ACEITAR NOSSO CABELO, UM ATO POLÍTICO
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ACEITAR NOSSO CABELO, UM ATO POLÍTICO


Eu não sou negra, e, como nasci na Argentina, onde há poucos negros e miscigenação menor ainda, não tenho ascendência negra. Gostaria de ser e ter. Gostaria de ter a pele mais escura, cor de chocolate, essa cor divina. Claro, gostaria de ser negra sem perder meus privilégios brancos.
Outro dia algum troll anônimo deixou um comentário dizendo que meu cabelo era “ruim, cabelo de negro”, se bem que acho que ele usou palavras menos educadas. Primeiro que não entendo como um cabelo pode ser ruim. E recomendo este vídeo eloquente, “O que o cabelo fez pra ser chamado de ruim?”, que em poucos minutos mostra inúmeros exemplos do nosso racismo tão cordial. Segundo que meu cabelo é muito parecido com o do meu finado e amado pai, que era loiro (bom, já era grisalho quando eu nasci): encaracolado às vezes, com muitos fios fora do lugar, um frizz (é assim que se chama?) permanente. E, acredite se quiser, tem um monte de gente na internet que me critica por causa do meu cabelo. Pelo jeito, meu cabelo é ruim, é péssimo, e eu que não tinha sido avisada. E pensar que eu sempre gostei dele!
Nessas horas me pego pensando nas Olimpíadas, quando a fabulosa Gabby Douglas, primeira ginasta negra na história a ganhar o torneio individual por aparelhos, foi malhada por seu cabelo. Imagina, a menina voa, flexiona seu corpo de formas inimagináveis, e o pessoal se preocupa com o que ela tem em cima da cabeça! De lá pra cá, em todas as fotos que vi dela, ela está com o cabelo “bom” (liso, longo), dentro do padrão aceitável. Ela foi forçada a entrar no padrão. Não teve escolha.
No ano que passei em Detroit, cidade em que 80% da população é negra, me exasperei com o padrão. Todas as negras tinham cabelo alisado. Todos os negros tinham cabelo raspado, quase careca (muitas vezes acompanhado de um bigodinho). Black power? Isso é coisa dos anos 60 e 70!
É incrível a importância que a gente dá pra cabelo. Como diz a escritora Maya Angelou em Bad Hair, o documentário que Chris Rock fez pra responder à pergunta de sua filhinha de seis anos, Lola (“Por que meu cabelo não é loiro e liso?”), o cabelo é a glória de uma mulher. O assunto é tão sério que muitas mulheres que perdem o cabelo contemplam o suicídio. Cabelo longo está associado à femininidade, assim como cabelo ruim está associado à negritude. São construções sociais tão repetidas que a gente passa a ver essas associações como naturais.
Angelou e outras escritoras americanas negras tão brilhantes como ela (Alice Walker, Toni Morrison) sempre incluem em seus romances a descoberta da menina negra de que seu cabelo não é aceito como é. Vem o desapontamento, a dor, a inveja, a revolta. Algumas personagens incorporam mais este dano a sua autoestima. Outras decapitam suas bonecas loiras de cabelos lisos e olhos azuis.
E é de revoltar. O que fazer se você é criança ou adolescente na época em que quase toda mulher queria ter o cabelo da Farrah Fawcett? Aqueles fios esvoaçantes e loiros que balançavam sempre que uma Pantera tirava o capacete... Na década de 90, o negócio era copiar o penteado da Jennifer Aniston. Só que tem um montão de gente que não tem cabelo loiro e liso. O que fazer quando a sociedade te lembra todo dia que seu cabelo não presta? Que ele não só é considerado feio e sujo, como também você, por ter esse cabelo, é considerada desleixada, menos capaz, mais rebelde, mais indomável? Que ter cabelo fora do padrão pode te custar o emprego?
