A terceirização e a mídia burguesa
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A terceirização e a mídia burguesa


Da coluna "Notas Vermelhas", no site Vermelho:

Nesta quarta-feira (22) o fato mais relevante do cenário nacional foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da terceirização sem limites, medida que afetará diretamente dezenas de milhões de brasileiros.

Uma notícia de tal magnitude deveria, teoricamente, ser manchete em todos os jornais, que dedicariam inúmeras páginas noticiando a votação e apresentando gráficos e estudos sobre os impactos econômicos e sociais. Teoricamente seriam feitas entrevistas não só com especialistas, mas com a população. Aliás, as famosas pesquisas de opinião do Ibope ou do Datafolha seriam inevitáveis para aferir o quanto de apoio tem uma medida de tal impacto na vida do povo. Isso tudo claro, na teoria, pois a dura realidade da luta de classes destrói quaisquer ingênuas ilusões em torno de mitos como “liberdade de imprensa” e “isenção jornalística”.

Terceirização – Quando os argumentos não bastam

Vejam as capas das edições dos jornalões nesta quinta-feira (23). Em nenhuma delas a aprovação da terceirização ampla mereceu a manchete, ocupadas pela exploração política do balanço da Petrobras, assunto importante, mas nem de longe com o impacto social do que foi aprovado pela Câmara. Nas chamadas sobre o assunto terceirização destaca-se apenas a “derrota do governo” (cujo líder orientou contra a votação).

As matérias sobre a aprovação do PL 4330 prendem-se ao factual, e mesmo assim com grande superficialidade. Isso porque a mídia não pretende alertar o povo sobre o que está em jogo, temendo uma reação. A terceirização ampla é tão indefensável, que por mais que se chame “especialistas” para provar por A + B que a terceirização será muito boa, a imensa maioria dos trabalhadores, mesmo aqueles que “detestam política”, sentem que estão para perder algo importante. 

O raciocínio é mais ou menos assim: “entre ficar desempregado e trabalhar terceirizado, o melhor é trabalhar terceirizado, mas entre trabalhar com carteira assinada e trabalhar terceirizado só um louco prefere ser terceirizado”. De fato, pergunte a qualquer dos defensores da terceirização se abrem mão da carteira assinada – caso tenham – para se tornarem terceirizados. A precarização do trabalho é óbvia, a perda de direitos é evidente e a demissão de trabalhadores com carteira assinada para serem substituídos por terceirizados ganhando menos será inevitável. Isso, nenhum “especialista” consegue esconder do povo.

Terceirização - Os especialistas convenientes

O jornal O Globo, que foi contra a criação do 13º salário, hoje é a favor da terceirização. Na edição desta quinta-feira (23), a cobertura modesta sobre a votação do PL 4330 (somente uma página) tem como cereja do bolo a opinião de Gesner Oliveira, apresentado apenas como “ex-presidente” do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Para Gesner, colocar limites à terceirização “é ruim para o país e os trabalhadores”. 

O Globo optou por não ouvir a opinião de um trabalhador, mas sim do proprietário de uma consultoria (GO - Gesner Oliveira - Associados) especializada em assessorar grandes empresas, qualificação que o jornal julgou irrelevante informar aos leitores. Mas sem dúvida, Gesner é um sujeito moderno e progressista, vejam como ele responde à pergunta que liga terceirização à precarização: 

“Não vejo nexo causal. Isso independe do debate da terceirização. Qualquer empresa tem que estar atenta à sua cadeia de suprimentos, que não use trabalho escravo, informal”. Vejam que avançado. Ele é contra o trabalho escravo. E confia que a empresa, sem normas que a obriguem a tal, estará “atenta” aos direitos dos seus trabalhadores... Esta é a nossa mídia hegemônica. Mas se chamar de mídia burguesa ela também atende.

O Estado de S. Paulo chama Stédile de “fora da lei”

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo desta quinta-feira (23) a pretexto de atacar o PT, condena o ato do governador de Minas, Fernando Pimentel, de condecorar o líder do MST, João Pedro Stédile, com a Medalha da Inconfidência. O jornal da família Mesquita diz que Stédile é “um notório fora da lei”. Stédile é uma liderança política de uma organização social reconhecida internacionalmente. Não é foragido, nem tão pouco é condenado por qualquer crime. Com esta condição viaja livremente pelo Brasil e pelo exterior. 

Recentemente Stédile, que é católico (como o Estadão, aliás) foi recebido pelo papa. No entanto, o jornal assaca contra sua honra com a tranquilidade de uma entidade acima do bem e do mal. Tal fato revela a soberba e a truculência como marcas de uma nova postura que a direita vem assumindo no Brasil, aproximando-se do fascismo. Isso é fruto de uma ofensiva política que tenta acuar a esquerda, mas também é mostra da profunda confiança do consórcio oposicionista na aliança tácita com parte do poder judiciário, o que garantiria ao braço midiático direitista salvo conduto para toda sorte de abusos e ao seu braço parlamentar anteparo para projetos golpistas. 

Mas o que O Estado de S. Paulo e os seus parceiros precisam entender é que, apesar dos desejos ocultos, a democracia ainda vigora no Brasil. A ditadura militar, que o Estadão tanto apoiou e que permitia chamar opositores políticos de “terroristas”, além de condená-los à tortura e à morte, foi derrotada. Lembrá-los disto é travar sempre a luta de ideias de forma incessante, nas ruas, nas redes, nas academias, nas urnas e, se necessário, mesmo nos tribunais, onde a verdade de vez em quando dá as caras.




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