Da coluna "Notas Vermelhas", no site Vermelho:
O papel que as organizações Globo desempenharam na Ditadura Militar deve ser estudado cada vez mais a fundo, para evitar falsificações grosseiras que chegam a ser risíveis para quem tem o mínimo conhecimento do que se passou na ocasião, mas que se não forem desmascaradas podem prosperar e atingir incautos que, como mostram incontáveis exemplos, acabam presas fáceis das mentiras e manipulações da mídia hegemônica. Nesta terça-feira (19), completam-se 50 anos do editorial “Adiar seria retroceder”.
O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foi o primeiro presidente do regime militar e era tão golpista quanto os outros generais, mas pertencia, no entanto, a chamada ala moderada, que defendia que a presença dos militares no poder deveria ser temporária. O sistema Globo não apenas apoiava a Ditadura. Tendo desempenhado papel decisivo na articulação do golpe, Roberto Marinho era porta-voz da linha dura e clamava, nos seus editoriais, por uma radicalização ainda maior do regime.
Há exatos 50 anos, no dia 19 de maio de 1965, O Globo publica na capa longo editorial preocupado com as eleições diretas para 11 governos estaduais, convocadas por Castelo Branco para outubro daquele ano. Neste editorial, O Globo se manifestava contra os rumores de adiamento do pleito. Engana-se redondamente quem acha que isso era sinônimo de espírito democrático de Roberto Marinho.
O Globo exigia eleições manietadas e pedia o fim dos partidos
O próprio editorial de O Globo (19/05/1965) fazia questão de lembrar de que “ninguém mais do que nós defendeu o ponto de vista de que seria melhor para o regime e para a concretização dos ideais revolucionários a não realização dos pleitos este ano”. E qual a solução que O Globo apresentava para a sucessão dos governadores cujos mandatos estavam se encerrando, se não queria antes a realização das eleições? Volta a palavra para o editorial de Roberto Marinho: “Achávamos que a sucessão dos governadores daqueles Estados deveria ser feita através de um processo extraordinário”.
O “processo extraordinário” era um eufemismo de O Globo que significava a simples nomeação indireta dos governadores pelos militares. É este mesmo texto de 19 de maio que recorda aos leitores que em abril, quando Castelo Branco anunciou a realização das eleições,O Globo publicou então um editorial intitulado “A surpreendente decisão”, onde protestava: “agora vamos ter de novo eleições e continuam existindo os mesmos 13 partidos e a mesma lei eleitoral (...) As eleições se processarão, provavelmente nos mesmos termos das antigas, com as mesmas pessoas pois até os cassados e os que tiveram direitos políticos suspensos, embora não podendo disputar, procurarão influir eleitoralmente”. Mais claro do que isso, impossível. O jornal, em abril e agora em maio de 1965, exigia enfaticamente o aumento da repressão sobre a oposição.
O Globo manda outro recado
E por que Roberto Marinho era agora contra o adiamento das eleições? Mais uma vez ele explica: “Sentimo-nos à vontade para não concordar com a medida (um eventual adiamento) e temos, para fixar esta posição, a autoridade de quem não era a favor do chamado às urnas (...) Estamos certos de que o adiamento das eleições, dois meses após sua convocação, repercutirá em todo o mundo de maneira desfavorável à Revolução”. Diante do temor de uma reação internacional,O Globo afinal se conformava com a realização das eleições, mas pedia providências “legais” de forma a garantir que o governo militar saísse, de uma maneira ou outra, vencedor do pleito.
O tom do editorial era de clara ameaça ao pouco que restava de independência e dignidade no Congresso: “já que as eleições foram convocadas, que se realizem na data marcada (...) o Congresso que não perca tempo, nem proceda em desacordo com o seu provado propósito de colaborar com o Presidente da República, para que a Revolução alcance seus objetivos”. O recado da linha dura, através da voz do velho malandro Roberto Marinho, que usava e era usado pelos militares, era mais uma vez límpido e cristalino e, se havia alguma dúvida, a frase final do editorial era uma ordem diretamente vinda dos setores mais atrasados da caserna golpista: “a Revolução deve ser prestigiada e apoiada, jamais dificultada”.
O Globo e o AI-2
As preocupações de O Globo tinham fundamento e suas ameaças não eram vãs. Mesmo com as cassações e a repressão, em cinco dos onze estados foram eleitos oposicionistas, e em Minas Gerais e Rio de Janeiro os eleitos (respectivamente, Israel Pinheiro e Negrão de Lima) eram ligados ao presidente deposto João Goulart.
A resposta do regime, logo após conhecer os resultados, foi decretar, no dia 27 de outubro, o estado de sítio e editar o ato institucional número 2, onde os partidos que ainda restavam foram fechados (as organizações comunistas foram perseguidas logo após o golpe), instituindo-se o bipartidarismo (Arena e MDB), os funcionários públicos passaram a ser demissíveis caso não demostrassem lealdade à “revolução”, o STF ganhou mais cinco membros indicados pelos militares de forma a garantir maioria no tribunal, além disso o Congresso Nacional podia ser fechado a qualquer momento pelo executivo, que aumentou enormemente seu poder discricionário, entre outras medidas autoritárias.
Em editorial publicado no dia seguinte ao AI-2, 28 de outubro, Roberto Marinho comemorava: “O erro de muitos políticos brasileiros foi não ter compreendido que uma revolução não pode ser interrompida antes de atingir os objetivos que a tornaram necessária”. O Globo havia alcançado de fato uma grande vitória. Exigiu e obteve o endurecimento do regime, mas ainda não havia sido uma vitória completa.
AI-5 – O sonho realizado
Apenas três anos depois, com a edição do AI-5 e o triunfo definitivo da linha dura, foi que Roberto Marinho pôde contemplar a realização do seu sonho: uma ditadura feroz, um povo amordaçado e as mãos do sistema Globo completamente livres para seguir sua trajetória de negociatas e ilegalidades que lhe proporcionaram um imenso poder. O sistema Globo é, sem dúvida, um gigante cujos pés se apoiam na lama da história. Em outras edições do Notas Vermelhas, voltaremos ao tema.
Por Altamiro Borges Há ainda quem discorde da tese de que a mídia hegemônica funciona como um partido político. Na verdade, o principal partido da direita na atualidade. A situação do correntista suíço Eduardo Cunha, que ainda preside a Câmara...
Do blog de Zé Dirceu: Em editorial, o jornalão da família Marinho, O Globo, trouxe uma peça exemplar do reacionarismo brasileiro e do comportamento do conglomerado Globo de comunicação ante a iminência de nossa verdade histórica sobre o golpe...
http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/Por Altamiro Borges A Comissão Nacional da Verdade finalmente decidiu convocar para prestar esclarecimentos os executivos das empresas que cooperaram com a ditadura militar. Segundo matéria da Folha desta...
Por Marcelo Semer, no site Terra Magazine: No aniversário de 50 anos do golpe de 64, os militares passaram praticamente em silêncio. Não houve notas públicas, ordens do dia ou reuniões de reformados em aberta e ostensiva comemoração - como já...
http://pigimprensagolpista.blogspot.com.br/Por Helena Sthephanowitz, do sítio Rede Brasil Atual Em telegrama ao Departamento de Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono da Globo com cérebros do golpe em decisões...