Geral
A língua de Verissimo
Rodrigo Constantino
Em seu artigo de hoje, Luis Fernando Verissimo atacou novamente com seu complexo de vira-latas. Dessa vez o alvo foi a língua dos ianques, motivo de revolta de muito esquerdista que sofre de ufanismo boboca e antiamericanismo patológico. Eles babam de raiva com o uso de termos provenientes da língua de Shakespeare, levemente metamorfoseada pelos "estadunidenses".
Diz o simpático cronista de humor:
A invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando "entrega" virou "delivery". Perdemos o último resquício de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser "delivered" na porta.
Sério mesmo? Quer dizer que quando viajamos mundo afora e vemos em tudo que é vitrine a placa "sale", tais países perderam suas identidades nacionais? Quer dizer que quando falam em "fast food", venderam-se ao poderio do império norte-americano? Quanta bobagem! Verissimo ainda tenta se defender nesse trecho:
Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto. O inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra quem prefere ser "plus" a ser mais e ter "size" em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta entrega - ou devo dizer "delivery"? - de identidade de um país com vergonha da própria língua.
Imagina se fosse xenofobia! O que Verissimo ignora é que o inglês, tal como o latim no passado, serve para facilitar a comunicação entre povos diferentes, para universalizar certos termos e tornar a compreensão mais simples. Se você fala inglês, você pode ler livros de alemães, franceses, italianos, chineses, árabes, todos traduzidos nessa língua "universal".
Talvez o problema seja de quem é a língua, não o fato de todos usaram expressões de uma língua em comum. Se fosse o Esperanto, tenho certeza que a reação seria outra, e o papo de "colonialismo cultural" seria rejeitado como baboseira de gente senil. Que colonialismo cultural é esse que aproxima tantas culturas diferentes?
Por fim, posso apostar pesado que Verissimo não implica com expressões afrancesadas em nossa língua, tal como "abajur", "filé mignon", etc. Quando a palavra vem da França, capital mundial da gauche caviar, aí é não só aceitável, como "chique". Como disse Nelson Rodrigues: “Reparem como o sujeito que fala em francês e pensa em francês toma ares de gênio e de infalibilidade”.
Logo, o problema de Verissimo e demais ícones da esquerda caviar não é com o uso de "delivery" em vez de "entrega"; é com os Estados Unidos e o que essa nação representa (ou representou?) em termos de modelo de sociedade, capitalista liberal e com foco no indivíduo, ao contrário do coletivismo das esquerdas. Verissimo, quando fala de política, só escreve besteira, seja em português, em inglês ou em francês...
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