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Assembleia na Volks. Foto: Paulo de Souza / SMABC |
Por Altamiro BorgesEm assembleia realizada nesta terça-feira (6), os metalúrgicos da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiram entrar em greve por tempo indeterminado contra as 800 demissões impostas pela empresa – que usou o período das férias coletivas do final do ano para comunicar o covarde facão. Após auferir lucros recordes com a expansão do mercado automobilístico no Brasil – inclusive com a inestimável ajuda do Palácio do Planalto, que isentou de impostos as montadoras de veículos – a multinacional alemã investe contra os trabalhadores com o nítido propósito de chantagear o governo para obter novas vantagens econômicas.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, a Volks simplesmente rasgou o acordo que previa estabilidade no emprego até 2016. Ele foi feito com base na política de desoneração fiscal do governo federal para elevar a produção no país, minimizando os efeitos da grave crise da economia mundial no Brasil. A questionável política de desoneração, encerrada em 31 de dezembro de 2014, garfou cerca de R$ 12 bilhões dos cofres públicos e afetou as próprias metas de superávit fiscal do governo. Neste período, os empregos cresceram e as multinacionais auferiram altos lucros. Somente em 2013, as montadoras de automóveis remeteram para as suas matrizes US$ 3,3 bilhões, valor 35% superior ao de 2012, sendo o setor campeão de remessas de lucros ao exterior. No período entre 2010 e 2013, o montante que deixou o país foi de US$ 15,4 bilhões.
Agora, encerrada a política de desoneração, a Volks mostra as suas garras. As multinacionais não têm qualquer compromisso com o Brasil e com os trabalhadores. Visam apenas os lucros. Esta é a lógica do capitalismo! Para Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, as demissões visam pressionar o governo para obter compensações. A entidade exige a suspensão das dispensas e a retomada imediata das negociações. Afirma que há outras formas de contornar a tímida retração do setor automobilístico. Ao mesmo tempo, o sindicato rejeita as propostas que já circulam de retirada dos direitos trabalhistas e de cortes salariais para a manutenção dos empregos.
“É uma chantagem articulada pelas montadoras. Nós entendemos a demissão na Volks como uma afronta à política de geração de empregos que vem sendo implementada pelo governo. Além disso, não há nenhuma discussão mais aprofundada com os trabalhadores”, destaca o presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos do Brasil (Fitmetal), Marcelino Rocha, em entrevista ao site Vermelho. O sindicalista também critica a postura do governo. “A indústria automobilística brasileira é a 4ª maior do mundo e até 2012 bateu recordes de produção. O governo concedeu benefícios e as empresas instaladas no Brasil – todas multinacionais – fizeram remessas de lucros consideráveis para seus países de origem, para diminuir a crise lá, sem que houvesse um mecanismo legal que garantisse parte dessa remessa de lucros para reinvestimento no país”.
“O movimento sindical tem que tomar muito cuidado no momento atual, pois virá uma ofensiva de flexibilização como alternativa de combate às demissões. Precisamos estar atentos para não cair no engodo de que é a flexibilização que garante o emprego”, alerta Marcelino Rocha. Ele lembra que já existem vários mecanismos de precarização do trabalho institucionalizados no país, como banco de horas, contrato parcial e terceirização. Ele também avalia que as demissões nas montadoras reforçam o processo “permanente de desgaste político do governo Dilma pós-eleição”, combinado com uma intensificação da oposição da mídia e de outros setores conservadores. “Tudo isso vai exigir ampla atuação do movimento sindical. Temos que ir para as ruas em apoio ao governo, mas sem deixar de hastear as bandeiras de reivindicação da classe trabalhadora”.
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