"NÃO QUERO UM MACHISTINHA NA FAMÍLIA"
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"NÃO QUERO UM MACHISTINHA NA FAMÍLIA"


A J. me enviou este email:

Já aviso que não sou feminista, mas foi graças ao feminismo que me livrei de DIVERSAS ideias e atitudes machistas (sim, tenho vergonha de falar que já fui machista). Sou o típico caso da família que é naturalmente machista, mas em contrapartida sou filha de mãe solteira que enfrentou o pai (meu avô) por amor a essa que vos escreve...
Quero cada vez mais conhecer o feminismo pois ele me faz crescer em TODOS os aspectos! E desde já te agradeço por me fazer crescer assim... Conheci seu bloguinho há mais ou menos um ano e meio e desde então, mudei muito e sinto orgulho de tais mudanças!
Estou com meu marido há sete anos, nos casamos há sete meses e estou grávida há cinco meses! Pois é, fomos rápidos, escolha nossa mesmo.
Meu marido é o caçula de três irmãos, uma família muito pobre, que lutou MUITO para levar uma vida digna. Sempre percebi em minha sogra uma mulher guerreira, batalhadora mas sempre um pouco solitária, sempre com algo a desabafar, por isso sempre conversamos bastante. Já com meu sogro a história é diferente. Sempre evitei dialogar com ele porque é algo enervante. Ele é aquela figura machista, que acha que mulher "deve se dar o respeito".
Mesmo antes de conhecer o feminismo eu sabia que tinha algo de errado nessas ideias dele. São tantas coisas que ele faz que me irritam... 
Como quando aparece uma moça de biquini na TV ele já solta "puta, vagabunda, biscate". Essas são as três palavrinhas típicas dele, que diz que "está apenas brincando". Ou quando ele (constantemente) começa uma conversa para falar sobre as mulheres que traem seus maridos ("porque é um absurdo, onde já se viu, muitas MULHERES fazem isso"). Ah, e teve o dia, logo no meu primeiro ano de namoro, que em meio a uma conversa, não me lembro sobre o quê, ele disse a famosa frase "filho do meu filho, meu neto É. Filho da minha filha, meu neto SERÁ".
Há uma semana estávamos conversando e ele me disse "Sei que você não gosta que peguem na sua barriga, mas quando ela estiver grande eu vou pegar sim, porque é meu neto e eu peguei na barriga das minhas outras noras também". Óbvio que ele disse isso na maior naturalidade, e eu? Bom, eu fiquei sem reação... como aconteceu das outras vezes em que ele disse as coisas que citei acima. 
Aliás, falando sobre "corpos grávidos", falei sobre o assunto no bendito Facebook e até postei o guest post do seu blog falando sobre isso. Não preciso nem falar o quanto as pessoas ficaram indignadas ao saber que "meu corpo não é público". Umas até levaram para o lado pessoal e pediram desculpas por querer fazer um carinho no meu bebê (oi?). Enfim...
Voltando ao meu sogro, Lola, em suma, tenho medo da influência que ele pode ter sobre o meu filho, afinal, pretendo fazer com que ele respeite as pessoas e suas escolhas, sem julgá-las, sem atacá-las. Quero ensinar que todo ser é ÚNICO e que ele pode ser quem ele quiser!
É claro que sei que tudo isso vai depender de mim e do meu marido. Felizmente, meu marido também discorda dessas ideias machistas do meu sogro. Mas também não posso evitar que meu filho conviva com os avós... Sei lá, muitas vezes não sei o que fazer.
Ah, apenas falando só um pouco da minha sogra. Em uma de nossas muitas conversas, ela me contou como meu marido foi concebido: ela e meu sogro estavam em uma festa. Na época, estavam quase se separando. Ela bebeu bastante nessa festa. Em um certo momento ela não estava se sentindo bem e meu sogro a levou p/ casa e a colocou na cama...e daí ela não lembra de muita coisa. Tempos depois descobriu que estava grávida.
Sem contar os relatos do meu marido sobre as vezes em que o pai chegou em casa bêbado e agrediu a mãe e ele, com apenas 14, 15 anos tendo que 'ir para cima' pai para evitar que sua mãe fosse agredida.
E aí Lola, como não temer uma influência dessa?

Minha resposta: De fato, parece ser uma figura bem nefasta esse seu sogro. Eu também não ia querê-lo perto de mim, e muito menos perto de uma criança. Mas não sei se você tem muita escolha. 
Ele será o avô do seu filho, e de repente as besteiras que ele diz pra você e pro mundo não serão repetidas pro neto. De maneira geral, as pessoas são diferentes com cada um. Só porque seu sogro é um escrotossauro contigo não quer dizer que ele será igual com o neto. Vai saber? Talvez ele seja um carneirinho com o neto. 
Acho que você pode cobrar que ele não fale essas asneiras perto de uma criança. Vai criar um climão, eu sei, mas comece a reagir de leve. Quando seu sogro soltar uma das dele, diga "Ah, as coisas ridículas que você diz!", sem muita seriedade, zombando dele. Quer dizer, estou sugerindo. Sei como é difícil, na hora, a gente rebater. Mas não é pra iniciar um debate, é só pra apontar que ele não está agradando. 
Termos como "puta, vagabunda, biscate" ele não vai poder usar diante de uma criança, vai? Tá, sei que os machistas ridículos usam, crentes de que estão ensinando o menino a "ser homem". Mas deixe claro que não aceita esses termos, e que você e seu marido, como pais do menino, não querem que ele seja educado pra ser um machista. Se seu sogro perguntar "por que não?", explique que, hoje, um homem chamar uma mulher de vagabunda por qualquer motivo que seja não é mais aceitável. Que esses julgamentos moralistas ficaram pra trás. Que você quer um filho que ame e respeite as mulheres (e os homens também), e que seja amado e respeitado por elas. 
E sobre tocar na sua barriga... A barriga é sua, toca nela só quem você quiser. Seja insubordinada. É uma pena que ele não vai gostar de você. Provavelmente já não gosta, mas dane-se. 
Se você conseguir se impor sem cortar a relação, ótimo. Senão... Não sei se tem algum jeito de sentar com seu sogro e falar pra ele o que te incomoda. Ou ele vai dizer que "estava brincando", ou ele vai ficar muito bravo por ser criticado por alguém que, pra ele, está numa posição duplamente subalterna (por ser mulher, e por ser casada com o fiho dele, em quem ele acha que manda). 
Eu digo tudo isso, mas a verdade é que eu nunca tive avôs. Só conheci, e muito pouco, a minha vó Tina, mãe do meu pai, uma senhora ranzinza, séria e distante (tanto emocional quanto fisicamente, já que ela morava na Argentina e creio que só veio nos ver duas ou três vezes). Ela morreu quando eu ainda era criança, então realmente me lembro pouco dela (não lembro de tê-la visto sorrir alguma vez; lembro do meu pai chorando quando soube da sua morte). Meus outros avôs morreram antes de eu nascer. Eu vejo crianças com avôs bondosos, e isso é muito bacana. Acho que é melhor pra uma criança ter contato com seus avôs, mesmo que eles não sejam tão boa gente, do que não ter. 
E lamento te informar, mas seu sogro não será a única má influência do seu filho. Nem de longe. Vamos ver se as boas influências que você e seu marido vão passar pra ele superem as más. Espero que sim!




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