A mídia e o "acordão" na CPI
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A mídia e o "acordão" na CPI


Por José Dirceu, em seu blog:

A mídia adotou uma linha equivocada ao insistir que houve um acordão entre PT-PMDB-PSDB na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o caso Carlos Cachoeira. Segundo tal versão o objetivo de pretenso acordo seria, entre outras coisas, o de não convocar os governadores até agora citados nos grampos do bicheiro e seu círculo de relações. Pretende-se vender a falsa ideia de que algo que mal começou teria terminado em pizza.


Minha avaliação é outra. Entendo que o roteiro adotado pela Comissão de Inquérito é correto e objetivo: estudar todos os autos e áudios, ouvir os delegados responsáveis pelos inquéritos que deram origem à CPI – como já fez –, convocar os auxiliares dos governadores e da Delta. É o caminho certo para decidir se, em seguida, convoca ou não os três governadores, como quer o PSDB, ou apenas Marconi Perillo, como querem PT e PMDB.

O prosseguimento da linha de trabalho adotada pela CPI mista do Congresso vai permitir, também, que se tome decisões sobre a convocação ou não de procuradores e jornalistas. Se se investiga ou não a revista Veja e sua relação com o esquema Carlos Cachoeira-Demóstenes Torres.

Diversionismo

Não podemos e não devemos nos deixar levar por incidentes como o da não convocação dos governadores nesta semana e o torpedo do deputado Cândido Vaccarezza para o governador Sérgio Cabral – um incidente incapaz de definir o destino de uma CPMI. É um erro confundir tais incidentes com indícios, provas e elementos para investigar o crime organizado e suas ramificações nos três poderes do país.

Há indícios sim, e são muito fortes, sobre a participação decisiva no esquema criminoso de um senador que foi líder do DEM e da oposição. Um senador que foi membro do Ministério Público e que se apresentava como representante das demandas corporativas dos procuradores e do Judiciário, seja junto ao Legislativo, seja diante do Executivo.

Também são ridículas, risíveis mesmo, as tentativas de apresentar a relação do governador de Goiás com Carlos Cachoeira no mesmo nível das do Governador do Rio de Janeiro com o controlador da Delta. Em Goiás o crime organizado capturou o Estado e, neste caso, os elementos, indícios e provas já existentes mais do que justificam um investigação pela CPMI.

Mais diversionismo

Não vamos esquecer que no início do noticiário sobre a operação Monte Carlo, lá atrás, certa mídia fez de tudo para trazer de volta o caso Waldomiro Diniz. Naquela ocasião, a citação do meu nome era permanente, às vezes com mais destaque que a própria CPMI. Mas, com o aparecimento da participação do senador Demóstenes Torres no esquema, esta sim uma verdadeira bomba atômica que deixou muita gente desnorteada, a manobra diversionista ficou desmoralizada.

Depois vieram as tentativas de envolver membros do Governo Federal, como Olavo Noleto e até o ministro Alexandre Padilha. Depois, outra tentativa diversionista, pretendendo-se desviar o foco principal da CPMI para Brasília e a empresa Delta. E agora, finalmente, essa polêmica sobre a convocação dos governadores.

Indícios há, e são muitos. Insisto que a CPMI deve manter seu plano de trabalho. Aí sim, tendo as informações, vai decidir por exemplo se convoca ou não os jornalistas. Não adianta que certa mídia levante o argumento surrado da ameaça à liberdade de imprensa diante dos indícios que já apareceram.

Falou-se, por exemplo, em mais de 200 telefonemas entre o diretor da revista Veja em Brasília e a dupla Carlos Cachoeira-Demóstenes Torres. Na troca de informações pela publicação de matérias de interesse de um esquema criminoso. No conluio para o uso de gravações obtidas ilegalmente. São coisas que precisam ser esclarecidas. E as informações já estão lá, nos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo. É preciso levantá-las em sua totalidade e, em seguida, divulgá-las.

E também não vamos nos esquecer da tentativa de aumentar ainda mais a confusão e a cortina de fumaça, insistindo com a versão de que o necessário esclarecimento da decisão da Procuradoria Geral da República de não investigar o esquema Carlos Cachoeira-Demóstenes Torres em 2009, como afirmou a Polícia Federal, seria algo envolvendo o PT e relacionando-o com o julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal, chamada de mensalão.

Se a CPMI seguir seu roteiro de buscar e dar transparência a todas as informações, nada do que a mídia está prevendo acontecerá. Ao contrario, será uma das CPIs mais importantes dos últimos 30 anos e cumprirá um papel extraordinário na vida política do país.




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