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A tempestade perfeita - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 05/07
Mercado externo praticamente fechado para novos créditos a países emergentes, economia da China em franca desaceleração, aperto do crédito doméstico pelos bancos privados, famílias endividadas, queda da produção industrial, fim do crescimento acelerado do emprego, inflação resistente e juros em alta.
Para os mais pessimistas, essa combinação se configura como uma "tempestade perfeita". Para os que cultivam uma certa dose de otimismo e creem no instinto de sobrevivência do ser humano, está aí a oportunidade para uma guinada do governo Dilma Rousseff. Hora de a presidente dar um "choque de confiança".
Hoje, o IBGE divulga a inflação de junho. A taxa acumulada em 12 meses vai ser ruim, sobe para a casa dos 6,8%. A expectativa do Banco Central, implícita no Relatório de Inflação, é de uma variação da ordem de 0,36% do IPCA no mês. Desde maio, portanto, a inflação mensal anualizada está próxima da meta de 4,5%. Isso ainda não é garantia de que os preços, agora, estão sob estrito controle. A desvalorização da taxa de câmbio prossegue e não há muita certeza sobre quão limitado é o repasse cambial para a inflação.
Ademais, houve um cerco a alguns preços administrados ou monitorados por contratos que em, algum momento, terão que ser liberados. Em 12 meses até maio, os preços livres aumentaram 8,11%. Os administrados, apenas 1,54%. Isso sem considerar os recentes adiamentos ou congelamentos de tarifas de ônibus e pedágio.
A queda de 2% da produção industrial em maio e os indicadores de atividade ainda preliminares, porém fracos, para junho levaram o mercado a precificar um aumento mais moderado da taxa Selic, sob o risco de a elevação demasiada dos juros colocar a economia de joelhos e gerar desemprego. Os que apostavam em uma elevação de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nos dias 9 e 10, reviram a decisão para 0,50 ponto percentual.
Diante da dimensão dos problemas econômicos que fazem lembrar os períodos de estagflação, fruto de mudanças na cena internacional e de esgotamento de um modelo de crescimento doméstico, o governo decidiu ceder na política fiscal.
Até o início da próxima semana, às vésperas da reunião do Copom, o Ministério da Fazenda vai expor os cortes no Orçamento deste ano para garantir o cumprimento da meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). De fortemente expansionista, e em direção contrária à do aperto monetário, a gestão do gasto público tende a ser, depois dos cortes, entre neutra e contracionista para a economia. Seria importante, também, o governo se pronunciar sobre a meta fiscal para 2014, assim como moderar na expansão do crédito dos bancos públicos e na emissão de dívida para financiar toda a sorte de despesas, programas e projetos.
Na reunião ministerial de segunda feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi enfático na necessidade de o governo apresentar uma meta crível para o superávit primário, lembrou que a taxa de câmbio é uma variável sob a qual o BC não tem controle e que seu impacto na inflação não é algo trivial, mas será menor do que foi em 2008-2009. Salientou que há dois meses a inflação anualizada está na meta. E disse, ainda, que a vantagem em relação à crise financeira de 2008 é que, agora, as empresas brasileiras não estão expostas a ativos tóxicos.
A desvantagem, que ele não mencionou, é que os indicadores da atividade econômica não sustentam a tão anunciada recuperação e o aumento do investimento, ansiosamente aguardado, não se confirma.
Analistas de mercado passaram a considerar, de uns dias para cá, o risco de uma contração do PIB no terceiro trimestre. Essa ainda não é uma previsão, mas um temor. As expectativas de crescimento para o ano estão sendo rebaixadas para a casa de 2% ou menos.
O governo deposita suas esperanças nas concessões de serviços públicos ao setor privado e nos leilões de petróleo, aguardados para outubro. O leilão do campo de Libra pode render de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, que vão ajudar no cumprimento da meta fiscal. E, somados às concessões, devem dar um impulso nos investimentos em logística no país.
Não se espera que as intervenções nos preços de pedágios e tarifas de ônibus, feitas em resposta às manifestações de protestos por todo o país, sejam um desestímulo para as empresas que vão explorar serviços públicos.
Para a política monetária, a ajuda de uma meta fiscal explícita e crível e a fragilidade da atividade econômica são questões que podem representar uma nova equação, que ajudará na ancoragem das expectativas inflacionárias, batalha que o Banco Central não tem conseguido vencer ao longo deste governo.
Ontem, em pronunciamento no Senado, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, reconheceu que "o foco principal da autoridade monetária deve ser a inflação".
Assim como o momento se apresenta como uma oportunidade para Dilma dar um choque de credibilidade no seu governo, para o Banco Central é, também, uma boa ocasião. Uma das escolhas disponíveis ao Comitê de Política Monetária é seguir com calma no seu trabalho de conduzir o ciclo de aumento da taxa de juros, incorporando a desaceleração econômica como um elemento adicional para domar as expectativas de inflação.
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