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"O QUE FAZER DIANTE DE CRÍTICAS RIDÍCULAS?"
A C. me fez essa pergunta:
Estou escrevendo porque ontem passei por uma situação um pouco chata entre família. Eu não soube como agir. Parece que quando vem de amigos é mais fácil você ignorar, mas quando é família, pessoas com quem você se importa, falando coisas completamente machistas, você fica não só pensando "Cara, que m*rda que alguém tão próximo de mim pensa assim". E quando aquilo que eles falam se aplica a você, você não sabe se deve ficar chateada ou se deve deixar pra lá. A situação foi a seguinte: depois da minha formatura na faculdade, saímos pra jantar, eu, minha mãe, minhas irmãs, meu pai e a namorada dele. Meu pai está saindo do segundo divórcio, e essa namorada dele se dá super bem com a gente e com minha mãe, já considero da família (o relacionamento entre ela e meu pai é daqueles que você sabe que vai durar). Nem ela nem minha mãe se dão bem com a segunda mulher do meu pai, não trocam um oi. Tudo estava bem no jantar, até que a conversa virou um festival de "vamos falar mal da ex". Ela realmente não é uma pessoa muito legal. Mas aí o assunto chegou na aparência física. Começaram (só as mulheres, meu pai ficou quieto o tempo todo) a falar sobre o quanto ela era "baranga", sobre como se vestia mal, como o corte do cabelo dela era feio. Aí minha irmã solta: "Mas não é que ela é feia, o problema é que ela não tem vaidade nenhuma!", e começaram a falar disso como se fosse a maior falha dela! E minha mãe falou: "Mas eu também não, eu não uso maquiagem nem nada, minha beleza é de água e sabão". E minha irmã: "Mas não é assim, mãe, você tem pelo menos um mínimo de vaidade, você seca o cabelo quando sai do banho, você quando tem tempo vai no salão fazer as unhas, ela nem isso!" E as críticas continuaram. Lola, fiquei sem saber o que fazer. Primeiro pela quantidade de machismo nas críticas. A ex do meu pai tem muitos defeitos, mas querer se concentrar nisso como se fosse o pior? Pra mim tá errado! Além do que, meu pai a achava bonita (quando ele começou a namorar com a atual dele, antes de me apresentar a ela ele disse que a ex era mais bonita -- apesar de -- e esse apesar é adição minha, não dele -- a atual ser muito mais vaidosa do que a ex). Se ela se sentia bem como estava e meu pai também gostava, pra que ela ia ficar se produzindo toda? E outra coisa, isso também se aplica a mim. Tenho fases em que faço as unhas em casa toda semana, mas às vezes fico meses sem fazer. Tenho o cabelo comprido, e fazia escova progressiva exatamente pra não ter que perder tempo todo dia me dedicando a cabelo. Não uso maquiagem a não ser em casos de festas. E aí fiquei pensando: "Espera, essas pessoas que eu amo não só usam esses conceitos ridículos pra criticar os outros, como também pensam tudo isso de mim! Acham que sou menos por 'não ser vaidosa'!" A namorada do meu pai criticou que a ex não usa vestidos curtos e shorts, e aí meu pai disse: "Mas é porque ela tem muitas varizes nas pernas, ela não se sente bem", e a namorada do meu pai retrucou que uma outra filha dele também tinha, e usava mesmo assim. Daí minha irmã falou: "Ela tinha que fazer cirurgia pra retirar!", e meu pai: "Ela já fez, mas voltou tudo", e minha irmã: "Então ela tinha que fazer de novo!" Não tenho nada contra cirurgias estéticas, agora os outros dizendo o que alguém tem ou não tem que fazer? E ainda por cima uma coisa que ela já fez e não deu certo! Fiquei quieta. Depois no carro estávamos só eu e minha mãe, e eu falei sobre o quanto eu achei a conversa superficial, sobre como ninguém é menos que ninguém por não ter vaidade, mas acho que ela não entendeu bem, acabou caindo na questão de confundir com higiene (que eu corrigi), mas não tive muito progresso. Depois fiquei pensando no que eu deveria ter feito, se ficar quieta foi a melhor opção, se eu deveria ter reagido, e em como devo reagir das próximas vezes. Minha vontade é sempre reagir, mas acho que uma discussão num restaurante talvez não seja o melhor lugar pra dar uma aula de feminismo, eu falaria e não mudaria a opinião de ninguém. O que você acha?
