a caixa, ver os sapatinhos, e ler o exame dela. Agora minha mãe fica toda hora: "Você vai pegar meu neto no colo?", "Você vai brincar?" 
Olha, é bobagem diante das mazelas do mundo e do que as mulheres passam por aí, mas eu me senti invadida por ela e pela situação criada. Se eu abrir a boca pra dizer com todas as letras "não gosto de crianças", vão me jogar na lata do lixo. Minha mãe tem meu irmão como filho dileto, nunca admitiu isso, só meu irmão percebeu e admitiu há muitos anos. 
Eu e meu irmão ficamos anos sem nos falar por causa da cunhada, que no início do namoro deles veio me dar ordens, brigamos e eu virei a cara pra ele. Minha mãe jogou a culpa em mim, dizendo que eu era "ciumentinha", e sacralizou os dois. Só voltei a falar com eles porque a vida me deu uma boa rasteira e eles me deram suporte emocional, não posso ser ingrata, pedi desculpas, e foram verdadeiras. Mas ela, a cunhada, continua mandona, e adora dar "sugestões" do que fazer com meu dinheiro, com meu tempo livre... Ela é espírita ortodoxa e meu irmão, que era e é católico, abraçou isso e virou um machistão, insuportável. 
Esse sobrinho  já está sendo um saco. Estou sendo pressionada a amar crianças, que eu nunca gostei -- de verdade, Lola. E sou professora, só gosto dos meus alunos, quando acaba o ano, a missão está cumprida. Veja, dizem que sou uma das pessoas mais carinhosas que tem na escola. E sou mesmo. Mas fica ali. É como eu escolhi me relacionar com eles. 
Agora estou sendo pressionada a aceitar essa felicidade que não é minha, a aceitar parentes, e amar alguém que sei q não vou amar, mas também nem odiar, apenas será indiferente. Eu não quero participar da vida dela, simples. Quero ser neutra. Deixa o bebê que vai nascer em paz, sem minha presença; mas não, sinto uma puta pressão social de que "Ah, você é tia, tem que visitar, tem que falar no Facebook, espalhar pra todo mundo".
E vai ser pior quando trazerem a criança pra cá. Não vou querer pegar e ficar perto porque eu não gosto e prevejo relações estremecidas OU eu engolindo um milhão de sapos. É muito chato porque, infelizmente Lola, tem mulheres que acham que estão acima das outras só porque serão mães, é o caso da minha cunhada. 
Minha mãe, durante os longos anos em que eu e meu irmão estivemos brigados, fez a minha caveira com a vizinhança, e um monte de gente acha que eu sou uma egoísta mimada. Meu irmão não reencanará mais, porque já espiou todos os carmas, e eu vou reencarnar muuuuitas vezes porque pequei e peco muito. Ainda bem que não acredito nisso, mas me ofende. Agora o caldo entornará de vez. Solução: ganhar na loteria e fugir. O que você acha, Lola? 

Minha resposta: Me identifiquei com o seu email, C., porque eu já fui assim. Talvez seja uma defesa que muitas mulheres que escolhem não ter filhos usam. Porque, como você sabe tão bem, a gente é cobradíssima pra ter filho. Então eu, durante muito tempo, dizia (e acreditava) que não gostava de crianças. Mas a verdade é que eu não tinha nenhum contato com crianças, e também não tinha vontade. Mas você não acha chato ficar batendo no peito e orgulhosamente falando "Não gosto de criança!"? 
E, assim como você (imagino), eu fiz Pedagogia sem gostar de criança. Dei poucas aulas pra criança, quase todas no estágio, algumas substituindo professoras na escola de inglês, e, salvo exceções, me dei muito bem com elas. Aí, no mestrado, fiquei amiga da Ju, que na época tinha um filho de 6 anos, o Jimmy. E me apaixonei pelo Jimmy. A gente conversava muito, ele me usava como trampolim e escorregador, eu ensinei pôquer pra ele, ele viciou. 
Ano passado eu conheci a Juh, filha da Kah. Juh não tinha nem 4 anos completos, e foi amor à primeira vista. Ainda não ensinei pôquer pra ela, mas já peguei muita praia com a menina. E claramente eu tenho muita autoridade com crianças, como pode ser visto neste vídeo. Elas me respeitam.
Continuo sem querer ter filho, mas nunca mais disse que não gosto de criança. Como não gostar? Elas são tão fofinhas, tão divertidas, tão inteligentes! Certo, continuo achando bebês meio feiosos e sem graça (mas já vi alguns lindinhos!), e nunca pus um bebê no colo (não me sinto confortável com isso, tenho medo que eu deixe cair e ele quebre), nem troquei uma fralda, e pretendo levar isso até o túmulo. E sim, meu coração não bate apressado quando eu vejo uma criancinha, diferentemente do que acontece quando um gato ou cão ou esquilinho (bons tempos) passam na minha frente. Mas isso não quer dizer que eu não goste delas.
Mas, eu sei. Pra gente que não quer ter filhos, é um suplício ficar numa roda com grávida. Porque sempre, sempre vai chegar um ponto da conversa em que alguém vai te encarar e fazer a fatídica pergunta: "E o seu?" E aí você tem que explicar, sem ser deselegante, que você não quer ter filhos, nunca quis, nunca vai querer. E o pessoal não acredita! (hoje acho que isso está mudando, aos poucos. Tem muito casal sem filho, o número de filhos diminuiu um monte, e a idade em que as mulheres têm filho aumentou. Mas leva tempo pra cultura assimilar essas mudanças).
Uma coisa que a gente precisa entender é que as pessoas têm prioridades diferentes. E acho totalmente normal que quem tem um bebê ache esse bebê o ser mais importante do universo. Tem que respeitar e ser delicada. Eu sei que exageram! Até hoje me lembro de um vizinho querido que levou o vídeo do parto do seu primeiro bebê pra eu assistir junto, porque ele tinha filmado tudo. Querido, com toda a admiração, eu sei que esse é o momento mais especial da sua vida, mas... eu não quero ver duas horas de câmera tremida registrando o parto do seu filho!
E eu sempre lembro do protagonista adulto de Um Grande Garoto, que vai se encontrar com um casal muito amigo seu que quer contar tudo que acontece no dia a dia do filho deles. E o protagonista pensando: "O que há pra contar? Ele tem TRÊS ANOS!" (mas até aí, a Juh também tinha, e o dia dela era emocionante. Quer dizer, não é que ela se formava em Harvard, mas e o dia em que ela abriu o berreiro numa doceria e quase foi expulsa? Seus pais não vão mais lá, têm vergonha).
Tente se colocar no lugar deles. Imagine que alguém vai na sua casa e não dá nenhuma atenção pra algo que pra você é muito relevante. É ruim, não é?
Então eu diria pra manter uma mente aberta, sem preconceitos. Esqueça isso de "não gosta de crianças". Você trabalha com crianças e é carinhosa com elas -- desculpe te decepcionar, mas você gosta sim. Gosta do seu modo, e quem disse que existe um modo correto? Você não vai ter que morar com seu irmão e cunhada (ainda bem!), só terá que visitá-los de vez em quando. 
Vá e estabeleça seus limites. Eles vão conseguir sobreviver se você não pegar o bebê no colo. Seja gentil, seja uma boa ouvinte, e entenda que aquilo é importante pra eles. 
E, se você chegar num ponto que não aguenta mais, encerre as visitas, porque você não é obrigada. Mas tente. E fique zen.




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