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A opção pelo mais fácil - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 18/06
Surpreendido pelas derrapadas seguidas na área econômica, o governo Dilma foi chamado a optar entre uma vigorosa correção de rumos e a manutenção, com um ou outro ajuste, do mesmo arranjo de políticas que prevaleceram até aqui.
Pelas indicações que chegam de Brasília, a decisão parece ter sido a mais fácil: manter e, até mesmo, aprofundar a combinação de políticas que provocaram as distorções já conhecidas: crescimento teimosamente baixo, inflação alta e renitente, desequilíbrio nas contas externas e uma indústria enfraquecida.
Duas parecem ter sido as razões que levaram o governo a decidir-se por deixar tudo como está. A primeira foi evitar passar mais um recibo público pelo fracasso de sua política econômica. A outra foi o entendimento de que uma terapia com base no aumento da responsabilidade fiscal (controle mais rígido das despesas públicas) e no reforço do investimento podia não produzir os efeitos desejados a tempo de lhe dar proveito nas próximas eleições.
Daí o lançamento na semana passada de um programa ("Minha Casa Melhor"), com R$ 18,7 bilhões em recursos públicos destinados a financiar, a juros subsidiados, aparelhos domésticos e móveis. Trata-se de um novo pacote designado a reforçar o consumo, a despeito das juras feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que coisas assim não se repetiriam.
Sobra o Banco Central para enfrentar sozinho a disparada dos preços e tentar recuperar a capacidade de conduzir as expectativas. Na edição de ontem do jornal Valor Econômico, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avisou que não há limites para a alta dos juros, dando a entender que está disposto a fazer o que tem de ser feito, mesmo sem contar com a colaboração das políticas a cargo de outras áreas do governo. Como os efeitos da política monetária levam entre seis e nove meses para aparecer, é provável que até as vésperas das eleições toda a alta dos juros promovida pelo Banco Central também não terá produzido o efeito desejado de debelar a inflação.
Essa determinação de Tombini, que apareceu um pouco tarde, mas ainda a tempo, não combina com o discurso da presidente Dilma de que os velhos do Restelo semeiam um pessimismo mórbido e que a inflação, que está "hoje sob total controle do governo", logo mais refluirá.
Não é bem assim. Há meses, o Banco Central vem advertindo que a inflação está alta demais (e não propriamente sob controle) e que o governo está gastando demasiadamente. Se este é o discurso dos ranhetas da hora, então o Banco Central também é um deles.
Ao decidir por não corrigir radicalmente seu rumo, o governo Dilma está apostando que conseguirá administrar com sucesso suas atuais vantagens eleitorais. No entanto, a inflação em doze meses está no teto da meta (6,5%). É alta a probabilidade de que nos próximos três meses salte para acima desse nível. É uma situação que, por si só, tende a aprofundar a falta de confiança que hoje atinge a atividade econômica e a colocar em marcha forças ainda mais desestabilizadoras do que as que vêm surpreendendo a presidente Dilma. A disparada do dólar é um aviso.
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