GUEST POST: MINHA FAMÍLIA, MEUS PIORES INIMIGOS
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GUEST POST: MINHA FAMÍLIA, MEUS PIORES INIMIGOS


O triste relato da L.:

Você precisa saber o quanto me ajudou e o quanto sou grata por você. Tenho 22 anos e minha até então jornada aqui não foi fácil, não é apenas drama como algumas pessoas me dizem. 
Aos 12 anos eu comecei a sentir as mudanças, tanto em relação a mim quanto às exigências físicas e "morais". 
Sempre tive tendência para ser cheinha (gorda pra mim não é mais ofensa, que mal há nisso!?) e não me privava de comer o que eu queria, eu era feliz, me achava uma criança bonita! Criança gosta de doce, refrigerante... 
Um grupinho da escola sempre dizia que eu estava gorda. Fui eleita a mais feia da sala. Isso me afetou bastante e eu (uma criança! Não tinha nem idade pra me importar com aparência!) emagreci. Não porque queria me ver magra, mas porque queria me ver em paz, sem que as pessoas usassem o meu peso pra me ofender. 
Minha família toda me lembrava sempre como eu era "feia". Aos 14 anos começaram as festinhas, os bailinhos. A mãe de uma amiga falou pra minha avó que me viu com um moço bonito. Não demorou muito pra minha mãe falar "É, dizem que você fica com uns moços bem bonitos mesmo assim, né?". Mesmo assim? Meu Deus. Terrível ouvir isso da minha própria mãe, e pior: sentir que ela acha que você é uma coisa não tão boa. Sentir que nas palavras dela pesa o sentido de que eu mereço o pior, não falo só por isso, mas por muitas coisas. 
Minha família é machista. Cresci ouvindo que menina de família não poderia fazer isso nem aquilo. Cresci com a minha mãe me ofendendo sempre, com a minha vó e minhas tias, todas e todos me cobrando algo, com muita violência verbal. 
Minha mãe engravidou de mim solteira aos 17 anos e ela mesma é usada como um padrão que não se deve seguir. A "proteção" dessas mulheres virou uma coisa exagerada e prejudicou minhas amizades. 
Eu, aos 15 anos conheci pessoas muito boas, estava muito feliz com tudo o que havia me acontecido. Tinha vários amigos! Saía bastante (com muita resistência, muitos gritos e violência física, mas não deixava nada disso me interromper pois eu tinha e tenho sede de viver). E eu tinha um melhor amigo gay. Ou melhor: vários melhores amigos gays. Minha família quando descobriu fez questão de afastá-los de mim... E isso me dói até hoje. 
Não suporto a perda das melhores pessoas que eu tive o prazer de conhecer! Afastaram as pessoas que eu mais amava por preconceito, por machismo de que "eu iria ser mal falada" "você vai virar lésbica". 
Hoje eu sou uma pessoa sozinha. Me pego chorando porque as violências verbais e físicas me tiraram tudo. Dizem que isso não é desculpa pra não progredir, mas quem diz isso não vê o quanto tenho medo de começar algo novo em função de todo esse trauma. Toda vez me lembro que, mesmo com 18 anos, minha mãe me telefonava quando eu estava junto dos meus amigos pra me xingar. 
Meu celular estava num tom alto e então ela gritava VACA. Todos ouviam. Ninguém mais me deu notícia. Ela afastou quase todas as poucas coisas boas que eu tive. Sinto que minha mãe tem ódio de mim. Eu era uma mulher machista por causa dela, cresci com ela dizendo que eu tinha que arrumar um homem para me sustentar. Quando tive um namorado e saímos junto com ela, eu e ele dividimos nossa parte e ela achou aquilo um absurdo. 
No mesmo dia ela começou a fazer algo ainda mais ridículo. Eu estava com ela na sala e, com tom de ironia, ela começou a dizer: "Nossa, que namorado! Feio, magrelo e não paga nem a conta! prefiro o meu namorado..." Cheguei até a pensar que ela quisesse competir comigo. 
Eu nunca morei com ela. As poucas vezes que vou visitá-la ela faz quase a mesma cena, mas ao invés de dizer que eu estou gorda, hoje ela diz o quanto estou magra e como estou feia. Que estou doente. É sempre uma crítica nova. 
Até hoje me dizem o que devo e o que não devo fazer pra não manchar o nome da família. Mas acontece que hoje eu já não tenho mais vontade de sair, me encontro numa depressão e obsessão pela minha magreza e aparência. Tenho medo de experiências novas, tenho medo de ser rejeitada, choro com frequência. 
E isso já faz tempo, sei que preciso criar forças pra quebrar essa jaula em mim. Uma boa parte eu já desmontei, já não sou mais uma das pessoas machistas, embora ainda precise me policiar mais. Preciso esquecer tudo o que minha família me causou, ou não deixar mais que isso me deixe tão mal. Preciso olhar pra frente. Obrigada, Lola. Você me ajuda muito. Você me ajudou muito, começo dizendo isso e termino repetindo. E repito quantas vezes mais for possível.

Meu comentário: Querida L., nem sei o que dizer. Você já sabe o que fazer, que é superar esses traumas. Espero que você consiga voltar a fazer amigos e se afaste um pouco das pessoas que te põem pra baixo, caso da sua mãe. Como você não mora com ela, talvez não seja tão difícil se afastar. Se você tem a opção de deixar essas visitas que faz a ela mais espaçadas, faça isso. 
Você já mudou sua opinião sobre uma série de coisas. Você sabe que o que sua mãe e outras pessoas da família te diziam era errado. Era errado porque era preconceituoso. Era errado porque afetou sua autoestima. Lembra quando você tinha 15 anos e, apesar da resistência da sua família, você saía e tinha amigos, porque você tinha sede de viver? Então. Você mesma escreveu "tinha e tenho muita sede de viver". Ou seja, você sabe que ainda tem toda essa vontade. Não deixe que sua família te impeça. Quebre esta jaula. 




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