Ações para um país que agride idoso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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Ações para um país que agride idoso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 23/07
O papa Francisco, antes de embarcar no voo que o traria ao Brasil, se referiu a temas preocupantes que caracterizam a sociedade contemporânea. Um deles: a cultura de rejeição às pessoas mais velhas. As palavras do pontífice vieram ao encontro de levantamento feito pela Central Judicial do Idoso (CJI), do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
Indignação é o termo mais brando que os números causam nas consciências civilizadas da capital da República. Entre 2011 e 2012, a quantidade de notificações saltou de 487 para 2.089. As cifras representam aumento de 328% no registro de ocorrências. Além de agressões físicas, outros abusos sobressaem. Entre eles, ameaças, negligência e maus-tratos.

A comparação de dados mostra tendência preocupante. Cresce, ano a ano, o volume de barbáries contra homens e mulheres que ultrapassaram seis décadas de vida. Em 2008, por exemplo, houve 151 registros; em 2009, 212; em 2010, 189. Mantida a inclinação, 2013 acena com triste recorde. Sequestro relâmpago de idoso ocorrido ontem em Planaltina simboliza a banalização de ataques a cidadãos avançados nos anos.

Ocorre, porém, que o inimigo não se encontra necessariamente nas ruas. Em geral, mora em casa. Filhos, netos e demais parentes encabeçam a lista dos algozes, cuja soma passa de 80% do total. Seguem-nos, entre outros, vizinhos e cuidadores. Vive-se, assim, o pior dos mundos - a desproteção generalizada. Mulheres representam o maior número de vítimas - 63,2% dos casos denunciados entre 2008 e 2012.

Não se pode falar em uma causa do mal que se alastra pela sociedade. Há várias. Uma delas tem a ver com a violência crescente, que ceifa mais vidas do que guerras sangrentas. Crianças, jovens ou adultos são o alvo indiscriminado de furtos, roubos, sequestros, tiros, facadas, atropelamentos. Outra, com a fragilidade física. Pessoa com menos força é vítima preferível de agressores.

A cultura talvez mereça mais destaque no contexto. País de maioria jovem que cultua a juventude, o Brasil não aprendeu lições dos hispano-americanos, asiáticos e africanos. A longevidade para o mundo oriental é o maior valor a ser conquistado. Quanto mais se vive, mais sabedoria se acumula. O mesmo ocorre com o continente negro. Ali, a morte de um idoso é comparada ao incêndio de uma biblioteca. Crianças de nações vizinhas chamam os idosos estranhos de vovozinha e vovozinho.

Mudança de comportamento é tarefa árdua, mas se impõe. Duas linhas de ação devem ser acionadas. De um lado, a repressão. Agressão exige punição exemplar. Leis existem. Basta aplicá-las. De outro, a educação. Estado, escolas, clubes, igrejas, meios de comunicação têm o compromisso intransferível de atuar efetivamente para que a população seja pautada pela civilização, não pela barbárie.




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