, ainda acha que está com a bola toda. No passado, ela apoiou o golpe de 1964, aliou-se ao setor linha dura dos generais e ganhou muita grana - em negócios obscuros até hoje inexplicados. Nos estertores da ditadura, ela deu uma guinada, por razões oportunistas e mercadológicas, e jogou papel na luta pela redemocratização. Ela nunca fez autocrítica do seu apoio à "ditabranda", como batizou o regime militar que matou e torturou centenas de brasileiros, mas passou a ser vista como um jornal plural e neutro. Sua tiragem cresceu, atingindo mais de um milhão de exemplares. Sua linha editorial falsamente eclética iludiu muita gente.
Com essa aura, o jornal se opôs aos avanços trabalhistas e sociais na Constituinte de 1988 e virou o porta-voz do tsunami neoliberal nos governos Collor e FHC. A partir da vitória de Lula, em 2002, a Folha assumiu de vez seu papel de partido da direita. A famiglia Frias nunca escondeu o seu ódio de classe ao líder operário que chegou ao Palácio do Planalto. Na sua seletividade udenista, o jornal ajudou a criar no imaginário popular a ideia de que o PT inventou a corrupção no Brasil. A descarada manipulação, porém, não impediu a reeleição de Lula e nem as duas vitórias seguidas de Dilma.
Agora, com sua tiragem na casa dos 300 mil exemplares, com a demissão de centenas de jornalistas e com a sua aura de jornal plural totalmente desacreditada, a Folha assume novamente o seu golpismo - como nos idos dos anos 1960. O editorial deste domingo (13) é uma prova cabal da arrogância e da visão autoritária da famiglia Frias. Com seu faro oportunista, o jornal percebe a situação delicada do governo Dilma e estampa na capa, numa cena pouco comum, um texto terrorista. Intitulado "Última chance", o editorial mais parece um ultimato a uma presidenta eleita pela maioria dos brasileiros.
A chantagem é evidente: ou a presidenta recua, aplica o receituário neoliberal derrotado nas urnas em outubro passado e trai seus eleitores, ou será derrubada! "Dilma Rousseff está por um fio", decreta o diário da famiglia Frias, que apresenta a sua lista de remédios amargos e "obrigatórios":
"Medidas extremas precisam ser tomadas... Cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes... A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência... Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais. As circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação... Devem-se providenciar mecanismos legais que resultem em efetivo controle das despesas –incluindo salários para o funcionalismo... Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa".
Haja arrogância! Com mais esta cartada golpista, que relembra os piores momentos da sua história, a Folha - que atravessa gravíssima em crise e caminha para a falência - testa a sua "última chance"!
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