Hoje meninas de dois anos já começam a ser submetidas à ditadura da beleza do cabelo liso. Tem gente jogando coisas que queimam na cabeça de bebês, fazendo chapinha em criaturas que ainda mal têm cabelo. Elas aprendem desde muito cedo que estão fora do padrão. E que pra se aproximar dele é preciso muito sacrifício, tempo e dinheiro.
Vamos ver uma breve história de anúncios de produtos direcionados ao cabelo de negras americanas. Ok, este daqui é só pra situar. Não é sobre cabelo necessariamente, se bem que até poucas décadas atrás era comum lavar o cabelo com sabão. Este anúncio é de sabão e data de 1860 e alguma coisa. Um menino pergunta a uma menina negra, “Por que sua mãe não te lava com o sabão tal?”. Naquela época não havia cremes para clarear a pele. Hoje existem, e vendem pra caramba na Índia, por exemplo.
Este é de 1963, tempo mais conectado com o atraso dos anos 50 que com as revoluções que viriam no final da década. "Ele costumava me evitar, agora somos namorados", explica a mulher que usou creme para embranquecer a pele.
Houve uma época, a tal do Black Power, em que tudo que era afro era para ser celebrado. Tinha a ver com identidade negra, com orgulho de suas raízes. Tal mãe, tal filha, diz o título em alguma linguagem africana.
Este anúncio que fala de “domador” ("Você conhece o domador? Ela conhece") já pertence ao backlash dos anos 80, quando os conservadores decidiram brecar conquistas que grupos historicamente oprimidos vinham conseguindo.
E este é dos anos 90. Cabelo mais liso, impossível. A modelo parece uma Julia Roberts negra!
Então, o nosso tempo está mais pra revolução dos anos 60/70 ou pro retrocesso dos anos 80/90? Minha opinião é que ainda vivemos no backlash. E o fato das negras americanas gastarem os tubos para alisarem os fios ou comprar cabelo postiço (da Índia!) é uma boa amostra deste retrocesso.
Mas este documentário de 5 minutos da (belíssima) cineasta britânica/nigeriana Zina Saro-Wiwa, que vive no Brooklyn, afirma que um monte de negras americanas estão num momento de transição -– do cabelo danificado pela química para a volta do cabelo natural. Será mesmo? Seria ótimo se um movimento desses se espalhasse. Além de economizar uma nota (o mercado para cabelo negro está na cifra de 9 bilhões de dólares por ano), as negras americanas teriam mais opções, mais liberdade.
O que Saro-Wiwa estranha é que o movimento não se vê como político, e sim como uma atitude individual. Acho isso compreensível: a maior parte das pessoas não associa o conceito de cabelo ruim a racismo. Veem a ditadura do cabelo liso como uma preferência individual, não uma construção social. Do mesmo jeito, essas mulheres negras que estão fazendo a transição para o cabelo natural veem sua ação como um ato pessoal. Mas o pessoal é político.
Aceitar a si mesma, ter orgulho de suas características, é um ato político, assim como é um ato político a doutrinação de que um tipo de cabelo é ruim. Hoje, 20 de novembro, é dia da Consciência Negra, e certamente existem problemas muito maiores que cabelo (veja esta blogagem coletiva para ler vários outros temas). Mas cabelo é fundamental, porque mexe com a nossa autoestima. E num país lindamente miscigenado como o nosso (eu sou naturalizada, então me considero brasileira), o que mais temos é cabelo fora do padrão.
Em vez de nos adequarmos ao padrão, que tal mudá-lo? Pra começar, aposente a expressão cabelo ruim. Pare de usá-la, e quando ouvi-la de outra pessoa, pergunte: “O que o cabelo fez pra ser ruim?”. Aprenda a ver e elogiar beleza em todas as cores, idades, formas, penteados. Treine seu olhar para pensar fora da caixinha. E liberte seu cabelo. Assuma que esta libertação é o que é -– um ato político. Com muito orgulho.




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