Da redação da Rede Brasil Atual:O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, divulgou no final da tarde desta quarta-feira (17) sua carta de demissão após um mês de suspeitas de irregularidades levantadas por meio do noticiário. Rossi atribuiu a decisão a um “ultimato” da esposa e dos filhos para que deixasse o cargo a fim de se livrar da “saraivada de falsas acusações”.
Na primeira parte da carta, Rossi enumera o que considera avanços ao longo de um ano e meio de gestão, e elogia tanto Luiz Inácio Lula da Silva quanto Dilma Rousseff. “Mas, durante os últimos 30 das, tenho enfrentado diariamente uma saraivada de acusações falsas”, prossegue o ex-ministro, que lamenta que veículos de comunicação tenham ignorado todas as defesas que apresentou às denúncias publicadas.
A primeira suspeita de irregularidade foi levantada pela revista Veja em entrevista de Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Jucazinho, como é conhecido, afirmou haver fraudes dentro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estatal vinculada ao Ministério da Agricultura e que fora comandada por Rossi.
No último fim de semana, a publicação da editora Abril apostou em reportagem de capa sobre o enriquecimento pessoal do político do PMDB ligado ao agronegócio. A matéria ouvia antigos diretores da Conab e da Companhia Docas do Estado de São Paulo que afirmavam ter havido cobrança de propina nas gestões de Rossi. Na ocasião, o ainda ministro emitiu nota lamentando que a Veja não tivesse utilizado suas respostas, que encaminhara menos de 24 horas após o contato dos repórteres, e tivesse se valido de fontes descredenciadas a fornecer informações corretas.
A carta divulgada nesta quarta mantém o tom a respeito do noticiário. “O principal suspeito de má conduta no setor de licitações passou a ser o acusador de seus pares. Deram voz até a figuras abomináveis que minha cidade já relegou ao sítio dos derrotados e dos invejosos crônicos. Alguns deles não passariam por um simples exame de sanidade.”
Rossi considera que houve uma "campanha indecente" contra si, e afirma que tentou resistir em nome do respeito à coalizão de governo, mas não teve forças para tal. “Não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares”, pondera o ex-ministro, que termina seu comunicado em tom de ameaça. “Sei de onde partiu a campanha contra mim. Só um político brasileiro tem capacidade de pautar Veja e Folha e de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias.”
MudançasTrata-se da quarta saída de ministros nos oito meses de governo Dilma Rousseff, todas nos últimos 71 dias. A primeira demissão foi de Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil em 7 de junho em meio a denúncias de um aumento considerado suspeito de seu patrimônio pessoal nos anos que se seguiram à saída do Ministério da Fazenda, do qual foi titular durante o primeiro mandato de Lula.
Menos de um mês depois, Alfredo Nascimento saiu do Ministério dos Transportes após suspeita de apropriação de recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) por políticos do PR. O atrito provocado pela demissão durou até esta semana, quando o partido confirmou a saída da base de Dilma Rousseff.
Em 5 de agosto, Nelson Jobim saiu do Ministério da Defesa após uma série de declarações polêmicas que incluiu declaração de voto no tucano José Serra nas eleições de 2010, contra Dilma. A gota d'água foi uma entrevista a uma revista mensal na qual Jobim afirmou que a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é “muito fraquinha”, e a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, “nem sequer conhece Brasília”.
Além das demissões, houve uma troca de cadeiras entre ministros. Ideli deixou a Secretaria da Pesca, que passou a ser ocupada por Luiz Sérgio, antes responsável pela articulação política.
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