ADMIRAR AS MULHERES É ADMIRAR A NÓS MESMAS
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ADMIRAR AS MULHERES É ADMIRAR A NÓS MESMAS


Li um post muito interessante esses dias (tá, já faz um tempinho) num blog americano que visito cada vez menos, mas ainda dou uma olhadinha de vez em quando. Este post, de uma moça que se identifica como Sweet Machine, me pareceu provocador e me fez pensar. Ela diz que, apesar de morar junto com um homem (e americano é um bicho esquisito: enquanto não tem uma aliança no dedo, o casal é de namorados. Pode estar vivendo junto faz décadas, que sem aliança não se considera casado), se vê como queer. Pra quem não conhece, queer foi palavrão até pouco tempo. Era como se fosse fag, bichona, viado, coisa assim - um insulto pra ofender os gays. Mas aí a comunidade homossexual, inteligente que só ela, apropriou o termo, e adotou-o com orgulho. De insulto o transformou em identificador. Hoje toda faculdade que se preza tem matérias dedicadas a Queer Studies. Não tenho certeza como isso se chama no Brasil: Estudos de Gênero (que inclui feminismo)? Enfim, hoje o termo queer engloba basicamente todo mundo que não está dentro do padrão dominante da heterossexualidade: gays, lésbicas, bissexuais etc. Então essa moça se identifica como queer. Embora viva com um homem, ela já teve relacionamentos com mulheres e sente-se atraída por elas. Ela é bi, mas também é monogâmica.
Bom, a primeira coisa que me chamou a atenção é o número imenso de leitoras que, nos 170 comentários que o post gerou, se identifica como queer. E isso que quase todas estão num relacionamento monogâmico com um homem! Uma das comentaristas, lésbica assumida, até se revoltou: “se vocês namoram homens, vocês não são queer”, disse ela. “Vocês são mulheres heterossexuais pegando uma identidade que não é a sua, mas que é a minha, que é a minha bandeira de luta. Quando vocês saem de mãos dadas com os seus homens, a sociedade não condena vocês como condena a mim e a minha namorada. Quando vou a paradas gays, mal consigo andar no meio de tantos carrinhos de bebê de casais hétero que vão apoiar uma causa que não é a deles”. A moça que reclama tem razão num ponto. É uma estratégia do padrão dominante se apropriar de bandeiras de luta de minorias para, assim, esvaziar seu conteúdo político. Por outro lado, a comunidade GLBT precisa de simpatizantes heteros. Toda causa precisa de simpatizantes, ué. E há um tantinho de preconceito contra bissexuais no seu comentário, lógico. Muitos gays insistem que bissexuais “se assumam”, como se fosse mesmo preciso optar.
Mas o mais legal do post da Sweet Machine, a meu ver, não é sobre tudo isso. É sobre aceitação do corpo. Ela conta que sempre sentiu uma ansiedade maior para se render ao sistema e ser magra quando namora um homem. Já falei um tiquinho do male gaze, do olhar masculino, que é um olhar de superioridade, de quem no mundo em que vivemos têm autoridade pra avaliar e desejar as mulheres. A teórica Laura Mulvey afirma que toda a arte cinematográfica se sustenta em cima deste olhar masculino. Nós, mulheres, fomos ensinadas desde o berço a acatar este olhar masculino. Temos que ser recatadas e geralmente olhar pra baixo ao receber o olhar do predador. É assim que as coisas são, você sabe. Jamais a gente vai lançar esse olhar predador, a não ser que queiramos receber todos os epítetos que vêm junto (galinha, piranha etc). Homem é pegador, mulher é vadia (em inglês é mais sonoro: he's a stud, she's a slut). Outra coisa que aprendemos é que mulheres não são amigas, mas concorrentes. Mulher não é de confiança, a gente ouve sempre. E, nesse clima competitivo em que vivemos, somos condicionadas a olhar pra outras mulheres para julgá-las. Pra julgar a nós mesmas, lógico, mas também pra saber quem são nossas inimigas e concorrentes.
E o que a Sweet Machine diz deturpa toda essa lógica perversa. Porque, quando ela namora mulheres, ela não olha pra elas pra avaliá-las. Ela olha para desejá-las. Ela pensa “Que linda!”, não “Que baranguda!”. E, ao pensar assim, ela começa a refletir se o desprezo que sente pelo seu próprio corpo não está errado. Afinal, se ela acha bonitos corpos tão parecidos com o seu, como pode continuar achando o seu horrível? Ela teve que aprender a amar e aceitar seu próprio corpo, mas, como bi, não teve que aprender a amar o corpo feminino.
Eu nunca tive isso de “sexualidade fluida”. Nunca me senti atraída por alguma mulher. E talvez até por isso seja mais difícil pra que eu aceite meu próprio corpo. Mas aqui vai uma proposta para um novo tipo de mentalidade: quando a gente olhar pra uma mulher, nada de pensar “Putz, essa bunda é grande demais. Olha aqueles seios caídos! Ugh! Ela até seria bonitinha se pesasse vinte quilos a menos” etc etc. Não dá pra olhar com admiração, não? Algo como “Apesar d'ela não se parecer com a Gisele ou com a Carolina Dieckmann, uau, ela é linda”? Quem sabe um pensamento desses contaminasse a gente na frente de um espelho também.




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