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À beira da irrelevância - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/01
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, terá uma tarefa árdua pela frente: tirar o Brasil da quase irrelevância nas relações políticas e econômicas internacionais. Ele destacou no discurso de posse a necessidade de ampliar o comércio internacional, o que parece indicar que o Itamaraty dará mais atenção ao comércio exterior - uma necessidade - do que à política, que pode vir a ser uma consequência. A quase irrelevância política brasileira, dentro e fora dos Brics, foi confirmada em recente pesquisa do Ash Center para Governança Democrática e Inovação, da Harvard Kennedy School, que perguntou a cidadãos de 30 países suas opiniões sobre 10 influentes líderes nacionais que têm impacto global.
Enquanto Rússia e China surgem como lideranças reconhecidas, Brasil e África do Sul aparecem entre as menos importantes do grupo. As notas médias mais altas de conhecimento são para o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos (93,9%), para o presidente Vladimir Putin, da Rússia (79,3%), e para o presidente Xi Jinping, da China (59,12%).
Os líderes nacionais menos conhecidos são o presidente da África do Sul, Jacob Zuma (27,8%), e Dilma Rousseff, do Brasil (25,4%). O diretor do Ash Center, Tony Saich, comenta que "claramente nenhum dos dois é visto como capaz de desempenhar um papel importante".
O primeiro-ministro da Índia, Narandra Modi, recebe um tratamento neutro na interpretação de Tony Saich, pois, ao mesmo tempo em que aparece em antepenúltimo lugar na percepção dos cidadãos de outros países, está em terceiro lugar como um dos líderes mais bem avaliados por sua própria população.
Saich atribui essas contradições ao fato de que Modi foi eleito no início de 2014 e, se ainda vive uma lua de mel com seus eleitores, é desconhecido no resto do mundo. Putin divide opiniões com apenas um terço dos países dando a ele nota acima de 6, mas é bem visto no Vietnã e na China.
Essa opinião dividida faz com que a média para Putin entre os 30 países (6) seja a mais baixa entre os 10 líderes. O presidente chinês Xi Jinping tem a nota mais alta (7,5) porque, com exceção do Japão, ele é razoavelmente bem recebido em todos os países da pesquisa. Obama aparece em sexto lugar, com nota 6,6, ficando abaixo de Dilma, que obteve 6,8.
A presidente consegue uma média mais alta na avaliação dos cidadãos de outros países do que no Brasil (6,3), em especial porque recebe nota 7 ou pouco mais nos países dos Brics e nos EUA.
A chanceler Angela Merkel, da Alemanha, obtém o melhor resultado na avaliação de quem tem mais condições de lidar com as questões domésticas e internacionais por ter sido colocada entre os três primeiros por 23 dos países pesquisados, sendo que em 13 deles fica em primeiro.
Merkel não é bem vista, no entanto, na Rússia, país que ela tem criticado muito, e na Espanha, devido à sua liderança europeia pela contenção de gastos. Obama, apesar de notas desfavoráveis dos próprios americanos, tem boas notas em outros países, com exceção da Rússia e do Paquistão.
Tony Saich diz que, se por um lado essas notas são esperáveis, a avaliação baixa (5,8) no Japão é surpreendente. A pesquisa define que existem quatro líderes que têm altos níveis de confiança pela maneira como lidam com questões internas e externas: o chinês Xi Jinping; o russo Vladimir Putin; o indiano Narandra Modi e a alemã Angela Merkel.
Os presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, François Hollande, da França, e Jacob Zuma, da África do Sul não inspiram confiança na maneira como lidam com estas matérias.
Mau sinal
O recuo do Ministério do Planejamento com relação à mudança da fórmula para definir o aumento do salário mínimo é um mau sinal. Ou o ministro Nelson Barbosa falou demais, antes do tempo, e mostrou que não tem sensibilidade política, ou a presidente Dilma voltou atrás da autorização que dera para rever a fórmula, que o ministro considera equivocada.
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