Por Najla Passos, no site Carta Maior:Cerca de 40 intelectuais, militantes políticos e representantes de movimentos sociais e de entidades da sociedade civil participaram, na noite desta terça (8), da criação do capítulo Brasília do Fórum 21, definido pelos seus idealizadores como “um espaço de convergência e de debates em rede, horizontal, empenhado na conformação de sínteses programáticas que contribuam para a renovação do pensamento de esquerda no Brasil”.
Criado em São Paulo, em dezembro passado, o Fórum 21 surgiu na esteira das reuniões realizadas país afora, logo após o 2º turno das eleições presidenciais, com o objetivo de fazer frente ao avanço da onda conservadora e debater novas propostas para o país. Já está em pleno funcionamento também em Porto Alegre e, ainda este mês, no dia 25, será lançado no Rio de Janeiro, em reunião que acontecerá no Sindicato dos Petroleiros (SindPetro), na Avenida Passos, 34.
“O objetivo do Fórum é funcionar como uma ‘usina de ideias’, apartidária e de caráter nacional, para qualificar o debate da esquerda. Todos nós estamos carentes de um espaço para fazer o debate de propostas para o país e, em um fórum como este, cabem todas as propostas, todas as ideias ”, explicou o diretor-presidente da Carta Maior, Joaquim Palhares, membro do grupo executivo do Fórum 21, que coordenou a reunião em Brasília.
Segundo ele, o Brasil passa por um momento histórico grave e, por isso, é imprescindível que as forças sociais progressistas se unam em busca de alternativas. “Enfrentamos um compacto sistema de asfixia ideológica e financeira talvez inédito na história nacional. Ele sonega à sociedade o debate desassombrado do passo seguinte do nosso desenvolvimento, em meio a um recrudescimento da crise mundial; interdita projetos alternativos ao receituário conservador e desqualifica a política, portanto a democracia, como verdadeiro locus de um futuro hoje capturado pela usurpação dos mercados”, disse Palhares, citando o texto-convocatória para o evento.
Indagado como as diferentes correntes das diferentes esquerdas fariam para debaterem juntas, a despeito de todas as divergências, foi categórico ao conclamar os presentes a adotarem o aprofundamento da democracia como arma para vencer o conservadorismo e o discurso de ódio. “Não podemos perder a tolerância. Caso contrário, vamos virar esses caras de direita que estão nas ruas. E nós somos melhores que eles. Temos que aprender a conviver e a respeitar as divergências”, propôs.
Já na primeira reunião, os participantes do capítulo Brasília escolheram o grupo executivo local, formado pelo engenheiro José Augusto Valente, a economista Esther Bermurguy, a médica e deputada distrital Arlete Sampaio, a jornalista Inês Ulhôa e a militante Ilge Iglesias. A jornalista Bia Barbosa atuará auxiliando o grupo a criar pontos com outros movimentos sociais, partidos políticos e organizações da sociedade civil.
Especialista em Logística, José Augusto Valente avalia que, a despeito das diversas iniciativas que têm surgido para agregar os movimentos sociais e ativistas que defendem o aprofundamento do projeto de governo popular e democrático em ações de rua, ainda há carência de debates de propostas e diagnósticos.
“No caso brasileiro, houve uma perda da reflexão sobre como este projeto vem sendo implantado e, consequentemente, de quais são as perspectivas daí para frente. Há uma grande submissão, mesmo da esquerda, às narrativas de diagnósticos que interessam aos conservadores e aos que fazem oposição a este projeto democrático e popular. E sem um diagnóstico próprio, nós ficamos sem rumo, sem saber o que fazer”, avalia.
Esther Bermerguy, ex-secretária de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e ex-secretária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), avalia que o principal mérito do Fórum 21 é ser uma frente agregadora das forças de esquerda. “Este é o espaço de todas as pessoas que têm ideário de esquerda, que acreditam em justiça social, em igualdade, em distribuição de renda e riqueza, em democracia, em soberania popular”, resume.
Esther defende que o espaço deve se impor a partir de uma concepção mais ampla de esquerda, que visa agregar diferentes grupos e trabalhar, no debate público, os temas que todos precisam enfrentar. “O Fórum 21 abre duas perspectivas importantes: discutir esse projeto de esquerda e, ao mesmo tempo, mobilizar uma base social que faça o debate sobre este projeto e que dê sustentação política para ele no longo prazo”, resume a economista.
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