A histeria contra salário mínimo de R$ 880
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A histeria contra salário mínimo de R$ 880


Por Altamiro Borges

Entrou em vigor nesta sexta-feira (1) o novo valor do salário mínimo, que terá impacto direto na vida de mais de 48 milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas do Brasil. Ele passou de R$ 788 para R$ 880, um reajuste de 11,67%. Com essa decisão, adotada em tempos sombrios de ajuste fiscal, a presidenta Dilma preservou a política de valorização do salário mínimo, iniciada no governo Lula após um acordo histórico com as centrais sindicais. Apesar do aumento nominal ser de apenas R$ 92, a velha imprensa fez questão de bombardear o decreto presidencial. Essa histeria confirma, mais uma vez, que os barões da mídia só pensam nos seus lucros e nos interesses dos rentistas. Para eles, o ideal seria que o Brasil voltasse à época da escravidão, sem salários ou direitos trabalhistas.

O jornal O Globo, pertencente aos filhos de Roberto Marinho - os maiores ricaços do país, segundo o ranking da revista Forbes -, publicou editorial rotulando a decisão da equipe econômica de "tosca". Já o Estadão, da oligárquica famiglia Mesquita, estampou na manchete que o reajuste "abre um rombo de R$ 2,9 bilhões" nas contas públicas. E a Folha obrou várias "reporcagens" alegando que a medida sabota o ajuste fiscal e "visa agradar a base de apoio à esquerda" para evitar o impeachment de Dilma. Nas emissoras de rádio e tevê, os tais "analistas de mercado" - nome fictício dos porta-vozes dos abutres financeiros - também fuzilaram o decreto presidencial. Sobre a tímida melhora do poder aquisitivo de milhões de brasileiros, eles pouco comentaram. Afinal, danem-se os trabalhadores!

No outro extremo, a decisão de manter a política de valorização do salário mínimo foi saudada pelas centrais sindicais e por outras entidades ligadas às lutas dos trabalhadores. Em entrevista ao jornalista Paulo Donizetti de Souza, da Rede Brasil Atual, o economista José Silvestre Prado Silveira, diretor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), argumentou que a medida beneficia os assalariados de baixa renda e ajuda a impulsionar a retomada do crescimento do país. Ele lembrou que com o reajuste de 11,67%, o salário mínimo nacional terá alcançado um ganho real de 77,3% acima da inflação acumulada desde 2002.

O trabalhador passa a ter o maior poder de compra desde 1979 em relação à cesta básica. O novo piso equivale a 2,4 vezes o valor da cesta calculado pelo Dieese. Em 1995, no início do reinado tucano de FHC, ele correspondia a 1,1. Além de beneficiar diretamente as famílias de baixa renda, ele injetará cerca de R$ 57 bilhões na economia, com impacto de R$ 30,7 bilhões na arrecadação de impostos. "O efeito concreto dessa política de valorização é ainda mais benéfico para o bolso das pessoas e para as contas públicas do que a política de juros praticada pelo Banco Central". O Dieese estima que o gasto anual com os juros pagos aos portadores de títulos públicos seja de R$ 400 bilhões.

O ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, também respondeu à artilharia da mídia. Para ele, o salário mínimo é decisivo para o desenvolvimento do país. "O mercado interno responde por grande parte do dinamismo da nossa economia. A política da valorização do salário mínimo tem permitido fortalecer e ampliar o mercado interno, diminuído as desigualdades de renda e elevado a qualidade de vida da sociedade", argumentou em entrevista coletiva. "O reajuste assegura a 48 milhões de brasileiros uma melhoria da renda, o que significa ampliação de mercado, qualidade de vida e maior desenvolvimento econômico". Estes argumentos, porém, não convenceram os barões da mídia - os mesmos que no passado foram contra a criação do salário mínimo e da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

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