A arrogância colonial contra o Equador
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A arrogância colonial contra o Equador


Allan Mcdonald
Editorial do sítio Vermelho:

A arrogância e o velho hábito colonialista de ditar ordens para nações que julga dirigir, levaram o governo britânico do primeiro-ministro conservador David Cameron a cometer uma violação grosseira das normas da diplomacia que, seja qual for seu desfecho, terá um sabor de derrota para os ingleses. O Foreign Office (o ministério das relações exteriores de lá) colocou o Reino Unido na situação que a linguagem popular descreve como “sinuca de bico”.

O estopim do problema é a resistência britânica a aceitar o asilo diplomático reivindicado por Julian Assange, que se refugiou na embaixada do Equador, em Londres, para escapar da perseguição política e da ameaça de ser entregue ao governo dos Estados Unidos.

Há pelo menos dois aspectos envolvidos no problema. O primeiro diz respeito à defesa da liberdade de expressão e de imprensa. Desde 2010 o portal WikiLeaks, criado por Assange, divulgou montanhas de documentos secretos da diplomacia dos EUA revelando ao mundo as tramoias que movem a ação do imperialismo pelo mundo, as guerras e agressões aos povos.

Oportunamente, para o imperialismo, Assange foi acusado na Suécia de estupro; preso na Inglaterra (em dezembro de 2010), estava na iminência de ser extraditado à Suécia para ser julgado. Assange nega a acusação de estupro e teme ser enviado para julgamento nos EUA sob a acusação de espionagem, podendo receber pena de morte ou de prisão perpétua.

O outro aspecto está ligado à defesa e afirmação da soberania das nações e ao respeito da legislação internacional que regula as relações entre os países.

A representação diplomática é inviolável – este princípio foi firmado há mais de meio século e é uma das cláusulas pétreas da Convenção de Viena, de 1961.

O grave erro cometido pela arrogância britânica decorre justamente da ameaça de desrespeitar este princípio. Movido por instintos dominadores seculares e que, hoje, estão em claro declínio, o Foreign Office pressionou o governo do Equador com a ameaça de invadir sua embaixada em Londres para prender Assange.

A resposta do governo do presidente Rafael Correa foi soberana: concedeu asilo a Assange e denunciou a ameaça imperialista. O Equador, disse Correa, nunca “aceitará ameaças como as totalmente grosseiras e intoleráveis apresentadas pela Grã-Bretanha nesta semana”. “Não vamos entregar a nossa soberania”, assegurou.

A pronta reação equatoriana configura a situação difícil em que a chancelaria britânica se encontra nesta pretensão inaceitável, e os cenários possíveis são desfavoráveis para os colonialistas. Uma volta atrás por parte do Foreign Office dificilmente deixará de ser encarada como uma derrota; manter a embaixada cercada por policiais (como se encontra desde 19 de junho, quando Assange se refugiou ali) será também uma derrota política para os ingleses; a invasão da embaixada constitui o pior cenário, o de rasgar acordos internacionais e jogar as relações internacionais à lei das selvas, com riscos para as próprias embaixadas britânicas e de outros países imperialistas mundo afora.

Esta derrota se configura também por outro aspecto: o de fortalecer a unidade entre os países da América do Sul, que se mobilizam em defesa da soberania do Equador. Mesmo a Organização dos Estados Americanos, a desmoralizada OEA, mobilizou-se e marcou uma reunião extraordinária para o dia 24 (sexta-feira). A Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) e a Unasul também realizam reuniões. A diplomacia brasileira defendeu a inviolabilidade da embaixada equatoriana em Londres e o respeito à soberania do país. É um quadro de evidente isolamento dos que substituem a diplomacia por métodos violentos.

Além da defesa da liberdade e da integridade de Assange, na embaixada do Equador em Londres desenvolve-se mais uma etapa do fortalecimento da soberania nacional contra a arrogância imperialista e colonialista. E seu resultado vai desmoralizar ainda mais a pretensão de mando e de domínio que move governos europeus e dos EUA e confirmar ao mundo a compreensão unilateral e exclusivista daquilo que as nações imperialistas apregoam, ideologicamente, como defesa da liberdade, dos direitos humanos e do respeito à legislação internacional.




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