Por Renata Mielli, no sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:Paulo Moreira Leite foi uma das poucas vozes dissonantes na cobertura do mensalão. O resultado de um trabalho jornalístico sério e que mostra os inúmeros erros do julgamento da Ação Penal 470 – um julgamento político como frisa em toda oportunidade – é o livro A outra história do mensalão, lançado na noite desta terça-feira no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, numa coletiva para blogueiros e para a mídia alternativa.
Moreira Leite não esconde o orgulho deste trabalho “o que eu estou conquistando é uma coisa chamada liberdade”. E alerta que o julgamento do mensalão, na verdade, ainda não terminou. “Depois das sentenças brutais, o próximo passo é investigar o ex-presidente Lula”.
Ao longo de duas horas de debate o jornalista respondeu questões sobre o mensalão, mas também sobre o ambiente político no Brasil, o papel da mídia na disputa política atual, se há espaço para algum tipo de golpe político como ocorreu em países vizinhos (Honduras e Paraguai), a necessidade de haver uma democratização do Poder Judiciário e dos Meios de Comunicação.
Sentenças brutais e sem base em fatosPara o jornalista todo esse processo abre precedentes preocupantes, “pois concedeu penas severas com provas que estão longe de ser substanciais. A teoria do domínio de fato junta fatos que não conseguem ser provados”. Ele cita os inúmeros exemplos como a já comprovada ausência de recursos públicos – como aponta parecer do Tribunal de Contas da União e auditorias do Banco do Brasil.
Outro problema é a perda da independência entre os poderes. “O supremo trouxe para si a tarefa de decidir sobre o mandato dos deputados. Isso afeta a divisão de poder. Temos um órgão que não é eleito pelo voto popular decidindo sobre mandatos soberanamente eleitos pelo povo”, chama atenção.
Ele está convencido que houve muitas injustiças neste processo. Ao ser questionado sobre o mensalão tucano ele diz não haver comparação. “O que representa o Eduardo Azeredo para a história da luta política nacional? Ele não tem o mesmo papel que José Genoino e José Dirceu que combateram a ditadura, que foram presos, torturados, exilados. Eles tiveram seus direitos desrespeitados antes e depois da democracia e isso é irreparável. O mesmo tribunal que não julgou os crimes cometidos pela ditadura contra o Genoino, agora julga o deputado e o condena”.
Oposição desaprendeu a ganhar na democraciaNa opinião de Moreira Leite, o processo do mensalão é a primeira derrota política do presidente Lula desde a eleição de 2002. “É preciso entender que as pessoas que foram vencidas em 2002, depois foram vencidas em 2006, derrotados em 2010 e mais uma vez derrotados em 2012 estão muito irritados. Os adversários estão procurando todas as maneiras para ganhar, porque eles desaprenderam a ganhar na democracia. Eles nem têm candidatos. Lançaram até o Joaquim Barbosa. A questão é que a burguesia não aceita mais fazer concessões. Não aceita mais os avanços conquistados, que são mínimos e já deveriam ter sido feitos há muito tempo”, avalia.
Sobre um certo silêncio dos aliados e do partido dos réus, que poderia ter enfrentado de forma mais aberta o embate político ele diz: “Muita gente não estava entendendo o que estava acontecendo. Demoraram muito para acordar e enfrentar o debate”.
A mídia expressa seu interesse de classeA luta pela democratização da comunicação é fundamental para a sociedade, afirma o jornalista, mas ele não vê esse avanço num curto prazo. “Se pelo menos conseguíssemos fazer valer o que já está na Constituição, já seria um bom avanço”, aponta, mas em seguida alerta: “De toda forma, não basta mexer na lei, tem que criar um público”.
Moreira Leite disse que a mídia expressa um interesse de classe, e por isso a outra classe precisa ter outra mídia para dar vazão a suas ideias, suas notícias, e cativar um público.
Isso porque para ele o Brasil está vivendo um momento de radicalização da política, no qual as ideias não podem mais ser disfarçadas.
Transmissão ao vivoO debate, que foi transmitido ao vivo pela TVT, teve uma audiência de mais de 2 mil internautas, que buscaram uma outra informação sobre o episódio político que marcou o ano de 2012.
Do site do Centro de Estudos Barão de Itararé: O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé inaugura o calendário de atividades de 2016 com debate sobre a mídia e a judicialização da política. O encontro, marcado para 21 de janeiro,...
Por Willian Novaes, da Geração Editorial: Os 8 mil exemplares da primeira edição do livro A Outra Historia do Mensalão já estão comprometidos com uma parte dos clientes da Geração Editorial. Mesmo em pleno Carnaval, a editora foi obrigada a aumentar...
Foto: Felipe Bianchi/Barão de ItararéDa revista Fórum: Organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Brasil de Fato, Carta Maior, Revista Fórum e a Rede Brasil Atual, ontem (17), aconteceu o debate “O Estado Democrático...
Foto: Felipe Bianchi/Barão de ItararéPor Felipe Bianchi, no sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé: A influência dos grandes veículos de comunicação no julgamento do mensalão foi pauta de debate na noite desta quinta-feira (13), na sede...
Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé: O julgamento do mensalão e a cobertura da mídia serão temas de debate no dia 13 de setembro, em São Paulo. O evento, agendado para às 19 horas no Centro de Estudos Barão de Itararé, contará...