A vida encantadora das ruas - SÉRGIO MAGALHÃES
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A vida encantadora das ruas - SÉRGIO MAGALHÃES


O GLOBO - 20/07

?Eu amo a rua?, diz João do Rio, em crônica que inaugura seu livro famoso; e acrescenta: ?Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse que esse amor é partilhado por todos vós.? Amor que ?une, nivela e agremia?, o ?único que resiste às idades e às épocas?.

?A rua do alinhado das fachadas é um fator de vida das cidades? ? ?é a mais niveladora das obras humanas?, reitera. ?A rua faz as celebridades e as revoltas.?

No início do século XX, quando essa crônica foi escrita, os pensadores do urbanismo ainda não haviam condenado a ?rua corredor?, aquela ?do alinhado das fachadas? de João do Rio. A condenação se deu pouco depois, enunciada pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier, e disseminou-se mundialmente como febre avassaladora. Na cidade funcional, tudo seria autônomo: morar, trabalhar, recrear, circular; cada função em seu lugar.

O lugar da circulação não seria ?povoado?, mas preenchido por veículos e pela velocidade. Tal modelo foi algoz das ruas preexistentes: não acabou com elas, mas as transformou em lugares inóspitos ao convívio, barulhentos, desinteressantes. Os edifícios foram dispensados de manter relação de escala com a rua; independentes do lugar e da paisagem, atenderam muito bem ao lucro imobiliário.

Ainda são frutos desse modelo funcionalista os bairros homogêneos, os condomínios isolados, os shopping centers ? e, logo, as autopistas, os elevados e a ausência de calçadas. Também os Centros sem moradia, vazios à noite e aos fins de semana. (Lembremos que, no Rio, por trinta anos foi proibido construir habitação na área central ? em benefício dos novos bairros.)

Em especial, o isolamento entre funções urbanas exige o uso de condução para deslocamentos banais e leva ao aumento no tempo de viagem casa-trabalho, alcançando o impasse que hoje assombra nossas cidades.

No entanto, quando viaja ao exterior, em geral, o brasileiro busca cidades com espaços públicos bem estruturados, onde se caminha por ruas-corredores de calçadas bem mantidas, de usos diversificados. A escala urbana adequada, até em cidades de arranha-céus, como Nova York, garante ruas nas quais o convívio é realçado por inúmeras atividades ao nível do passante. Cidades como Paris ou Londres mantêm edifícios corporativos de alto nível empresarial integrados a áreas residenciais, comerciais e de serviços de pequena e média escala.

Quando as velhas ruas das cidades brasileiras se enchem de jovens a exigir mudanças, retomam momentaneamente a antiga vitalidade ? e reivindicam uma qualidade urbana que sabemos ser possível; um outro paradigma urbanístico é desejado. A cidade da segregação, do isolamento, da falta de serviços, da ?imobilidade? de custo proibitivo e da circulação sem vida ? esta cidade não corresponde ao sonho contemporâneo.

Paradoxalmente, o desejo da cidade de hoje está cantado há cem anos por João do Rio, com ruas que unem, nivelam e agremiam em um amor compartilhado por todos. Ruas que têm alma.




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