Por Luis Nassif, no Jornal GGN:Ainda haverá uma nova enxurrada política este mês, tentando reavivar o fantasma do impeachment, antes que o país recobre a normalidade política e a disputa governo oposição volte ao trilho das críticas e propostas.
A estratégia é conhecida.
De um lado, delegados e procuradores criam fatos políticos novos, através de novas ações, novas denúncias ou vazamentos. A imprensa ecoa. A parceria visa recriar o clima pró-impeachment com vistas às manifestações marcadas para inicio de março.
*****
Os dois focos principais dessa parceria oposição-procuradores são a Lava Jato e o Ministério Público Federal do Distrito Federal. Durante a julgamento do “mensalão”, como se recorda, entre outros feitos o MPF do Distrito Federal valeu-se do álibi de uma denúncia anônima para rastrear até os telefones do Palácio do Planalto.
Do lado da Lava Jato, o aquecimento atual são as notícias sobre o o tal tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia.
De Brasília, os procuradores agitaram a questão da Medida Provisória da indústria automobilística, uma prorrogação de prazo de outra MP, dos tempos de Fernando Henrique Cardoso, que contou com o endosso de todos os partidos políticos no Congresso.
Gastou-se esforço, recursos e tempo em uma clara mudança de foco, deixando para segundo plano o ponto central das denúncias, a corrupção no CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
*****
A próxima ofensiva será sobre a licitação FX, na qual o governo optou pela sueca Saab-Scania, em detrimento da Dassault francesa e do F-18 norte-americano. Depois disso, provavelmente farão denúncias sobre a compra de submarinos, sobre acordos comerciais, sobre o Plano Brasil Maior, sobre o Bolsa Família, sobre a compra de flores pelo Palácio em uma lista infindável destinada a congestionar o debate político.
Pouco importa se o processo FX foi tratado pelas Três Armas, se a própria Força Aérea Brasileira havia optado pelos suecos. A exemplo da Medida Provisória, quem propõe a ação não visa resultados jurídicos, mas políticos.
*****
De representação em representação, de processo em processo vai-se ampliando a interferência do Ministério Público no jogo político, através da ação individual de procuradores militantes ou meramente exibicionistas.
Não se trata de uma ação de poder. Institucionalmente, desde a Constituição de 1988 o Ministério Público Federal foi responsável por grandes avanços civilizatórios, ajudando a concretizar princípios delineados na Carta Magna. Medidas relevantes em favor das minorias, dos direitos sociais, dos direitos humanos, contra a corrupção, em todos esses avanços identifica-se a ação institucional do MPF.
Mas em que pese a respeitabilidade de muitos de seus membros, não logrou impedir a ação aventureira de jovens procuradores, a partir do momento que a Lava Jato ganhou protagonismo político e que a cúpula do MPF passou a aceitar passivamente a parceria procuradores-mídia.
As prerrogativas dos procuradores acabaram sendo utilizadas para ingressarem de cabeça no jogo político.
*****
Trata-se de questão delicada para a própria independência futura do Ministério Público. Não é possível a qualquer democracia conviver com tal nível de interferência política, de facciosismo, que vai muito além da apuração da corrupção.
Mais cedo ou mais tarde, o MPF e o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) terão que encarar essa questão, antes que o tema seja apropriado por seus adversários.
O GLOBO - 26/01 A carta de advogados com críticas à Operação Lava-Jato e ao juiz Sérgio Moro - já identificada como estratégica saída da defesa de Marcelo Odebrecht, e uma possível "campanha de comunicação" para tentar influenciar a opinião...
O GLOBO - 18/04 Disputa mostra como são pouco republicanas as instituições. A disputa corporativa entre a Polícia Federal e o Ministério Público é exemplar do baixo índice de republicanismo que nossas instituições possuem. Nesses casos,...
O GLOBO - 16/06 Algumas categorias profissionais, por diversas e específicas razões, têm uma consciência de corporação maior que outras. Este sentimento nem sempre é benéfico, pois tende a sobrepor interesses de grupos aos da sociedade. Como a...
Por Luis Nassif, no Jornal GGN: Ontem, a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) soltou uma nota curiosa. O mote da nota é o vazamento de informações visando comprometer o senador Randolfo Rodrigues (Rede-AP). “No que se refere...
http://pigimprensagolpista.blogspot.com.br/Por Luis Nassif, no Jornal GGN: Há um grande mérito na Lava Jato e uma grande interrogação. O mérito foi o de ter, pela primeira vez, investigado uma das fontes centrais históricas do poder político brasileiro:...