Por José Reinaldo Carvalho, no sítio Vermelho:Na semana passada o candidato da Frente de Esquerda à presidência da França, Jean Luc Melenchon, alcançou a marca de 15% de intenções de voto e passou a ocupar a terceira posição, à frente da candidata da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional.
O crescimento da candidatura da Frente de Esquerda é reflexo direto do avanço da sua campanha e do vigoroso caráter de massas que assumiu. Não é uma surpresa, a não ser para a mídia a serviço dos interesses do capítalismo monopolista e financeiro, sempre disposta a secundar as candidaturas reacionárias e menosprezar as forças progressistas.
Finalmente, a mídia descobriu que existe uma esquerda anticapitalista e anti-imperialista com capacidade para entrar no jogo eleitoral com boas condições de competitividade. Por isso, começa a se referir à candidatura de Melenchon como de "extrema esquerda" e "populista", com evidentes intenções desqualificadoras e para infudir insegurança e medo no eleitorado.
Mas, efetivamente o avanço da Frente de Esquerda, formação unitária que tem como força motriz o Partido Comunista Francês e como candidato um antigo membro do Partido Socialista e ex-ministro do governo de Lionel Jospin, faz todo o sentido.
A dinâmica da Frente de Esquerda transformou a campanha eleitoral em um movimento popular e de massas com notáveis amplitude, energia e força. Depois de décadas de retrocesso da esquerda e de campanhas eleitorais rotineiras protagonizadas pela direita, extrema direita e pela social-democracia, surge em pleno coração da Europa, na França de tradições revolucionárias, uma candidatura e uma força política que, mesmo não tendo ainda o perfil de candidatura vitoriosa, transforma-se em um fator decisivo para a mudança do quadro político.
A se confirmar a tendência de crescimento, os votos da Frente de Esquerda serão decisivos na provável contenda do segundo turno entre o direitista Nicolas Sarkozy, atual presidente e candidato à reeleição, e o candidato do Partido Socilista, François Hollande.
Não cabem dúvidas de que a França, com reflexos em toda a Europa, pode estar no limiar de uma nova etapa da luta política. O avanço da Frente de Esquerda pode representar um importante ganho político para todas as forças progressistas, entre estas os comunistas. É um resultado que pode servir de catalisador no processo de recuperação e acumulação de forças da esquerda.
Um elevado percentual eleitoral da Frente de Esquerda poderá dar novo sentido à luta popular para afastar o reacionário Sarkozy do poder, sem cair na trampa de respaldar as políticas neoliberais e também conservadoras do Partido Socialista. O avanço da Frente que sustenta a candidatura de Melenchon pode assegurar as condições para afiançar uma política de mudanças pela esquerda, pondo um basta ao bipartidarismo que na prática tem mediocrizado a vida polítrica francesa há décadas.
Enquanto a mídia reacionária rotula a Frente de Esquerda de extremista e seu candidato de populista, o agrupamento que está voltando a dar esperanças às forças progressistas francesas transmite uma mensagem clara de luta por verdadeiras transformações. Melenchon tem reiterado em suas alocuções que é o povo quem deve exercer sua soberania e protagonizar uma revolução cidadã, transformando a vida de todos os franceses.
O programa da Frente de Esquerda tem como centro o fator humano, com a palavra de ordem “O humano em primeiro lugar”. Toma como alvo a dominação do capital monopolista e financeiro sobre o trabalho, luta contra a precariedade e propugna que todo cidadão tenha direito à saúde, à educação, moradia e trabalho.
É um programa progressista, portador dos valores democráticos defendidos pelas formações integrantes da Frente de Esquerda, no qual pontificam os direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos imigrantes e a defesa da igualdade contra toda forma de discriminação. O programa da Frente de Esquerda propõe ainda a luta contra o monopólio da mídia.
Quanto à política externa, a Frente de Esquerda propõe novas relações internacionais fundadas no respeito à soberania, autodeterminação dos povos e cooperação mútua. Para a coalizão, a França deveria romper com a política de intervenção militar, para agir em favor da paz, da solução de conflitos, lutaria por uma ONU democrática, pela saída da França da Otan e pela dissolução dessa organização imperialista. O país se engajaria, igualmente, pela supremacia do direito internacional.
É um programa político claro, compreensível para as grandes massas, mobilizador e viável. Por meio dele, têm as forças progressistas francesas nesta campanha eleitoral a oportunidade de enfrentar a tirania da direita conservadora e neoliberal, o nacionalismo protofascista da extrema direita e constituir-se em alternativa em face das vacilações da social-democracia.
* Com informações do site do PCF e a colaboração de Maria Quitéria Túrcios, mestranda em Língua e Literatura francesa, residente na França.
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