A enrascada da economia brasileira
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A enrascada da economia brasileira


Por Rita Casaro, no site do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo:

“A economia brasileira ruma para o caos?” Para responder a essa questão o Cento de Estudos Barão de Itararé reuniu, na segunda-feira (22/2), na sede do Sindicato dos Jornalistas, em São Paulo, Luiz Carlos Bresser-Pereira (ex-ministro da Fazenda, da Administração Federal e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia), Leda Paulani (professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e Guilherme Mello (professor do Instituto de Economia da Unicamp e colaborador da Fundação Perseu Abramo). Se o medo é o caos, esse está afastado, tendo em vista que não se vislumbra risco de hiperinflação, afirmaram os três especialistas. No entanto, nem só na desordem mora o perigo.

Para Bresser-Pereira, desde a redemocratização, o Brasil vem errando economicamente, o que culminou com a volta à situação de exportador de commodities, após já ter sido um país industrial. “Nós estamos matando a economia desde 1985. Fracassamos um atrás do outro”, afirmou, num mea-culpa pelo seu desempenho como ministro da Fazenda do Governo Sarney, em 1987. “A indústria já foi 30% do PIB e hoje é 9%”, completou.

Conforme ele, a expansão econômica observada durante o governo Lula, especialmente entre 2007 e 2010, deveu-se meramente ao boom de commodities no mercado internacional e foi, equivocadamente, vista como a retomada do desenvolvimento.

A enrascada atual, na sua avaliação, reside na alta taxa de juros, que desestimula investimentos produtivos, e no câmbio apreciado em longo prazo, que mina a competitividade da indústria nacional. Conforme Bresser-Pereira, a disputa entre esquerda e direita quanto à necessidade de mais ou menos responsabilidade fiscal é estéril e não vai tirar o Brasil da crise. Para ele, além de desatar os nós macroeconômicos, é necessário um acordo social entre a esquerda e os empresários industriais. Enquanto não isso não acontece, “os rentistas capturam 6% do PIB todo ano”, criticou.

Outra questão a impedir o desenvolvimento nacional, pontuou o economista, é o déficit em conta corrente. Para ele, o Brasil deve abrir mão da entrada de capital estrangeiro para compensar esse déficit, pois essa “poupança externa” não amplia os investimentos internos, mas o consumo. “O déficit interessa ao império porque legitima a ocupação do mercado brasileiro”, criticou.

Crise e terrorismo
Para Leda Paulani, o problema brasileiro reside no modelo neoliberal, adotado nos anos 1990 e não abandonado no período Lula/Dilma. Conforme ela, as políticas sociais de transferência de renda e, principalmente, o aumento do salário mínimo tiveram efeito positivo de estimular o crescimento. Porém, o motor da expansão foi o consumo baseado no crédito, não o investimento. E, embora tenha havido efetiva distribuição de renda, o estoque de riqueza continuou concentrado. “O último suspiro do modelo foi a sobrevida no pós-crise (financeira internacional, em 2008)”, apontou.

Para piorar, avalia ela, a opção pela austeridade no início do segundo mandato de Dilma Rousseff contribuiu para agravar o quadro de recessão. Isso se deveu, afirmou, por ter sido o governo capturado pelo terrorismo econômico do conservadorismo no País, fortemente propagado pela mídia. “Hoje, há uma espécie de circulo vicioso em que a crise política piora a expectativa econômica e o mau desempenho econômico alimenta a crise política.”

Não é bem assim
Mais benevolente com o período Lula, Mello refutou a afirmação de que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deveu-se exclusivamente à exportação de produtos primários e que essa se sustentou apenas no consumo: “A abertura comercial brasileira é baixa, da ordem de 10%. O boom de commodities não é responsável pelo crescimento do PIB. E o crescimento médio foi maior que o do consumo. O Governo Lula trouxe mudanças importantes, como a redução da dependência externa.”

Já a sua sucessora, ponderou Mello, errou ao cortar investimentos previstos, imaginando que o setor privado faria as inversões necessárias. Conforme ele, isso não ocorreu porque, na realidade, não há na burguesia uma cisão real entre rentistas e produtivistas, já que os industriais tornaram-se importadores e especuladores no seu conjunto.




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