Minha resposta: Querida C., se você não vai expor sua opinião nem quando está entre familiares e amigas, vai expor quando? Eu acho que você deve sim colocar o seu ponto de vista. Ainda mais porque muito do que falaram sobre a ex do seu pai se aplica a você. E creio que isso te deixou bastante insegura, que foi esse lado que fez com que você me escrevesse.Bom, absolutamente tudo que a atual namorada do seu pai, sua irmã e sua mãe criticaram na ex poderia se aplicar a mim, a você, e a um monte de outras mulheres. Uma mulher com "falta de vaidade" é vista como uma subversiva (no mau sentido). Imagina só, a maior missão que uma mulher tem no mundo é ser decorativa (e ser mãe), e ela vai se furtar a isso?! Paredón nela!Vaidade parece ser apenas um sinônimo para consumo. Eu nem sei se sou ou não sou vaidosa, nem penso nisso, mas tenho certeza que poupo tempo e dinheiro ao não fazer o que a sociedade espera que eu faça -- por ser mulher. Nunca fiz as unhas na vida, nem paguei pra fazer, não uso maquiagem, vou ao cabeleireiro para tingir e cortar o cabelo a cada seis meses. Não tenho varizes, mas tampouco uso vestidos curtos e shorts, porque prefiro calças mais confortáveis. Só compro roupas ou sapatos quando preciso. Ou seja, gasto tanto me enfeitando quanto o maridão gasta -- muito, muito pouco.(E, pelamor, não estou condenando quem faz tudo isso. Faz quem quer. Ninguém é menos feminista por usar esmalte e cílios postiços. Mas o mundo critica as mulheres que não "se arrumam", que "não são vaidosas". E, claro, também critica aquelas que se arrumam demais -- peruas, fúteis, patricinhas. Ok, o mundo critica mulheres, ponto). |
Eu no meu banheiro em Detroit em 2008, quase pronta pra sair na rua |
Eu me depilo rapidinho no chuveiro, com gilete. Lavo meu cabelo (a cada dois dias) e saio, sem secar com secador. Nem tenho secador. Li outro dia que tem gente que acha que quem faz isso acabou de sair de um motel. Só rindo, porque eu faço isso direto! Só deixei de sair com cabelo molhado na vida quando morei em Detroit... porque lá é tão frio que o cabelo pode congelar e quebrar (ou foi isso que me falaram, e eu acreditei -- não subestimo frio de quinze graus negativos). Eu sempre fui assim, toda a minha vida. E imagino que muita gente já me criticou pelas costas por "não ser vaidosa". Mas nunca liguei, porque estou ciente das minhas escolhas. Já contei essa história uma vez: um colega meu de Pedagogia foi assistir uma aula minha, de inglês, anos atrás. A ideia era dar retorno, sugerir o que poderia ser melhorado. Pois bem. O único feedback que o banana me deu foi que não gostava das minhas roupas. Agora me diga: passar duas horas observando a aula de alguém pra depois criticar as roupas da professora fala mais de mim ou dele?Já que apenas condenar a aparência de alguém por estar fora dos padrões pode parecer superficial e estúpido, as pessoas inventaram o negócio da higiene. Então, se você não faz as unhas, é porque é uma porca. Se você não se depila, é uma ogra e ainda por cima cheira mal. Se você sai de cabelo molhado... ahn, aí não sei o que dizem, porque como pode ser sujo, se você acabou de lavar o cabelo? Mas aí dizem que você veio de um motel (ha ha, ótimo, que digam! Eu vivo em motel então!).Grande parte dos insultos que recebo de trolls que nunca me viram ao vivo não é só que eu sou uma mocreia baranguda e dragãozílica -- é que sou fedorenta também! Eles não gostam do meu cabelo por ele não ser liso, então dizem que meus cachos são imundos. E por aí vai. E olha, não é pessoal. Se eu fosse o focinho da Gisele Bundchen, diriam exatamente a mesma coisa (só que, em vez de me chamar de gorda, me chamariam de nariguda, de esqueleto anoréxico). Na realidade, eles me xingam porque eu incomodo. E eles xingam uma mulher atacando sua aparência, porque, na sociedade em que vivemos, a aparência é considerada fundamental pras mulheres. Ao mesmo tempo, é também uma espécie de patrulha. Como ouso não fazer chapinha? Como ouso não fazer dieta pra emagrecer? Como ouso não me vestir como uma professora universitária? (eu perdi o memorando que dizia como professoras devem se vestir). Então são duas as suas principais dúvidas, pelo que captei. Uma, é se você deve se importar com essas críticas ridículas. A resposta é um sonoro não. A outra é se você deve falar o que pensa. A resposta é um estrondoso sim. Com trolls não adianta argumentar, mas com gente que importa, claro que sim. Como você pretende mudar o mundo sem se impor, sem fazer a sua parte, sem balançar as estruturas do preconceito da sua família?
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