Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Dez dias após a reeleição de Dilma Rousseff, a campanha eleitoral de 2014 ainda não terminou, mas a de 2018 já começou. Com a renhida disputa do terceiro turno ainda ocupando as redes, as ruas e o Congresso Nacional, mal saímos de uma eleição e já temos três candidatos perfilados para a largada na próxima: Lula, Aécio e Marina.
No dia mesmo da vitória de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, lançou a candidatura do ex-presidente Lula para a sucessão dela. Nos dias seguintes, Lula divulgou vídeos com análises sobre o Brasil e o cenário internacional, mostrando que está na área. E o partido colocou no seu Face um cartaz vermelho cheio de estrelas, resgatando a estética revolucionária dos anos 1960, com uma conclamação: "Militância, às armas!"
Aécio Neves voltou ao Senado nesta terça-feira, aclamado como grande líder da oposição, e disposto a garantir sua vaga na urna em 2018. Com discurso de campanha, como se tivesse vencido as eleições, convocou "um grande exército a favor do Brasil".
Marina Silva, por sua vez, avisou que está voltando a recolher assinaturas para criar o seu próprio partido, a Rede da Sustentabilidade, depois de ter se abrigado no PSB para disputar as últimas eleições. A líder ambientalista não quer ficar fora do noticiário, como aconteceu após a derrota em 2010. Em suas duas campanhas, Marina já detonou dois partidos, o PV e o PSB, e rachou a Rede, que ainda nem existe, ao apoiar Aécio no segundo turno, mas não vai desistir.
Se depender dos principais líderes do PSDB e do PT não teremos paz tão cedo. Os dois eternos adversários, agora inimigos juramentados, resolveram partir para uma guerra permanente. Os campos de batalha já foram definidos. O do PT, nas redes sociais: "Mantenha-se informado em nossos canais e arme-se com argumentos para rebater a ignorância nas redes e nas ruas" e, o do PSDB, no Congresso Nacional.
Claro que não é para levar ao pé da letra as proclamações de apelo militar feitas pelo PT e por Aécio. Certamente são apenas figuras de retórica empregadas neste momento para manter suas tropas unidas e fazer um chamamento à militância.
Os três pré-candidatos para 2018 têm cada qual motivos diferentes para se posicionar desde agora, antes mesmo da posse de Dilma no seu segundo mandato.
Mais do que ninguém, Lula sabe que o PT saiu bastante desgastado da eleição de 2014, apesar de Dilma ter sido reeleita. A onda de antipetismo alastrou-se pelo país, quase deu a vitória à oposição, e agora urge reformular o partido, uma operação que só ele mesmo pode comandar. Quanto antes começar, melhor para Lula e o PT, mas não para a presidente. Por isso, o ex-presidente já foi ontem mesmo acertar os ponteiros com Dilma na Granja do Torto.
Na primeira tentativa de voltar às ruas após a campanha, para defender a reforma política em contraponto à manifestação golpista da oposição do último sábado na avenida Paulista, as tropas da CUT e do MST, principais aliados do PT no movimento social, fracassaram. Sob forte chuva, apenas 200 militantes apareceram na mesma avenida Paulista, dez vezes menos do que as tropas comandadas por Lobão e o filho do Bolsonaro para pedir o impechment de Dilma e a volta dos militares.
Enquanto isso, o PSDB organizou no capricho a festa da volta de Aécio ao Senado, que teve direito até a fogos de artifício. Convocou funcionários e militantes, também cerca de 200 pessoas, que ocuparam um enorme espaço nos telejornais noturnos aos gritos de "Fora PT!" e "Aécio presidente!".
É verdade que terão de esperar pelo menos quatro anos para que isso aconteça, mas os tucanos deixaram claro que desta vez não estão para brincadeira. Empolgado com seu novo papel, Aécio prometeu fazer uma oposição sem tréguas ao segundo governo de Dilma Rousseff. Tem motivos para isso: embora saia da eleição com um arsenal de mais de 50 milhões de votos, o senador mineiro sabe que não pode se descuidar dos paulistas Geraldo Alckmin e José Serra, que ainda não desistiram de disputar a presidência da República, muito ao contrário.
Também já está em franca campanha, ainda não se sabe bem com qual finalidade, o líder da oposição no STF, Gilmar Mendes, que não perde uma oportunidade para atacar a presidente recém reeleita e seu partido. Na sessão desta terça-feira, em que o Tribunal Superior Eleitoral discutiu o pedido de auditoria nas urnas eletrônicas solicitado pelo PSDB, ao proferir seu voto, Mendes mandou bala, lembrando frases de Lula e Dilma durante a campanha. "Será que chegariam a fraudar as urnas?", deixou no ar a pergunta, sob aplausos de militantes tucanos que estavam no plenário com adesivos do PSDB.
Pelas últimas informações que chegam de Brasília, não corremos o menor risco das coisas melhorarem tão cedo: agora, a presidente reeleita só deve anunciar nomes e medidas do seu novo governo depois de voltar de viagem ao exterior para participar de uma reunião do G-20, na próxima semana. Até lá, o general Eduardo Cunha, do PMDB, comandante-em-chefe das fileiras anti-Dilma, com seu "blocão", agora conta com o apoio ostensivo de Aécio Neves e vai tomando conta da cena, para gáudio dos analistas políticos inconformados até agora com o resultado da eleição.
Calma, pessoal. É preciso ter muita paciência nesta hora para esperar a chegada de 2018 sem botar fogo no circo.
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