A solidão de Marta Suplicy
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A solidão de Marta Suplicy


Por Altamiro Borges

A senadora Marta Suplicy, ainda no PT, parece decidida a mudar de campo, bandeando-se para a oposição. Em entrevista a Eliane Cantanhêde – aquela da “massa cheirosa” tucana, que também se bandeou, da Folha para o Estadão –, a ex-prefeita da capital paulista e ex-ministra de Dilma Rousseff resolveu detonar o partido que a projetou no cenário político. Ela não poupou ninguém. Disse que o ministro Aloizio Mercadante é “um inimigo”, chamou o presidente petista, Rui Falcão, de “traidor”, criticou os rumos do governo federal e fez intrigas contra o próprio Lula. No meio da venenosa conversa, porém, ela deixou implícito o motivo de tanta mágoa e bronca. A sua incontrolável ambição política!

Num dos trechos da entrevista publicada neste domingo (11), Marta Suplicy confessa que chegou a pensar que seria a candidata à sucessão de Lula, em 2010. “Pensei sim. Quando era neófita, tinha clareza de que poderia ser presidente. Depois, isso caiu por terra, até que um dia o Lula, no avião dele, quando era presidente, me disse: ‘Minha sucessora vai ser uma mulher’. E pensei que ou seria eu, ou Marina ou Dilma. Logo vi aquela história de ‘mãe do PAC’ e que era a Dilma. Pensei: ‘O que faço?’ Bom, ou ficava contra e não fazia coisa nenhuma, ou ajudava. Mais uma vez, decidi ajudar. Sempre achei que ia acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei”.

O Estadão e os outros veículos que repercutiram a entrevista preferiram não dar destaque para esta confissão. Não se sabe se foi pela “origem” de classe da senadora ou em respeito à “loura de olho azul”! Mas o trecho confirma a solidão política de Marta Suplicy. Como prefeita da capital paulista, ela fez uma gestão ousada, progressista, mas não conseguiu se reeleger – muito em função da campanha demolidora da mesma mídia que agora a bajula. Como ministra da Cultura, ela até retomou um pouco do protagonismo do setor, que havia sido sucateado pela antecessora. Neste longo período, porém, a petista foi se isolando. Ela colocou o seu projeto político pessoal acima dos projetos coletivos, partidários.

Descartada em suas ambições – seja no sonho presidencial ou no desejo de disputar a prefeitura paulistana, em 2012, ou o governo estadual, em 2014 –, ela fez corpo mole. Ela pouco se envolveu na eleição de Fernando Haddad e quase não apareceu nas atividades de campanha de Dilma Rousseff e Alexandre Padilha, em outubro passado. Num gesto desestabilizador, Marta Suplicy chegou a pregar o “volta, Lula” – o que irritou o comando petista. Fragilizada, já deixou o Ministério da Cultura atirando. Com a indicação de Juca Ferreira, a ex-ministra cometeu a indelicadeza de atacá-lo com falsas insinuações – sempre diante dos holofotes excitados da mídia tucana.

Agora, Marta Suplicy afirma que sempre foi “alijada e cerceada” no PT. Não dá ainda para saber qual será o seu futuro político. Nem ela parece ter total consciência. A única verdade que afirma carregar é que “ou o PT muda ou acaba”. Numa falsa indignação, ela se baseia nas manchetes da mídia para chegar a esta conclusão: “Cada vez que abro um jornal fico estarrecida com os desmandos. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?”. Ela garante que ainda “não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto PSDB e DEM”. Ela também não confirma se disputará a prefeitura de São Paulo em 2016 contra Fernando Haddad.

Mas será que alguém ainda tem dúvida?

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